A tônica das falas na quinta mesa da 23ª Conferência Nacional foram sobre a tarefa de derrotar o bolsonarismo e a formulação de um projeto de reconstrução do país

A quinta mesa da 23ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada na tarde deste sábado (4), recebeu a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann; o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e ex-candidato à presidência da República, Guilherme Boulos (PSOL); e o deputado federal Orlando Silva (PC do B); para debater o tema Brasil sem desigualdades.

A tônica das falas na mesa foi a discussão sobre a tarefa de derrotar o bolsonarismo e a formulação de um projeto de reconstrução do país que de fato contemple os direitos e anseios dos trabalhadores e da população brasileira em geral.

Um cenário de terra arrasada e a tarefa que se impõe

“Estamos vivendo a maior crise dessa geração. Uma crise sanitária, em primeiro lugar. Não foram mortes apenas por doença. Foram mortes por descaso. Por irresponsabilidade criminosa de um governo que negou a vacina, que boicotou as medidas de isolamento, que desprezou e teve indiferença com a vida das pessoas. E vivemos a tragédia da pandemia junto com a tragédia de uma crise econômica sem precedentes. Voltamos ao mapa da fome. Chegamos aos 15 milhões de desempregados. Desmontaram a nossa capacidade de investimento público. O Brasil tem o pior nível de investimento dos últimos 50 anos. Como se não bastasse, temos também um desastre político”, contextualizou Guilherme Boulos.

“Em um cenário como esse, temos duas grandes tarefas. A primeira, a mais óbvia, é derrotar Bolsonaro. Não é simplesmente derrotar em 2022. Não podemos esperar, sobretudo, sabendo do nível de instabilidade institucional, que ele anuncia um golpe com um ano e meio de antecedência (…) Vamos precisar de muita unidade política. Nosso campo precisa buscar convergências. Mas, essa tarefa de resistência, de combate, ela não basta. Estamos em um momento que, além de derrotar Bolsonaro, precisamos pautar um projeto para reconstruir o Brasil, que hoje é terra arrasada. Olha os dados em qualquer área. E com um modelo econômico que fracassou. Desde 2016, vendem a panaceia de que precisava de teto de gastos. Fizeram. Precisava de reforma trabalhista. Fizeram. Precisava de reforma da Previdência. Fizeram. E olha como nós estamos. Estamos mais pobres, com mais desemprego e mais endividados”, acrescentou o coordenador nacional do MTST.

De acordo com Boulos, para reconstruir o país será necessário combater privilégios e fazer reformas estruturais. “Para avançar vamos ter que colocar o dedo na ferida (…) Vamos ter de tocar em interesses e enfrentar privilégios para ter espaço para avançar nos direitos, para fazer um plano ousado de obras públicas em infraestrutura, moradia, saneamento, transporte, que ao mesmo tempo melhore os serviços públicos e gere empregos. Isso vai exigir uma aliança de um eventual governo do campo progressista com os movimentos sociais, sindical e setores populares (…) E o papel dos bancos públicos, Caixa e BB, para um projeto dessa natureza é enorme (…) Os bancos públicos tem o papel de reduzir os juros na ponta, de fomento e gestão de programas sociais. Vai ser essencial recuperar a capacidade do Estado de ser indutor da economia e do desenvolvimento.”

Programa, política e luta

Por sua vez, o deputado federal Orlando Silva defendeu que existem três eixos para organizar o debate da superação da desigualdade: a construção de um programa; a construção da política; e a construção da luta. “A construção do programa é o que vai orientar a nossa atuação. É preciso que façamos um pacto político em torno de reformas estruturais (…) Reformas estruturais são, por exemplo, a reforma urbana, para garantir direitos essenciais como moradia, saneamento, água. Estes temas precisam ter centralidade em um programa de mudança do Brasil. A reforma tributária também é necessária. O que o Congresso está votando agora é nada. Temos o desafio de fazer uma reforma tributária que enfrente a desigualdade no nosso país. Chamo a atenção também para uma reforma política. Temos hoje a menor representação dos trabalhadores da história do Brasil. Nós temos que ter uma meta de eleição de representantes dos trabalhadores. A reforma política pode e deve dar instrumentos para avançar nessa representação. E, por fim, uma agenda de reformas estruturais vetorizada por uma estratégia de desenvolvimento econômico e também humano”, enfatizou o deputado.

“Construir o caminho político passa por construir uma frente ampla com base no programa, numa agenda determinada, e hoje o foco desta agenda é derrotar Bolsonaro (…) Vai exigir ter paciência, conversar com mais gente, e trazer até gente que não concorda conosco. (…) É por isso que temos de juntar luta política e luta social. Quero concluir dizendo isso. A construção de um caminho político, baseado em um programa, não pode prescindir de luta nas ruas e nas redes”, acrescentou Orlando Silva.

Construir a organização popular Por fim, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman, destacou que a formação do Brasil foi feita com base na desigualdade. “Nosso país tem mais de três séculos de escravidão. Um país que foi formado e desenvolvido sobre o sangue, suor e lágrimas do povo negro. Sobre a extração das nossas riquezas. Esse desenvolvimento nunca levou em consideração a maioria do povo brasileiro. A desigualdade sempre foi a marca do nosso desenvolvimento histórico. Por isso é tão difícil combatê-la. Tivemos poucos momentos em que buscamos um projeto de país que fosse diferenciado, em que o Brasil pudesse ter sua soberania. Começamos por Getúlio Vargas, que teve uma visão do desenvolvimento, que fez a CLT. Depois tivemos Juscelino, Jango, mas a maioria da nossa história foi sem democracia e com exclusão do povo. Depois tivermos Lula, o primeiro operário, trabalhador, na presidência. Foi quando o povo foi incluído no orçamento e teve centralidade nas políticas públicas”, pontuou a presidenta do PT.

“E nem isso, um governo que trouxe situações para amenizar o sofrimento do povo, foi suportado pelas elites desse país. O golpe contra a Dilma não foi outra coisa que não tentar resgatar o poder sem passar pelo processo eleitoral. E, não satisfeitos, teve toda a perseguição contra o Lula, a criminalização do PT, a criminalização da política como instrumento da democracia e de desenvolvimento. Isso tudo resultou em Bolsonaro”, reforçou Gleisi.

A presidenta do PT encerrou sua fala enfatizando a necessidade de organização e conscientização do povo, conclamando também para a participação no Grito dos Excluídos, em 7 de Setembro.

“A principal meta que nós temos, mais que um pacto momentâneo na questão da democracia, do campo democrático, do qual Bolsonaro está fora e nós estamos dentro, é termos consciência de que cabe a nós a organização popular. O povo tem de ser partícipe nessa construção para que as pessoas saibam que é uma decisão política realmente mudar. Esse processo não é curto e fácil. É um processo longo, estrutural, que nós temos de fazer (…) Cabe a nós aproveitar essa oportunidade, nos unirmos, para que a gente vença essa tragédia e, a partir daí, organizar o povo e conscientizar. É o método Paulo Freire na veia. Não tem outro meio para fazermos uma mudança estrutural no país. E não vamos deixar de participar do 7 de setembro em cada canto desse país, junto com o Grito dos Excluídos”, concluiu.

Fonte: Contraf-CUT