Foto: Dino Santos
Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, presidente nacional da CUT fala sobre a paralisação em defesa da aposentadoria e contra terceirização
Paulo Henrique Amorim: Eu converso com o Vagner Freitas, presidente da CUT. Como será essa Greve Geral que as centrais sindicais aprovaram?
Vagner Freitas: Eu espero que seja uma grande resposta a esse processo de retirada de direitos que o governo golpista quer fazer com os trabalhadores. Ontem foi um dia histórico, em que nós conseguimos a unidade de todas as centrais sindicais pra fazer a Greve Geral. Será no dia 28 de abril. A ideia é fazer um dia de Greve, de paralisação nacional, em todos os setores, pra obrigar o governo a retirar as propostas – tanto a Reforma da Previdência, quanto a Reforma Trabalhista, quanto a terceirização. E nenhum direito a menos!
É importante que os trabalhadores ouvindo a gente sigam a nossa orientação: não vão trabalhar no dia 28 de abril, porque essa é a única arma que nós temos para impedir que nossos direitos sejam retirados.
PHA: Quando foi essa decisão e como vocês conseguiram a adesão, por exemplo, da Força Sindical do Paulinho da Força – também chamado de Pauzinho do Dantas – que, aparentemente, é um quadro do Governo Temer?
Vagner: Foi ontem a decisão, numa reunião que fizemos na sede da UGT [União Geral dos Trabalhadores] aqui em São Paulo. A Força Sindical estará presente, chamará de “Greve Nacional”. E o Juruna e o Serginho [secretário-geral e primeiro-secretário da Força Sindical] estavam presentes na reunião, não colocaram objeção, tiveram concordância e os sindicatos da Força Sindical estão convocados pra Greve.
Então eu acho, provavelmente, como o Paulinho é presidente da Central, ele deve estar de acordo também, pois os seus representantes na reunião concordaram com as demais sete centrais.
PHA: A convocação de uma Greve Geral é uma medida – você sabe disso melhor do que eu, como líder sindical – é uma medida muito forte, muito radical, que corre um sério risco de ser uma Greve Geral parcial, ou que não tenho um significado político expressivo. Vocês não temem o risco de a Greve Geral não dar certo?
Vagner: Parafraseando o Vanderlei Luxemburgo, “o medo de perder tira a vontade de ganhar”. Nosso filósofo contemporâneo…
É óbvio que a Greve Geral é arriscada. Mas o tamanho da violência praticada contra os trabalhadores não dá para as centrais e para os movimentos sociais outra alternativa. O Congresso é absolutamente dominado pelo golpismo e pelo empresariado. O Governo é golpista e não tem credibilidade. O Golpe foi dado para tirar direitos dos trabalhadores.
As manifestações de rua, você sabe, somos nós que estamos nas ruas. Colocamos no dia 15 uma manifestação com um milhão e meio de pessoas nas ruas. E agora, no dia 31, teremos uma grande quantidade também. E pode ter certeza que na Greve Geral nós teremos também grande adesão.
A direita tentou fazer uma manifestação e foi um fiasco nacional, no último domingo. Então, nós temos as ruas.
Os deputados e senadores precisam entender que as propostas do golpista Temer podem não ter nenhum impacto pro Temer, pois ele tem prazo de validade – em 2018 ele volta pra casa. Agora, senadores e deputados que querem se eleger precisam do voto dos trabalhadores.
E a Greve Geral vai servir pra isso, para o senador e deputado perceber que, se ele votar os projetos de retirada de direitos, os trabalhadores não vão votar nele ou nela, e não será deputado eleito ou senador eleito em 2018.
É um instrumento que as centrais entenderam de utilizar por conta de os outros instrumentos que estamos utilizando não darem resultado – diálogo com o governo não deve se ter, até porque é um governo ilegítimo, e o governo veio para retirar os direitos. Então, a única alternativa que nos sobrou é a greve. Nós poderíamos chamar de Paralisação Nacional, ou Dia Nacional de Luta, como fizemos outras vezes, mas estamos chamando de Greve Geral que é pra demonstrar para os trabalhadores que eles têm de participar, que nós estamos fazendo o nosso papel – agora chegou a vez dos trabalhadores e do papel deles, também.
PHA: Outras organizações, como MST e MTST, participarão desse movimento?
Vagner: Com certeza! A CUT é participante da Frente Brasil Popular, da Frente Povo Sem Medo, e os companheiros dos movimentos sociais, MST, MTST, Central de Movimentos Populares, UNE, de todos os movimentos sociais, já tiraram nas suas frentes o posicionamento de apoiar a Greve Geral convocada pelas centrais. Já tiraram essa determinação.
PHA: Nesse momento, Vagner, o que dói mais no bolso – ou a perspectiva de vir a doer mais no bolso – do trabalhador: é a terceirização, rasgar a CLT, a Reforma da Previdência? Qual é o seu diagnóstico?
Vagner: Não dá pra gente fatiar. Na realidade, o governo quer nos empurrar pra isso, escolher dos males o menor e o trabalhador se contentar com isso. Eu vejo as coisas se combinando.
Eles fizeram a PEC dos gastos, a PEC 55. A PEC 55 só se sustenta se tiver Reforma da Previdência. Aí você tem o projeto de terceirização, que eles fizeram para terceirizar atividade-fim. Se a gente não reverter a questão da terceirização, a Reforma Trabalhista fica sendo, para eles, desinteressante. Porque eles já conseguiram destruir todo o mercado de trabalho com a terceirização de atividade-fim.
Então, não dá pra decidir o que é menos ruim – tem que rejeitar tudo num pacote só.
Essa não é a visão de todas as centrais, você sabe. Mas, para a CUT, esse governo é ilegítimo, é golpista, não tem condição moral nem legal de propor nenhuma mudança desse tamanho. Precisa a gente ter eleições diretas no Brasil, retomar a democracia, e um governo legítimo colocar as questões nacionais na mesa de discussão. E a CUT participará. Essa é a visão da CUT, da Frente Brasil Popular, da Frente Povo Sem Modo. Tem outras centrais sindicais que não acham isso, mas estarão na Greve Geral pela não-retirada de direitos.
Então, tudo é ruim para o trabalhador. É claro que o apelo da previdência, da aposentadoria, é mais forte, o trabalhador se mobiliza mais por causa disso.
Agora, eu queria fazer um alerta pro trabalhador: o Temer sabe disso. Então, ele vai tentando abrandar questões da previdência, só que ele vai pro baixo dos panos rasgando a CLT e colocando a terceirização. Aí, depois, não adianta manter a previdência porque não dá sustentação – o sistema previdenciário não se sustenta, por exemplo, sem carteira assinada. E, com todo mundo trabalhando de bico – eu falo que o Temer está oficializando o bico no Brasil – se tiver todo mundo terceirizado, sem carteira assinada, não tem renovação na previdência e ela vai acabar também.
As coisas se combinam. Por isso que a Greve Geral é contra os quatro temas: Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, a terceirização e nenhum direito a menos!