O crédito ajudou o HSBC Bank Brasil a registrar um lucro recorde em 2008, de R$ 1,35 bilhão (pelos padrões contábeis brasileiros) – 9% maior que em 2007-, mas este ano as operações de financiamento ao consumo devem ter um ritmo mais lento. De acordo com o presidente do banco no Brasil, Shaun Wallis, porém, o HSBC vai dar mais foco, em 2009, à liquidez e ao chamado "cross selling", ou seja, a venda de outros produtos para a atual carteira de clientes do banco, incluídos aí os que chegaram por meio da financeira Losango.
No crédito, diz Wallis, a meta é crescer, mas com foco em determinados nichos, como imobiliário e alguns segmentos corporativos. Já nas operações mais típicas de financeiras, como as da Losango, deve haver um apetite menor.
Após o agravamento da crise financeira global, o lucro da operação brasileira do HSBC ultrapassou o do México e deu um salto no peso no ganho total do banco, saindo dos 3,6% em 2007 para 9,8% no ano passado. O Brasil rendeu, pelo padrão contábil internacional, US$ 910 milhões do total de US$ 9,3 bilhões, crescimento de 4%. No México, a queda foi de 27% nos ganhos, por conta de provisionamentos relativos a operações de crédito, resultando num montante de US$ 714 milhões. Os dois países representam cerca de 80% do lucro do HSBC na América Latina.
Pela contabilidade brasileira, o HSBC Brasil fechou o ano passado com ativo total de R$ 112,1 bilhões, aumento de 58% em relação a 2007. Já o retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 24,34%, menos do que os 26,95% do ano anterior, com alta do PL de R$ 5 bilhões para R$ 6 bilhões. Já o índice de Basiléia fechou dezembro em 12%. Os ativos de crédito cresceram 27% no ano passado.
O resultado de 2008 foi proveniente principalmente de três nichos. Do segmento de "comercial banking" (crédito e outras operações com empresas), que foi responsável por 37% do total, e pela área de banco de investimentos (mercado de capitais, emissões externas e outras), com 26% do total, além do segmento de pessoas físicas (29%). As duas primeiras ampliaram suas participações no resultado de 2008 em relação a 2007, quando correspondiam a 31% e 24%, respectivamente.
Apesar de as provisões para devedores duvidosos terem aumentado 23%, Wallis acredita que no comparativo com o restante do mercado brasileiro a posição do banco é confortável. Segundo o executivo, enquanto a inadimplência cresceu 1,2% no ano passado e 0,3% em janeiro de 2009, no HSBC a expansão foi de 0,8% e 0,1%. Segundo o presidente, o HSBC vem adotando postura cautelosa em relação ao crédito desde o segundo trimestre no ano passado. A concessão de empréstimos ficou mais criteriosa e o banco reduziu alguns limites em cheque especial e cartões entre os clientes que não estavam usando os produtos. "Isso libera o capital que estava comprometido e fizemos esses procedimentos de maneira muito cautelosa para que o cliente entendesse que, se quisesse vir a usar esses limites, eles poderiam estar disponíveis novamente", explicou Wallis. Segundo ele, a experiência vivida pelo HSBC em outros mercados, como o dos EUA, sempre deixa lições que podem ajudar a evitar problemas.
Para crescer no Brasil, Wallis entoa o mantra do grupo sobre a expansão orgânica. Ele descartou, por exemplo, interesse na fatia da Redecard. E embora admita que possa analisar oportunidades de aquisições que façam sentido para o negócio do banco no país, ele prefere enfatizar o esforço de crescer sem isso. "Dos 10 milhões de clientes que temos, sete milhões possuem apenas um ou dois produtos bancários, então há muito campo a explorar na nossa própria base", diz Wallis.
Ele diz que não há um produto específico que seja prioridade vender. "Nós não trabalhamos dessa forma, não focamos na venda de um único produto para todos os clientes, nosso diferencial é justamente ser orientado pelas necessidades e pelo perfil de cada cliente. "Se não podemos competir em tamanho, vamos competir em serviços, eficiência e explorando as vantagens que podem ter os clientes pelo fato de sermos um banco com presença global", concluiu.
Fonte: Valor Econômico / Catherine Vieira, de Londres