O Banco Santander S.A., o segundo maior da Europa em valor de mercado, ofereceu melhorar os termos de um acordo de indenização para clientes seletos da sua divisão de private banking que perderam dinheiro com o suposto esquema de pirâmide de Bernard J. Madoff, segundo pessoas a par do assunto.

Em janeiro, o Santander se tornou o primeiro banco – e até agora o único – que se dispôs a devolver parte do dinheiro perdido pelos seus clientes nessa fraude. O banco informou que devolverá às vítimas o valor dos seus investimentos originais, sob a forma de ações preferenciais que pagam juros anuais de 2%. Mas os advogados que representam alguns clientes atingidos descartaram a oferta, julgando-a insuficiente.

Agora, num esforço para encerrar de vez esse assunto, representantes do banco vêm oferecendo uma série de incentivos aos seus melhores clientes, para convencê-los a aceitar o acordo.

O banco está oferecendo a alguns clientes abastados a possibilidade de usar as ações preferenciais como garantia para um empréstimo que cobraria 3% de juros anuais. Esse empréstimo, que pode chegar a 85% do investimento original do cliente nos fundos de Madoff, poderia ser recebido em dinheiro, ou reinvestido em títulos pagando 6% de juros, segundo investidores que receberam a versão melhorada da oferta.

O Santander também ofereceu mais um incentivo: enviou uma carta aos clientes atingidos pelo esquema de Madoff, dizendo que eles não precisam mais conservar suas contas bancárias no banco para serem candidatos a essa troca de ações preferenciais, oferecida como parte do pacote de janeiro, disseram as pessoas familiarizados com o assunto. Cerca de três quartos dos clientes já aceitaram a oferta, e o banco espera que a grande maioria concorde até o fim do mês, segundo as mesmas fontes.

Ontem, um porta-voz do Santander disse que a oferta original do banco, apresentada em janeiro, não é negociável.

Entre todos os bancos comerciais, o Santander foi o mais exposto aos fundos de Madoff. Seus clientes tinham 2,33 bilhões de euros (US$ 3 bilhões) investidos com Madoff, através do fundo de hedge baseado em Genebra do banco, o Optimal Investment Services SA. A exposição direta do próprio banco à fraude de Madoff foi mínima – apenas 17 milhões de euros.

Cerca de 70% dos clientes do Santander atingidos são da América Latina, segundo pessoas a par da situação. Muitos desses clientes também controlam empresas que têm relações com o Santander, gerando o temor de que estas retirem seus negócios do banco espanhol.

"O fato de que o Santander vem aos poucos melhorando a sua oferta demonstra seu medo dos processos legais", diz Ernesto Canales, advogado mexicano que está aconselhando um grupo de 15 clientes do Santander.

Na oferta original feita em janeiro, o Santander comunicou que faria a troca das cotas de seus fundos de hedge, muito atingidos, sob a condição de que os clientes renunciassem ao seu direito de mover processos e se comprometessem a manter seus níveis atuais de negócios com o banco. Na época o Santander informou aos investidores que resgataria as ações em dez anos, e que estas seriam listadas em bolsa – embora não tenha se comprometido por escrito com nenhuma das duas promessas.

Advogados que representam algumas das vítimas advertiram que as ações conseguiriam meros 20% do valor de face no mercado secundário. O Santander argumenta que elas conseguiriam algo próximo de 40% hoje, segundo pessoas familiarizadas com o pensamento no banco. Presumindo que o mercado acredite que o Santander vai honrar a promessa de resgate em 2019, os papéis aumentariam de valor à medida que a data se aproximasse.

Alguns escritórios de advocacia estão trabalhando para que a proposta do Santander não se realize, inclusive iniciando ações legais para deter essa oferta. Uma firma espanhola de advocacia, a Jausas, apresentou, como alternativa, uma oferta "privada" para as vítimas de Madoff no Santander. Agindo em nome de investidores prejudicados pelas dívidas, a Jausas informou que pagará às vítimas 22% de seus investimentos originais. A Jausas assumirá, então, quaisquer reivindicações legais que existam, na esperança de conseguir do Santander um acordo mais favorável através da justiça.

O Santander não quis comentar a oferta da Jausas.

Ontem, o Santander informou que pediu aos reguladores do mercado que lhe concedam uma suspensão de dois anos para os pedidos de resgate em um fundo de investimentos imobiliários.

Fonte: The Wall Street Journal / José de Córdoba e Thomas Catan