O interesse cada vez maior dos investidores externos em ações e títulos de renda fixa no Brasil está atraindo os grandes participantes do mercado global para um negócio antes restrito a poucas instituições financeiras no Brasil: a custódia de ativos. Além da guarda do papel para o investidor, hoje feita de forma totalmente eletrônica, a custódia inclui a liquidação das posições, entrega de extratos com as movimentações e serviços administrativos como pagamento de dividendos, juros e bonificações.
O Bank of New York Mellon, um dos líderes do mercado no mundo, acaba de entrar com pedido no Banco Central para abrir um banco no país para atuar no segmento. O BNP Paribas também vai desenvolver área própria com foco no investidor institucional externo. O Itaú, líder em custódia para o investidor local, está investindo para oferecer um serviço mais adequado ao estrangeiro e ganhar fatias desse mercado, no qual é o terceiro colocado, com 10,74%. O Citi, líder no segmento para o investidor internacional, com 57% do mercado, também está investindo e crescendo a equipe para defender sua posição de liderança.
Os números justificam o movimento. Hoje há um estoque de R$ 408,4 bilhões de investidores estrangeiros aplicados em ações e títulos de renda fixa sob custódia no mercado interno brasileiro, volume que já ultrapassou em 10% os totais de antes da crise financeira. Eram R$ 370,4 bilhões em junho do ano passado, de acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Esse é o estoque total de recursos que entrou no país por meio da resolução 2689.
As perspectivas são de um aumento no total desse investimento, agora que o país é grau de investimento pelas três principais agências de classificação de risco de crédito (Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch Ratings) e os fundos mais conservadores não têm mais restrições para investir no mercado interno brasileiro.
"O Brasil passou a ter um fluxo de recursos externo diferente, mais estável, que não tem a lógica apenas do curto prazo", diz Zeca Oliveira, presidente do Bank of New York Mellon no Brasil. "Isso justifica investir em custódia para esse investidor", diz. Não é necessário ser banco para guardar títulos, mas só uma instituição financeira pode prestar o serviço de liquidação de posições para os investidores, explica Oliveira. Por isso o BNY Mellon foi atrás de uma licença no Banco Central.
Há um atrativo extra no negócio de custódia de ativos para esse investidor estrangeiro: a margem de lucro é cinco vezes superior à da custódia no mercado interno, diz Oliveira. "Há uma competição maior no mercado interno e os grandes investidores conseguem importante redução de custos", afirma. Já os investidores internacionais, principalmente os fundos de investimento globais, ficam mais atentos à necessidade de ter um custodiante com atuação também global, que lhes abra as portas de diversos mercados ao mesmo tempo, diz Don Linford, superintendente de operações internacionais de custódia do Itaú Unibanco.
Esse custodiante global, cujos principais são o J.P. Morgan, o BNP Paribas, o State Street, o Bank of New York Mellon, o Citigroup e o Northern Trust, muitas vezes subcontratam um custodiante local nos mercados onde não têm presença muito forte. O objetivo é facilitar a vida do investidor, de forma a evitar que ele tenha de lidar com um custodiante em cada país. O custodiante global consolida as aplicações do investidor nos diversos mercados, dando-lhe uma visão abrangente de seus ativos.
O J.P. Morgan, por exemplo, embora seja um dos principais bancos a atuar com o investidor externo que vem comprar no país títulos de dívida e ações por meio da resolução 2689, com 20% do mercado, usa hoje os serviços de custódia do HSBC no país. Dos R$ 76,5 bilhões custodiados pelo HSBC em agosto para o investidor estrangeiro, cerca de R$ 60 bilhões eram de clientes do J.P. Morgan.
O BNP Paribas já é custodiante de fundos próprios e alguns clientes estrangeiros, mas também terceiriza os serviços para o Citigroup. Agora pretende passar a prestar o serviço para 100% dos estrangeiros que conseguir atrair para o país, diz o presidente do banco no Brasil, Louis Bazire. O BNP Paribas acha que o investimento vale a pena, pois pode ganhar mais se não dividir as comissões pelo serviço.
Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo