As ações preferenciais do Itaú caíram 7,5% ontem e fecharam em R$ 24,53. Não foi um bom dia para o mercado, uma vez que o índice Bovespa terminou com queda de 3,95%, e para os bancos em particular. As preferenciais do Bradesco recuaram 6,03% para R$ 21,21.

Mas a queda do Itaú ganhou impulso com a notícia de que o Bank of America poderia avaliar a venda de sua participação no Itaú, arrecadando até R$ 6 bilhões. A notícia, divulgada pela agência "Bloomberg", teve como fundamento relatório do analista do Deutsche Bank, Mario Pierry, baseado em Nova York. O Bank of America tem 8,5% das ações preferenciais e 2,5% das ordinárias do Itaú.

Pierry disse ao Valor considerar a venda possível uma vez que os bancos americanos estão se desfazendo de ativos para reforçar os balanços. O analista lembrou que, na semana passada, o Bank of America reduziu sua participação no Banco da Construção da China de mais de 19% para 16,6%, ao vender 5,6 bilhões de ações listadas na Bolsa de Hong Kong em uma operação que captou US$ 2,8 bilhões. Em novembro, o Bank of America gastou US$ 7 bilhões para quase dobrar a participação na China.

"Há um potencial de venda", disse Pierry. "Se o Bank of America vendeu uma parte das ações no Banco da Construção da China, que ele escolheu e comprou, não seria de se estranhar que possa vender as ações do Itaú, que herdou ao vender as operações brasileiras do Bank Boston ao Itaú".

Na nota enviada ao mercado e citada pela Bloomberg, Pierry escreve "se o BAC está vendendo sua participação acionária no CCB, poderia vender suas ações no Itaú? Nós acreditamos que pode, embora a administração não tenha formalmente comentado o assunto". BAC é o abreviação das ações do Bank of America na bolsa.

O analista disse à "Bloomberg" que bancos americanos como o Bank of America podem precisar levantar mais capital diante do ambiente operacional "desafiador" para instituições financeiras.

Outro motivo para a venda, disse Pierry, é o fato de o Bank of America ter reforçado a posição na América Latina ao comprar a Merrill Lynch. A aquisição foi incentivada pelo governo americano como parte do esforço de saneamento do setor financeiro e foi fechada neste ano por US$ 24 bilhões. A Merrill Lynch é bem ativa no mercado brasileiro em determinadas áreas de banco de investimento, talvez uma linha de negócio que o Bank of America considere mais interessante explorar. Alguns dos relatórios de mercado que a Merrill Lynch distribui aos clientes brasileiros começaram, neste mês, a serem assinados duplamente, incluindo o Bank of America.

Com o Itaú, por outro lado, o Bank of America garantiu uma participação no maior banco brasileiro após a fusão com o Unibanco. O representante do Bank of America até possui um assento no conselho do novo banco.

O Banco Itaú tem direito de preferência sobre as ações do Bank of America. Se o banco americano quiser vendê-las terá que oferecer os papéis primeiro ao Itaú. Procurado pelo Valor, o banco brasileiro não comentou as informações.

O acordo feito também estabeleceu um prazo de três anos durante o qual o Bank of America não poderia vender as ações do Itaú. O prazo termina neste ano, em maio, segundo o banco americano; em setembro segundo o Itaú.

Fonte: Valor Econômico / Maria Christina Carvalho