Dono de uma fatia de 62% do crédito rural concedido no país, o Banco do Brasil (BB) entrará na próxima safra, que começa em julho, com a meta de elevar em 30% os empréstimos ao setor. Nos planos do banco, até agora "muito concentrado" em financiamentos a produtores de soja e milho, estão a "diversificação" de sua carteira de crédito rural e o aumento da base de clientes. Até abril, o BB emprestou R$ 25 bilhões ao setor.

Mas, mesmo com a expansão, o banco promete manter o rigor na concessão de crédito, um dos pontos mais criticados por produtores sem acesso a financiamentos oficiais. "Não vamos flexibilizar as exigências técnicas ou prudenciais, mas precisamos facilitar esse crédito", diz o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes Pinto, ao Valor. Otimista, o BB avalia que o "ambiente está melhor" no setor e uma "gestão adequada" dos negócios pode transformar investimentos em bons resultados. "Não vivemos um mundo de maravilhas, mas não é o pior dos mundos", resume o diretor de Agronegócios, José Carlos Vaz.

O BB aposta na nova safra, que começará a ser plantada em setembro, como o "terceiro ano de recuperação" da renda no setor. Os fatores seriam preços em alta, dólar favorável, custos de produção menores e retomada dos financiamentos pelas tradings, retraídas na última safra.

Mas, mesmo com a boa decolagem e a condução correta até aqui, ainda falta algo para atingir a "velocidade de cruzeiro" no agronegócio. A nova safra não marcará a retomada definitiva em razão do elevado grau de endividamento de produtores, cooperativas e agroindústrias. O ciclo, porém, "será melhor" do que as duas safras anteriores, ainda afetadas pelos efeitos de problemas climáticos e financeiros, segundo Vaz.

O cenário para a próxima safra está lastreado no "sucesso de vendas" das principais feiras do setor – Expodireto Cotrijal, Tecnoshow Comigo e Show Rural Coopavel. "Mesmo com os problemas da Agrishow, elas são um termômetro positivo. As vendas ficaram acima de 2008", diz Guedes, em referência à ausência de grandes fabricantes de máquinas na feira de Ribeirão Preto (SP). "A agricultura passou relativamente tranquila pelas dificuldades", afirma.

Nas projeções do BB, os custos de produção tendem a ficar abaixo do registrado na safra passada. Nem os elevados preços do potássio devem prejudicar o cenário. Os preços de milho e soja devem permanecer acima das médias históricas, já que o quadro mundial de suprimento ainda estaria enxuto, avalia o banco. As perspectivas também seriam boas para o complexo carnes, sobretudo frango e suínos – o que deve ajudar a sustentar as cotações de milho e soja. No caso de bovinos, a oferta restrita de animais deve manter a demanda aquecida e bons preços, embora a crise dos frigoríficos seja uma ameaça. O segmento de leite deve voltar à normalidade com a imposição de licenças não-automáticas à importação de lácteos da Argentina.

Em dificuldades, os produtores de cana-de-açúcar podem ser beneficiados pelos preços do açúcar em alta. O BB aposta que o cenário para o etanol pode melhorar com a injeção de capital de giro em usinas e recursos para estocagem da produção. Mesmo com perspectivas melhores, deve haver migração de produtores de cana para a soja, já que os problemas de algumas usinas devem continuar.

O banco avalia que as tradings voltarão a financiar o setor rural, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. No Centro-Oeste, o recuo no crédito deve ser mantido. A fatia dessas companhias no financiamento da nova safra deve chegar a 20% da necessidade – antes, era de 35%. "Se elas não entrarem no crédito, correm risco de perder fatia no mercado físico e ficar sem o produto", avalia o diretor do BB. O banco também acredita que o governo deve autorizar uma renegociação de dívidas a produtores da região Sul do país e do centro-sul de Mato Grosso do Sul por causa da seca. As enchentes no Norte e Nordeste também podem demandar prorrogações de dívidas.

Fonte: Valor Econômico / Mauro Zanatta