O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse ontem que o banco pretende emitir a nota bancária de crédito, papel de captação para bancos semelhante a uma debênture e que está sendo estudada pelo governo para aumentar as fontes de recursos de longo prazo. "Esse é um instrumento que estará voltado preferencialmente para o alongamento do prazo das captações. O sistema bancário de modo geral tem muitos instrumentos, mas via de regra eles sempre estão no curto prazo", disse.

Perguntado se o banco teria interesse em fazer emissões dessas notas, ele disse que seguramente fará e que há muita demanda por papéis de longo prazo. "Os investidores institucionais estão muito capitalizados. A poupança previdenciária tem crescido muito no Brasil e esses instrumentos de prazo maior são muito positivos".

Conforme informou o Valor ontem, a nota bancária de crédito será criada para oferecer às instituições financeiras uma alternativa de captação com prazo de até cinco anos, já que elas não podem emitir debênture. A preocupação é que o rápido crescimento do crédito nos últimos anos não foi acompanhado por um alongamento dos passivos (as fontes de recursos). Assim, há um descasamento entre as captações com liquidez diária, como os Certificados de Depósito Bancário (CDB), e os créditos longos, como financiamento de veículos.

Os bancos vêm usando as captações externas como alternativa, mas com a crise essa opção se tornou muito cara. Os grandes já retomaram esse essas operações, mas não na mesma velocidade. O próprio Bradesco fechou nesta semana uma captação externa de dívida subordinada de R$ 750 milhões.

Outro ponto que motivaria essas captações, disse Trabuco, é a esperada retomada dos empréstimos bancários com força no próximo ano. O crescimento do segundo trimestre já surpreendeu o Bradesco e levou o banco a rever para cima a expectativa de expansão da sua carteira de empréstimos para os próximos doze meses.

Na divulgação do balanço semestral, a instituição havia reduzido a previsão de expansão de uma faixa entre 13% a 17% para um intervalo entre 8% e 12%. Agora, a expectativa é que até junho de 2010 a expansão fique em 15%. "O crescimento de 1,9% na economia no segundo trimestre sinaliza um crescimento anualizado de 6%. Com essa velocidade, seguramente o crédito pode crescer cerca de 15%."

Outro dado positivo para o banco é que, depois de crescer desde dezembro, o índice de inadimplência observado nas carteiras de crédito do Bradesco estabilizou neste mês em relação a agosto e deve começar a cair a partir de agora, disse o vice-presidente de relações com investidores do banco, Domingos Figueiredo de Abreu. Segundo ele, o movimento vem sendo acompanhado pela aceleração da demanda por novos empréstimos tanto no segmento de pessoa física quanto jurídica.

O executivo, que na quarta-feira à noite fez uma apresentação para a seção gaúcha da Apimec, não vê riscos de superendividamento dos clientes em função da expansão do mercado de crédito e das perspectivas de ações agressivas de bancos como o Santander, que aumentará o poder de fogo a partir de uma oferta de ações no país. "Entre 75% e 80% do crescimento vem de novos tomadores, graças ao desempenho da economia e à elevação da renda da população", explicou.

Fonte: Valor Econômico / Fernando Travaglini e Sérgio Bueno, de São Paulo e Porto Alegre

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