O Brasil entrou sexta-feira em mais um órgão-chave nas finanças internacionais, passando a participar diretamente dos processos de decisões da nova arquitetura do sistema financeiro global. O Comitê de Basileia de Supervisão Bancária anunciou sexta-feira que acolherá a partir de agora Brasil, China, Índia, Rússia, México, Coreia e Austrália.

Esse comitê, sediado em Basileia (Suíça), tem o objetivo de reforçar padrões bancários globalmente e até agora era controlado pelos países mais desenvolvidos. Uma de suas decisões é sobre as exigências de capital mínimo dos bancos.

Na quinta-feira, outro órgão-chave, e que terá cada vez mais influência, o Fórum de Estabilidade Financeiro (FEF), anunciou a entrada do Brasil e de outros países que fazem parte do G-20 financeiro. Inclui, desta vez, também a Argentina. Em fevereiro, Brasil, China e Índia foram incorporados no comitê técnico da Organização Internacional das Comissões de Valores (conhecido pela sigla em inglês Iosco), que estabelece os padrões e critérios para o desenvolvimento da regulação nos principais mercados internacionais. A entidade tem mais de 100 membros, mas o comitê técnico era até agora composto por apenas 15 países, incluindo Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Grã-Bretanha.

Na prática, é a nova arquitetura financeira internacional que começa a ser construída ainda sem que muita gente se dê conta disso. Os principais emergentes ampliam sua influência nas decisões das principais instituições financeiras internacionais, e isso inevitavelmente levará à maior participação também no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.

"A crise acelera a nova da arquitetura financeira internacional e aumenta o espaço dos países emergentes", afirma o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão.

Nessa engenharia, o Brasil coloca peso na consolidação do G-20 como o centro das articulações econômicas globais, reunindo as principais economias desenvolvidas e emergentes, ao invés do combalido G-8, até então diretório econômico do planeta.

Para integrar mais os emergentes, a ideia é que a segunda fase da reforma de "voz e representação" no Banco Mundial tenha início em abril deste ano e possa ser implementada até abril de 2010. Também nesse cenário, alguns países defendem que a estrutura de empréstimo atual do Bird, que fornece muito mais recursos aos governos, seja revisado para dar mais ênfase no financiamento a empresas de emergentes.

Sobre a reforma do FMI, a ideia é antecipar a revisão geral de cotas que está prevista para 2013. Assim, um realinhamento "de cotas e voz", e portanto de poder dos emergentes, seria completado até 2011. A negociação sobre as reformas do Bird e do FMI fez parte da agenda dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 neste final de semana, nos arredores de Londres.

Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira, de Genebra