O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os demais bancos federais receberam a determinação do presidente Lula para baixar imediatamente os juros e os spreads dos empréstimos. A Caixa deverá, já nesta semana, concluir seus estudos internos para mais uma rodada de redução no custo do dinheiro.

O objetivo maior do governo é, com a baixa de juros dos bancos públicos, forçar os bancos privados a seguir o mesmo caminho. Mas a eficácia da medida não é consensual dentro do governo. Há setores que defendem a tese de que cortes de juros vão apenas reduzir os lucros das instituições federais e as transferências de resultados ao Tesouro, em um período em que a crise deverá prejudicar a arrecadação federal. Cortes de juros podem comprometer a rentabilidade futura, já que a remuneração pode se mostrar insuficiente para cobrir os riscos em um ambiente economico mais incerto.

O argumento dessa corrente é que, salvo em nichos muito específicos de mercado, baixas de juros não estimulam a resposta de bancos privados porque o mercado não é competitivo. Os bancos concorrem bastante, por exemplo, no capital de giro para grandes empresas. Nesse segmento, com margens apertadas, bancos que cobram menos emprestam mais, forçando a reação dos concorrentes.

Algo semelhante ocorre em mercados como o de crédito imobiliário, financiamento de automóveis e crédito consignado. Como as garantias oferecidas pelos clientes são boas, eles podem escolher entre as diversas opções disponíveis no mercado bancário.

Mas, ainda segundo essa visão, os efeitos de uma baixa de juros seriam mínimos em mercados como cheque especial, cartão de crédito e capital de giro para pequenas e médias empresas. Existem barreiras para os clientes migrarem de um banco para outro. As instituições não conseguem diferenciar os bons dos maus clientes, por falta de uma central que reúna as informações de crédito. Uma evidência de que juros mais baixos não fazem diferença é que, apesar de adotar uma política agressiva de corte de taxas desde 2003, a Caixa não conseguiu aumentar expressivamente sua fatia de mercado desde então.

Uma outra visão que circula no governo é que os bancos públicos podem, sim, fazer a diferença no mercado. Financiamentos de veículos e imobiliários e os empréstimos consignados foram, nos últimos anos, justamente a parte mais dinâmica do mercado. Existe, de fato, barreiras para os clientes trocarem de banco. Mas há um grande número de clientes que tem contas em mais de uma instituição financeira. Uma baixa de juros também teria um efeito demonstração importante, num período em que há forte cobrança da sociedade sobre os bancos, que foram socorridos com recursos públicos.

Outro argumento é que mesmo em mercados imperfeitos, como o de crédito, em períodos mais longos de tempo os clientes tendem a reagir, procurando as instituições financeiras com taxas mais baixas. Uma fonte do governo argumenta que, no caso da Caixa, os resultados da baixa de juros desde 2003 foram pequenos porque o instituição não tinha produtos, tecnologia nem agilidade para acompanhar o mercado. O banco, hoje, está reestruturado. O BB, que tem uma operação maior, poderia mexer com os concorrentes privados.

Fonte: Valor Econômico (Alex Ribeiro)