A intensa consolidação entre as maiores instituições financeiras do país é motivo de preocupação para as empresas de médio e grande porte, que já sentem uma redução de suas opções de financiamento. A compra de metade do capital do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil, anunciada na sexta, é o mais recente exemplo de um movimento que inclui a compra do Real pelo Santander e a fusão entre Itaú e Unibanco.

O histórico das fusões bancárias mostra que costuma haver corte do limite de crédito para as empresas em relação à soma dos limites que existiam nas instituições antes da união. As empresas costumam manter um relacionamento com no mínimo três bancos e o número de instituições se restringiu.

O custo do crédito para as empresas subiu, refletindo também o aperto de liquidez. O diretor de um fundo de private equity diz que uma das empresas que controla, com faturamento de R$ 200 milhões, viu seu custo de capital de giro saltar de CDI mais 2% para CDI mais 7%. "Isso significa 21% e poucas empresas conseguem obter retorno superior em seu negócio." Segundo um diretor de banco, a redução da concorrência já começa a ensejar aumento de spreads.

O empresário de uma companhia do ramo industrial com faturamento líquido da ordem de R$ 750 milhões diz que já sentiu os efeitos da consolidação na hora de negociar linhas de capital de giro. "É preocupante, principalmente num cenário em que os bancos estrangeiros pararam de emprestar."

Ao procurar o Banco Santander recentemente, o empresário surpreendeu-se ao descobrir que a política de concessão de crédito já mudou radicalmente em relação ao que era praticado pelo Real. Foi informado de que qualquer empréstimo superior a US$ 35 milhões teria que ser aprovado na Espanha, pela matriz do Santander. Sob o controle do ABN Amro, o Real tinha uma autonomia muito superior, de 400 milhões de euros, diz ele.

Fontes dos dois bancos confirmam que o Real tinham autonomia maior na filial brasileira. Após a fusão, foi criado um comitê específico em Madri que se reúne uma vez por semana só para análise de crédito de empresas brasileiras.

Grandes empresas que já eram clientes do banco espanhol não precisam passar pelo comitê. Têm um limite anual pré-aprovado. Uma corporação do setor de matérias-primas, por exemplo, pode fazer operações de curto prazo de até US$ 500 milhões sem consulta a Madri. O problema é que o Santander não tinha presença tão relevante quanto o Real no segmento de pequenas e médias empresas, e por isso a maior parte destes clientes médios do Real enfrentará a sabatina do comitê. O Santander não comentou o assunto. Um executivo do grupo diz que, em princípio, as operações existentes estão sendo roladas sem redução. Mas investidores contam que o Santander tem colocado à venda créditos de empresas brasileiras que estavam na carteira do Real.

Enquanto a fusão entre Unibanco e Itaú aguarda aprovação dos reguladores, os clientes estão apreensivos. "Não param de ligar para saber se o limite de crédito será cortado", conta um executivo que atende grandes empresas em um dos bancos. Até agora, as equipes não receberam novas diretrizes para operar e acreditam que, depois da união, os limites de financiamento serão decididos caso a caso. "Nos casos em que se perceba que há um excesso de exposição, é provável que haja redução. Em outros pode haver aumento." O Itaú informou que todas as operações continuam independentes e que não comentaria.

O caso do Banco Votorantim é diferente dos outros dois porque a instituição não será integrada ao Banco do Brasil. Portanto, a unificação de limites de crédito é menos provável. Mesmo assim, a preocupação existe. "O Votorantim era muito ativo no financiamento a empresas e nos últimos meses parou de emprestar", conta um empresário. Além disso, bancos do mesmo porte do Votorantim foram adquiridos ou sofreram reduções expressivas de captação nos últimos anos. O Votorantim era um dos poucos bancos médios com forte atuação em "middle market" e agora os empresários esperam pelas novas diretrizes.

Fonte: Valor Econômico / Vanessa Adachi e Tatiana Bautzer