Roberto Smith, presidente do Banco do Nordeste (BNB), começa 2009 atrás de mais recursos para a instituição. O motivo é a forte demanda por empréstimos. Para o ano, a instituição calcula que terá no Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), principal veículo de concessão de empréstimos do banco, R$ 7,5 bilhões, menor que os R$ 7,6 bilhões de 2008. Só neste mês, porém, os pedidos já superam R$ 9 bilhões.

A procura pelo FNE e por outras modalidades de concessões de recursos levou o banco a estabelecer como meta um crescimento de 17,6% da carteira de crédito em relação a 2008, alcançando R$ 33,4 bilhões. É um aumento menor em relação aos 41,6% registrados de 2007 para 2008, mas um pouco acima dos 16% projetados pelo Banco Central. Os números do BNB foram projetados com uma expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro de 4%.

"Quem vai fazer um investimento de longo prazo parece não estar se importando com a crise. Ao contrário, está enxergando oportunidades, já que alguns preços de insumos estão caindo", diz o presidente do BNB, que percebe interesse de investidores por obras de infra-estrutura na região Nordeste.

Como os recursos do FNE estão vinculados à arrecadação de impostos, o BNB não tem como aumentar a oferta dele, a menos que o recolhimento ultrapasse as projeções do governo.

A saída para atender a demanda crescente será remanejar alguns empréstimos. "Vamos buscar, por exemplo, fazer operações junto com o BNDES, que tem interesse em aumentar o número de operações no Nordeste", afirma Smith.

Alguns projetos poderão migrar também do FNE para outras modalidades de financiamento, como o Fundo da Marinha Mercante ou o Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame).

Por enquanto, cerca de R$ 1,5 bilhão do FNE vai para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Há seis parques eólicos, uma usina de geração de energia a gás, uma termoelétrica e a Transnordestina com projetos aprovados na instituição.

Na área de microcrédito, a previsão do BNB é expandir as concessões, que somaram R$ 1 bilhão em 2008 e devem alcançar R$ 1,3 bilhão neste ano.

Além do crescimento da oferta dentro da própria região Nordeste, o banco está ampliando o serviço para outras áreas do país, como o Rio de Janeiro, onde neste mês serão abertas seis agências em favelas cariocas.

O interesse do BNB nesse segmento é angariar clientes que depois possam consumir outros serviços do banco, como seguros, vendidos em parceria com a Mapfre. "Depois de superar a informalidade, o tomador do microcrédito transforma seu negócio em uma pequena empresa, para a qual também temos produtos", explica Smith.

Por esse motivo, a intenção do BNB é ampliar a atividade do Crediamigo – nome do programa de microcrédito do banco – para o país inteiro.

No crédito para micro e pequenas empresas, a meta é alcançar R$ 1,5 bilhão ante os R$ 1,2 bilhão de 2008, uma expansão de 25%.

Porém, em meio às notícias de crescimento da demanda e da oferta do crédito, o banco começa a se preocupar com a maior inadimplência, principalmente das operações de financiamento comercial.

"Por enquanto, ainda não notamos nenhuma mudança, mas estamos monitorando essa questão de perto", diz o presidente do BNB, para quem as operações de curto prazo serão as mais afetadas pela crise econômica.

Em decorrência disso, o banco não fez projeções para esse segmento, que de 2007 para 2008 teve alta de 82%, alcançando R$ 3 bilhões. "Tudo vai depender da crise, mas temos de cuidar da saúde financeira da carteira", diz o presidente do BNB.

Fonte: Valor Econômico / Carolina Mandl