Rosa foi presidente da Confederação Nacional dos Bancários da CUT (CNB), em dois mandantos, de 1994 a 1995 e de 1998 a 2000. Também foi diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Veja abaixo a íntegra da reportagem.
Valor Econômico
Vera Saavedra Durão e Janes Rocha,
De sindicalista a gestor do maior fundo de pensão da América Latina, responsável por um patrimônio de R$ 142,6 bilhões. A trajetória de Sergio Rosa é mais do que a história de alguém que trocou de lado do balcão. Confunde-se com a trajetória de uma fundação de histórico nem sempre republicano mas que nos últimos anos construiu uma reputação sólida.
Jornalista com pendor para os números, as negociações e o planejamento, depois de oito anos na presidência da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Rosa, de 50 anos, está prestes a deixar o cargo incensado como um administrador competente. Ele de fato desincumbiu-se de sua missão de maneira melhor que a esperada.
"Ele fez uma administração muito eficiente", comenta Paulo Lima Ribeiro, presidente da Associação dos Aposentados do Banco do Brasil. Ainda que considere excessivo o peso do Banco do Brasil nas decisões do fundo, Ribeiro enxerga na gestão de Rosa "resultados efetivos para o crescimento da Previ".
"Sergio Rosa é um dos dirigentes mais bem preparados do setor", comenta José de Souza Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Mais: Rosa foi um dos responsáveis pela mudança nas normas de aplicação das reservas dos fundos de pensão, regulamentada no ano passado pelo Conselho Monetário Nacional, diz Mendonça. O dirigente foi colega de Rosa na diretoria da Previ entre 2005 e 2007.
"É um cara superpreparado, liderou as disputas com muito profissionalismo e competência e ajudou a recuperar os investimentos da Previ", atesta Wagner Pinheiro, presidente da Petros (fundo da Petrobras) e amigo de Rosa desde 1990, quando faziam carreira na área sindical.
Entrar para a Previ o ajudou a mudar o modo como encara os interlocutores, diz Rosa. Trocou a agressividade estudada dos tempos de presidente da Confederação Nacional dos Bancários, nos anos 80, pela negociação franca e objetiva. O esforço em dialogar o transformou. Hoje, partilha ideias, estratégias de negócios e vê admiração antigos opositores.
A capacidade de negociar foi essencial. Para Rosa e para a instituição. Quando entrou para a cúpula da fundação, em 2000, na diretoria de participações, a Previ carregava a fama de ser um manancial de irregularidades e de servir a interesses de empresários e políticos – nem sempre coincidentes com os dos associados. O fundo era com frequência objeto de jogadas em que a responsabilidade para com o capital dos beneficiários não figurava entre as prioridades.
Foi negociando e atuando com uma visão mais "capitalista" dos investimentos que Rosa ajudou a redesenhar a imagem da fundação. Sob sua gestão, a Previ implantou um manual de normas e procedimentos – notas técnicas que orientam as decisões de investimentos – e novos canais de comunicação com os associados. "Insisti muito na questão da transparência", relata.
A Previ foi o primeiro fundo de pensão a aderir ao código internacional de Princípios para o Investimento Responsável (PRI), em 2006. Sua adesão abriu as portas para a entrada de outros 14 fundos e acelerou avanços nos direitos dos acionistas.
Resultado direto dessa atuação foi o reconhecimento pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do direito dos minoritários (com menos de 10% do capital votante) de eleger um membro do Conselho Fiscal, bastando para isso que 10% das ações ordinárias da empresa estejam livres no mercado.
Depois disso, a Previ instalou conselhos em todas as empresas das quais participa. Hoje, tem representantes em 131 assembleias. Um grupo de 180 conselheiros defende os interesses dos empregados e aposentados do BB junto a gigantes como Petrobras, Itaú Unibanco, Bradesco e Brasil Foods, entre dezenas de outras empresas. O grupo de conselheiros realiza uma assembleia anual para trocar experiências e discutir o futuro.
O maior símbolo da conversão do dirigente sindical para o executivo comprometido com resultados talvez seja a atuação no conselho de administração da Companhia Vale do Rio Doce. A Previ divide o controle da mineradora com outras fundações e com o Bradesco. E o banco – alvo de sua atuação nos tempos de sindicalista – é justamente um de seus maiores aliados no conselho da ex-estatal. O relacionamento com o Bradesco "é excelente", define.
É também na Vale que Rosa é obrigado a enfrentar uma das mais duras contradições de sua transmutação de líder sindical para gestor de capital. A mineradora enfrenta há sete meses uma greve na mina de níquel de Sudbury, no Canadá. A queda de braço envolve, entre outros aspectos, uma mudança importante no fundo de pensão com a qual os mineiros canadenses não concordam. Rosa se esquiva da questão: "Não quero comentar muito porque é uma greve em curso. Qualquer coisa que disser não vai colaborar para o processo de negociação".
Bancos e banqueiros não são novidades na vida do ex-sindicalista. Para além do bom relacionamento com o Bradesco e do passado de negociações sindicais, Rosa acumula altos e baixos na relação com a banca. É amigo do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Conheceram-se na arena política. Rosa, vereador eleito em São Paulo, aproximou-se do então presidente do BankBoston no Brasil, porque, na época, Meirelles dirigia também o movimento Viva o Centro, organização que promove a revitalização da área central da capital paulista. Tornaram-se aliados políticos em 2002, quando assumiram seus cargos no governo Lula.
Em compensação, travou uma de suas maiores batalhas contra Daniel Dantas, dono do banco Opportunity. No que foi considerada a maior disputa societária do país, a Previ engalfinhou-se com Dantas contra a entrada dos fundos administrados pelo Opportunity no capital de operadoras de telefonia. A história levou à fusão da Brasil Telecom com a Telemar para constituição da Oi, mas até hoje pairam dúvidas sobre o negócio e a participação do banqueiro.
Refregas à parte, no balanço de sua atuação à frente do fundo, Rosa acredita ter feito poucos inimigos. "Não ter feito nenhum é impossível". Mas acredita que seu saldo de amigos é positivo, mesmo não sendo, como diz, "das pessoas mais cativantes". Tido como uma pessoa fria, esse paulistano da Vila Esperança, casado com Gema, ex-funcionária do BB com quem teve dois filhos, prefere se definir como "uma pessoa objetiva". E se justifica: "Não afasto nem aproximo as pessoas. Se alguém vem aqui fazer negócio, acho que sai satisfeito, porque falamos de negócio".
Como gestor de uma fundação de previdência, sua visão é "lidar só com pesos pesados, com grandes sócios, grandes empresas, grandes investidores sem ser um capitalista tradicional". "Estou ali gerindo uma riqueza que é de muita gente e que tem um destino social. Não posso me comportar como um magnata. Entendo que somos capitalistas de novo tipo, gestores de uma riqueza importante no mundo atual e com grande influência nos negócios. Mas a lógica de gestão do capital dos executivos de fundos de pensão é diferente da lógica de um magnata."
Seu destino após deixar o cargo ainda é um mistério. Como ele não pode, por ora, trabalhar em outra instituição financeira (fundos de pensão, bancos e corretoras), espera-se que ele vá para alguma empresa de outro setor ou para algum órgão do governo.
É possível que permaneça na condição de presidente do conselho de administração da mineradora, caso seja o desejo da fundação. Se for para qualquer outra empresa, terá de cumprir um período de quarentena que, segundo ele, será dentro da própria Previ.
Já se especulou que ele seria o substituto de Roger Agnelli na direção executiva da Vale, mas essa possibilidade jamais se confirmou. Apenas deixa escapar que não gostaria de voltar para a política – experiência que, diz, o desagradou – e prefere exercer funções mais executivas. Públicas ou privadas.
Com amplo trânsito em Brasília, onde tem amigos como o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), parceiro dos tempos de sindicalismo, Rosa pode ser convocado a ajudar na campanha da ministra Dilma Rousseff à presidência, como cogitam alguns amigos.
Outra possibilidade é assumir algum cargo no governo Lula. Ele refuta os comentários. Diz que prefere atuar como gestor, administrador de empresas.
O gosto pela gestão acentuou-se à frente da fundação, mas foi sempre um traço presente em sua personalidade. Manteve-se obscuro por anos, principalmente quando o rapaz aficionado por números decidiu cursar jornalismo na Universidade de São Paulo, no final da década de 1970.
Embora fuja da política institucional, os hábitos do político permanecem. Perguntado sobre quem foi o teórico que mais o influenciou, Rosa diz que citaria Peter Drucker, filósofo e economista austríaco tido como pai da administração moderna. Mas em seguida emenda que "aprendeu um pouco com todo mundo".
Principalmente com os empresários, seus antigos adversários e atuais aliados, a quem ele agora chama de "trabalhadores". "Eles também têm que acordar cedo, são pessoas determinadas, com grande capacidade de trabalho". A diferença, claro, é o "salário", diz. Rosa abandonou definitivamente a dicotomia trabalhador-patrão. A conversão parece ter sido completa.
Fonte: Valor Econômico