Com a crescente insolvência entre as instituições financeiras dos países ricos, os bancos passam por uma "crise de marcas", define Eduardo Centola, responsável pelas Américas do Standard Bank (sul-africano com capital chinês), em sua primeira entrevista no novo cargo, que ele assumiu no dia 16.

Nomes consagrados, como Bear Stearns e Lehman Brothers, simplesmente deixaram de existir. Outras marcas de peso no mundo dos bancos perderam força diante da falta de liquidez e capital. "Há muito espaço para bancos menos conhecidos mas capitalizados ganharem mercado se tiverem o time certo", diz o executivo.

Na sua visão, não apenas as maiores economias emergentes mas também seus bancos estão em situação mais favorável para enfrentar a crise, visto que quase não tinham hipotecas americanas de alto risco nas carteiras. "Veremos cada vez mais negócios e financiamentos entre países emergentes."

O próprio Centola simboliza o novo paradigma. O brasileiro só passou pelas instituições de marcas fortes e tradicionais – começou sua carreira no Bear Stearns, depois foi para o Merrill Lynch e ficou mais de dez anos no Goldman Sachs. Sua especialidade são as fusões e aquisições – chegou até a ser o chefe da área para os Estados Unidos do Goldman. Hoje está no Standard Bank a convite de dois ex-chefes seus no próprio Goldman: David Duffy, o responsável pelas área corporate e de banco de investimento do Standard fora da África do Sul, e Graham Thomas, chefe de private equity mundial.

Em um mundo onde o Goldman passou a ter licença de banco comercial, Centola, um banqueiro de investimento por excelência, vai cuidar até mesmo do Standard na Argentina, que atua no mercado de varejo, com agências e quase 3.200 funcionários. "Você quer um cartão de crédito?", brinca.

Segundo ele, o foco na região com certeza é o banco de investimento no Brasil. Segundo ele, o país terá maior capacidade para "navegar os períodos de turbulência" que ainda devem perdurar por um bom tempo. Uma das principais razões: diferentemente do que acontece nos países ricos, o Banco Central brasileiro ainda tem instrumentos de política monetária de sobra para estimular a economia, com os juros ainda altos. E o sistema financeiro está saudável.

Neste momento, o executivo finaliza as negociações para a montagem de uma equipe especializada em fusões e aquisições para atuar no país e na América Latina. "As empresas brasileiras devem continuar compradoras das estrangeiras", avalia ele.

O banco também está contratando de imediato um responsável para cuidar de fundo de private equity, que vai comprar participação em empresas na região para depois tentar vendê-las com lucro. O fundo, inicialmente com capital só do Standard, vai investir até US$ 250 milhões à medida que encontrar boas opções.

"O Standard é um oásis nesta crise", diz Centola, que deixou Nova York há cerca de um ano. "Os debates aqui são como e onde crescer e não quanto vamos diminuir", afirma. É a estratégia de investimento "contra-cíclico", segundo Centola, que o estimulou a ingressar na instituição financeira. Como diversos outros bancos duramente atingidos pela crise estão em processo de desinvestimento, reduzindo ativos e pessoal, "as barreiras de entrada" no mercado de fusões e aquisições no Brasil tornaram-se menores, argumenta ele.

"Bancos antes fortes no Brasil estão se tornando estatais e vão ter menos espaço para investir fora de seu país de origem", acredita o presidente do Standard no Brasil, Fábio Solferini. "Muitos estrangeiros em meio à crise perderam o foco e há empresas brasileiras importantes sem atendimento", afirma. Por isso, Solferini não vê necessidade de ampliar o capital da instituição financeira no país, pelo menos por enquanto, após a injeção de capital de US$ 120 milhões no ano passado, elevando o total para US$ 220 milhões. Para realizar mais transações em reais, o banco trouxe de Londres Andy Hall, responsável por captações. Acaba de contratar Rachel Lembi e Eduardo Carvalho, ex-ABN AMRO, para cuidar de operações estruturadas.

O Standard não tinha ativos "subprime". Passou a crescer com mais força depois o Banco Industrial e Comercial da China (BICC), o maior do mundo em valor de mercado, comprou 20% do seu capital. Com a transação, o Standard recebeu, em 2008, injeção de US$ 5,5 bilhões. O BICC quer usar o Standard como sua plataforma de crescimento nas Américas.

Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi