Com o fechamento da operação de aquisição do controle do Banco Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, em meados de março, algumas mudanças já começam a ser percebidas no negócio de gestão de recursos de terceiros da instituição paulista. A principal delas é a chegada de Aroldo Salgado de Medeiros Filho, egresso da BB DTVM, para comandar a asset que tem hoje um patrimônio de cerca de R$ 28 bilhões e ocupava, em marco, a 11ª posição no ranking de administradores da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid).

Os desafios, para quem vem de uma estrutura que é a número um do país, com patrimônio de R$ 247 bilhões, são imensos e começam pela ampliação e diversificação da grade de fundos disponíveis na rede.

Atualmente, a área de gestão do Nossa Caixa toca apenas 27 carteiras, incluindo os fundos exclusivos. Entre aquelas efetivamente ofertadas no varejo há apenas um multimercado, que compra cotas de gestores selecionados, e outro fundos de ações, também no formato multigestão. A instituição distribui ainda um multimercado e um fundo de ações espelhos da Quest. "Há espaço para ter mais multimercados e mais fundos de ações, esta é a demanda da rede", diz Medeiros. Tal diagnóstico foi possível graças a um mapeamento do perfil dos cotistas e correntistas do banco, além de reuniões com os gerentes das 550 agências. "O índice da relação cotistas/correntistas é baixíssimo, há um potencial enorme de crescimento."

O executivo não detalha quais os critérios usados para medir tal aderência, mas antecipa que há muito trabalho a fazer. Para se ter uma ideia, no ano passado, as taxas de administração de fundos proporcionaram renda de R$ 108,2 milhões à Nossa Caixa, 9,5% do total de R$ 1,141 bilhão arrecadado com prestação de serviços, conforme as demonstrações relativas a 2008. No Banco do Brasil, essa proporção era mais do que o dobro. A área de administração de fundos contribuiu com 21,8%, ou R$ 1,980 bilhão, de um total que chegou a R$ 9,088 bilhões, só perdendo para as receitas com cartões, que chegavam a R$ 2,042 bilhões, já incluindo a participação do banco na Visanet.

Os primeiros passos para a criação de portfólios no Banco Nossa Caixa já foram dados, diz Medeiros. O banco tem mobilizado esforços na melhora do acesso dos investidores, tanto na internet quanto nos terminais de auto-atendimento. A sua previsão é de que novos fundos estejam disponíveis na rede ainda no primeiro semestre.

O ambiente para isso é mais do que propício, defende. Apesar da inflexão do setor de fundos em 2008, em razão da concorrência dos CDBs e da performance ruim com a crise, nos últimos anos o número de cotistas e patrimônio cresceu substancialmente. Mas ele considera pequeno o estoque de R$ 1,181 trilhão do fim de março quando comparado com o PIB, uma proporção que se aproxima dos 40%. "Por ser um mercado em que é necessário escala para distribuição, há um potencial grande para crescer."

Para Medeiros, mesmo com o ciclo de redução da Selic, há muito o que avançar nos fundos de renda fixa e DI com o desenvolvimento do mercado de crédito privado. "Ainda tem muito possível cotista que está na caderneta de poupança." A queda estrutural dos juros também deve motivar a migração dos investidores para portfólios que propiciem mais retorno, como os multimercados.

Medeiros é funcionário de carreira do Banco do Brasil. Ingressou na instituição em 1984 como office boy e conta que costumava servir cafezinho na agência Vassouras, interior do Rio. Chegou a gerente da mesa de ações, commodities e ouro em 1997 e a gerente de mercado de capitais em 2001. Passou ainda pela Previ, onde foi responsável pela gestão de fundos de renda fixa, e desde 2003 estava na BB DTVM. Saiu de lá como gerente de fundos de renda fixa para se tornar o diretor de gestão de Recursos de Terceiros da Nossa Caixa. Em 10 de março, passou a ocupar o posto deixado por Joaquim Elói Cirne de Toledo, que saiu junto com o presidente Milton Luiz de Melo Santos, substituído por Adézio Lima, e outros três diretores.

Fonte: Valor Econômico / Adriana Cotias

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