Bancos nos Estados Unidos, na zona do euro e na Grã-Bretanha estao "inundados" de dinheiro, mas continuam preferindo guardar os recursos em seus respectivos bancos centrais, ao invés de emprestar para a economia real.

O "excesso de reservas" dos bancos atingiu US$ 1,222 trilhão ao final de agosto, só ligeiramente inferior ao montante do começo do ano, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), em relatório confidencial ao qual o Valor teve acesso.

Os bancos centrais têm fornecido enorme quantidade de dinheiro para os combalidos bancos comerciais, tentando colocar recursos diretamente na economia, no que é chamado de "quantitative easing". Passaram a comprar ativos financeiros como títulos de governos e de empresas. Os bancos comerciais vendedores desses ativos tiveram então dinheiro novo em seus cofres, para fornecer crédito para a economia real.

Ocorre que os bancos comerciais nos EUA e na Europa continuaram a reduzir créditos para o setor privado e os consumidores. As instituições dos 16 países da zona euro registraram o maior fluxo negativo líquido em junho, quando emprestaram US$ 49 bilhões a menos do que receberam de pagamentos de clientes.

O relatório do IFF, que reúne as principais instituições financeiras do planeta, mostra que os bancos preferiram inflar seus depósitos nos BCs na forma de "excesso de liquidez", em busca de segurança. Nos Estados Unidos, os bancos têm US$ 794,5 bilhões depositados no Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Na zona euro, formada por 16 países, o total é de ? 142 bilhões (US$ 202 bilhões).

Na Grã-Bretanha, um dos maiores mercados financeiros do mundo e fora da zona euro, as reserva dos bancos comerciais alcançam 139 bilhões de libras (US$ 226 bilhões). O montante chega a ser várias vezes superior às notas e moedas em circulação na economia britânica.

A liquidez no sistema bancário global melhorou, mas como a relutância dos bancos a emprestar continua a ser forte, bancos centrais acenam com taxa negativa de juros sobre seus depósitos. O Banco Central da Suécia foi o primeiro a adotar essa medida, na semana passada, agora cobrando pelo "excesso de reserva" dos bancos. O Banco da Inglaterra deixou correr o mesmo rumor.

Por sua vez, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu bastante sua taxa, agora só pagando 0,25% ao ano sobre os depósitos dos bancos, também na tentativa de forçá-los a estimular os créditos ao setor privado.

O IIF nota que, embora as empresas e os mercados emergentes tenham feitos emissões de títulos da dívida no valor de US$ 2,3 trilhões este ano, isso não compensa inteiramente o declínio nos financiamentos bancários. Além disso, o padrão do fluxo de crédito mudou significativamente, com clientes grandes e melhor conhecidos conseguindo ter acesso aos recursos em detrimento de pequenas e médias empresas.

Embora a disponibilidade de recursos não tenha sido uma questão crítica na formação de estoques de curto prazo, o que parece ser o principal fator da atual recuperação econômica, o IIF diz que a falta de crédito continua a ser problemática para garantir uma expansão vigorosa da atividade econômica.

As condições financeiras de muitos bancos continuam delicadas. Nos EUA, as instituições em geral apresentaram perdas no segundo trimestre após um pequeno lucro no primeiro trimestre. O número de bancos "problemáticos" aumentou para 416, a maior taxa desde o começo dos anos 90. Isso pode elevar o número de bancos que venham a falir, que já chegou a 84 este ano.

Para o IIF, embora a dificuldade de pequenos bancos não tragam sérios riscos para a estabilidade financeira, isso em todo caso contribui no corte de crédito para a economia.

Outra preocupação é com a exposição dos bancos no setor imobiliário ("commercial real estate"). Bancos americanos têm US$ 1,7 trilhão de hipotecas e empréstimos para construção e desenvolvimento imobiliário e perdas nessa área têm ajudado nas falências.

Na Europa, os preços de imobiliário comercial caíram de 50% a 60% e grandes bancos na Grã-Bretanha, Espanha, Irlanda e Alemanha enfrentam "crescentes perdas" com empréstimos.

Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira, de Genebra

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