O presidente defendeu os programas sociais de seu governo, dizendo que em sua gestão a regra sempre foi "distribuir para a gente garantir que a economia cresça". Citou programas como o Luz para Todos, as linhas de financiamento do BNDES para a compra de tratores, a política de compra de leite e de alimentos dos pequenos produtores e o Bolsa Família no grupo das práticas governamentais que possibilitaram o fortalecimento do mercado interno.
E respondeu aos críticos dessas iniciativas. "Toda vez que a gente faz política para os pobres é chamado de assistencialista. Possivelmente, uma pessoa que dá R$ 75, R$ 85, R$ 95 de gorjeta quando toma o seu uísque não tenha noção do que significam R$ 80 na mão de uma mãe de família, não tem noção do que ela pode levar para dentro de casa."
Ao dizer que a crise pôs um "ponto final em um ciclo de mais de duas décadas de equívocos e fraudes cometidos em nome do ‘deus’ mercado", Lula desafiou os presidentes dos países desenvolvidos a assumir o controle dos bancos que estão quebrando, em vez de insistir na injeção de recursos para evitar a falência. "Será que os países ricos vão continuar apenas colocando dinheiro com o intuito de salvar bancos? Ou será que alguns países terão coragem, sem medo da palavra, de estatizar os bancos, recuperá-los, fazer voltar o crédito?", perguntou.
Lula comparou a estratégia das nações desenvolvidas ao cozimento de alimentos em panelas de pressão. "O que não pode é a gente ficar colocando água na panela quente sem colocar os ingredientes para fazer a comida, porque a água evapora. O que nós precisamos é colocar os ingredientes para, daquela água, a gente fazer a nossa comida e sobreviver." Também atacou o protecionismo. "Não podemos passar do vale tudo financeiro, que jogou o planeta na situação atual, para o vale tudo protecionista, que certamente nos jogaria numa crise ainda pior do que aquela que resultou na 2ª Guerra Mundial", afirmou.
Lula considerou injusto o fato de os países latino-americanos terem esperado tanto tempo para conseguir crescer economicamente e serem atingidos por uma crise que não foi provocada por eles. E cobrou ousadia dos governantes, inclusive de seus próprios ministros. "Tudo o que tem que acontecer nesta crise não é o presidente da República se trancar no seu gabinete, os ministros resolverem fazer contingenciamento cada vez maior, cada vez gastar menos, cortar salário, em nome de que a gente vai vencer a crise."
Fonte: Valor Econômico / Paulo de Tarso Lyra