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otacilio_batista_r.jpgNeste sábado, 8 de agosto, vai acontecer o VI Tributo a Otacílio Batista, no Espaço Cultural Marcos Lucena, no Sindicato dos Bancários (Av. Beira Rio, 3.100 – Tambauzinho), a partir das 21h.  O evento, com entrada franca, conta com o show dos poetas-cantadores Ivanildo Vila Nova (PE), Antônio Costa (PB), Feitosa Nunes (PB) e Raulino Silva (RN), mais a interpretação de Sílvia Patriota, José Patriota e Raimundo Patriota, filhos do homenageado. A organização do evento é do filho mais novo do poeta, o jornalista Fernando Patriota.

Improvisar. Foi este o sentido maior na vida de Otacílio Batista. Durante seus 79 anos e onze meses de idade, o grande poeta popular, além de se dedicar a criação de dez filhos, vivenciou, como poucos, o que o mundo da cantoria de viola pode trazer de bom ou de ruim na carreira de cantador profissional. Otacílio foi daqueles poetas populares completos. Tinha uma voz única, a que o levou a receber o apelido de “A Voz do Uirapuru”. Também possuía uma rapidez na construção de suas estrofes invejável e sabia criar versos em todas as modalidades do repente.

Improvisar. Foi este o sentido maior na vida de Otacílio Batista. Durante seus 79 anos e onze meses de idade, o grande poeta popular, além de se dedicar a criação de dez filhos, vivenciou, como poucos, o que o mundo da cantoria de viola pode trazer de bom ou de ruim na carreira de cantador profissional. Otacílio foi daqueles poetas populares completos. Tinha uma voz única, a que o levou a receber o apelido de “A Voz do Uirapuru”. Também possuía uma rapidez na construção de suas estrofes invejável e sabia criar versos em todas as modalidades do repente.

A vida e obra de Otacílio Batista se confunde um pouco com a própria história da cantoria de viola no País. O tributo, que chega a sua sexta versão é uma sincera e justa homenagem a meu pai. Aquele que foi um dos grandes nomes da poesia popular. Por seu talento indiscutível e por tudo que fez pelo repente e pelos repentistas, merece figurar entre os principais nomes de todos os tempos da cantoria. É difícil falar sobre repente sem citar Otacílio Batista. Afinal, foram quase 60 anos dedicados exclusivamente à arte das estrofes bem rimadas e metrificadas, publicação de livros, gravação de discos, vários prêmios em congressos, além de levar a cantoria para os quatros cantos do Brasil e países como Portugal, Cuba, Argentina e Bolívia. Otacílio literalmente respirava repente e quando não pôde mais improvisar parou de respirar.

Otacílio vem de uma família com mas de 100 repentistas natos. Filho de Raimundo Joaquim Patriota e Severina Batista Patriota, ambos paraibanos das cidades de Monteiro e de Teixeira. Sua mãe era sobrinha do primeiro cantador do Nordeste; Ugolino do Sabugi, este irmão dos poetas Nicandro Nunes da Costa e Agostinho Nunes da Costa Filho. Primo em primeiro grau dos famosos poetas Francisco das Chagas Batista, Antonio Batista Guedes e Pedro Batista.

Otacílio Batista nasceu no dia 26 de setembro de 1923, na então Vila de Umburanas, município de Itapetim, hoje, São José do Egito/PE, região do Pajeú das Flores. Otacílio Batista, até os 16 anos, trabalhava na agricultura com seus pais. Sua primeira cantoria foi no dia 6 de janeiro de 1940, com apenas 17 anos de idade, em São José do Egito, numa noite de Reis. Garoto branco, de olhos claros, alto, cabelos loiros, mais parecia um alemão que propriamente um sertanejo. Otacílio era uma criança normal. Um menino obediente, freqüentava a igreja, jogava bola e trabalhava duro no campo. Devido suas atividades na agricultura, só freqüentou até a quarta série primária. Seu Raimundo e Dona Severina eram conhecidos no lugar por sua retidão e severidade nas coisas da família e nos assuntos relativos ao pouco dinheiro que tinham.

Garoto inteligente, sempre estava animando seus amigos com piadas e canções. Não tardou e Otacílio ficou conhecido na redondeza. Seus irmãos sempre foram exemplos e ele tinha um profundo orgulho em fazer parte de uma família tradicional de cantadores. O então estudante de Direito da Faculdade de Recife/PE, Ariano Suassuna, resolveu realizar uma cantoria para fins filantrópicos. Mas, o diretor do teatro, Waldemar de Oliveira, conforme o próprio Ariano, não gostou da idéia de levar poetas populares a um verdadeiro templo da cultura, onde só se apresentavam nomes como Joaquim Nabuco, Castro Alves e Tobias Barreto. Contudo, os violeiros acabaram se apresentando e dali surgiu o impulso necessário para alavancar a carreira de inúmeros artistas.

Em 1947, Otacílio Batista enfrenta seu primeiro congresso de cantadores, no Teatro José de Alencar, ao lado do famoso Cego Aderaldo. O evento foi promovido por Rogaciano Leite e durante os três dias de pelejas, mais de quarenta e cantadores se enfrentaram no improviso  e disputavam os primeiros lugares, mas foi Otacílio e Aderaldo que sagraram-se campeões. A partir daí, começou uma seqüência de vitórias em congressos. Um ano depois, os irmãos Batista voltam a ser classificados entre os primeiros colocados no Teatro Santa Isabel. Ainda em 1948 tira o primeiro lugar na cidade de Gravatá/PE, num festival com trinta e oito violeiros. No ano de 1949, novamente ao lado de seus irmãos e do paraibano Pinto do Monteiro, cantou para a alta sociedade do Rio de Janeiro e São Paulo.

A vida artística de Otacílio Batista era eletrizante e as viagens não paravam de aparecer. Em 1959, venceu pela terceira vez um congresso de cantadores realizado no Rio de Janeiro e promovido pelo Jornal do Brasil e dirigido pela condessa Pereira Carneiro, proprietária do jornal. Uma década depois, pela quarta vez, a Voz do Uirapuru levava para casa o troféus de primeiro lugar no encontro de repentistas no Teatro do Parque, em Recife, realizado pelo poeta Rubens Teixeira. Em 1971, em João Pessoa, venceu pela quinta vez o festival de cantadores em João Pessoa/PB, no Teatro Santa Roza, promovido pelo governo do estado. No mesmo teatro, fazendo dupla com seu irmão Dimas Batista, alcançou o primeiro lugar no maior congresso de cantadores organizado pela Sociedade de Cantadores e Poetas Populares do Brasil (Sovibril), com sede em Fortaleza/CE.

Em 1975, Otacílio consegue o bi-campeonato da Sovibril, na cidade de Aracati/CE. No inicio dos anos setenta, Otacílio Batista estava em São Paulo, em companhia de Diniz Vitorino, para uma exibição didática das modalidades de viola na TV Cultura. O repórter da Nova Tribuna, Júlio Amaral de Oliveira, sabendo da visita dos dois poetas escreveu em seu jornal: “Otacílio Batista Patriota é um dos maiores nomes da poesia popular, não só pelas invulgares qualidades que ostenta mas, também, pela soma de tradições que é portador. Irmão dos notáveis repentistas Dimas e Lourival Batista Patriota, constituem a mais rutilante constelação de cantadores vivos. Nascidos na privilegiada cidade de São José do Egito que, por abençoado determinismo histórico, tem sido berço de outros famosos repentistas, como Rogaciano Leite, Agostinho Lopes dos Santos, Amaro Bernardino de Oliveira, Antônio Marinho, Antônio Pereira, Jó Patriota, João Batista de Siqueira (Cancão), João Izidro Ferreira, Cícero Bernardo de Sousa, Isidro Marcelino de Almeida, Joaquim Bernardino de Oliveira, José Filomeno de Vasconcelos, José Lopes Neto (Zé Catôta), José Vicente Mota, José Filomeno Júnior, Luiz Bernardes de Susa, Severino Augusto Maranhão, Vicente Amaro e outros. Os irmãos Batista elevaram bem alto a fama dos repentistas da região.

Foi Otacílio considerado por pesquisadores e pelos próprios cantadores um dos repentistas que mas divulgou a arte da cantoria pelo Brasil, América do Sul e Europa. Dono de uma voz forte e melodiosa, suas estrofes, sempre muito bem metrificadas, são dotadas de uma qualidade exemplar do mais puro repente que só pode ser encontrado na Serra do Teixeira, divisa dos estados da Paraíba e Pernambuco, berço dos menestréis do improviso. Os amantes do bom repente falam que por onde passa um cantador tudo se transforma em verso. Foi mais ou menos o que aconteceu Otacílio cantou para seis presidentes da República e para o cantor e compositor Roberto Carlos. Junto a seu irmão, Lourival Batista, no Teatro Santa Isabel, foi considerado um ícone da cantoria de viola, por Ariano Suassuna e o Otacílio Batista ainda cantou para seis presidentes da República; Eurico Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Jânio Quadros, Figueiredo e o Sarney. Em 1983 cantou para o Papa João Paulo, em Fortaleza/CE e convidado pelo o cantor e compositor Roberto Carlos para uma cantora particular na casa do ex-ministro da Justiça, Salomão Ramos.

Ao longo de sua carreira, Otacílio Batista cantou e fez dupla com os principais repentistas de sua geração, alcançando inclusive cantadores mais jovens, como é o caso de Oliveira de Panelas, com quem fez dupla por 25 anos. Além dos seus irmãos, Otacílio esteve ao lado de Pinto do Monteiro, Jô Patriota, Cego Aderaldo, Pedro Bandeira, Diniz Vitorino, Daudeth Bandeira, entre outros. Otacílio Batista e Oliveira de Panelas formaram uma das duplas mais duradouras e importantes da cantoria. Por 25 anos eles cantaram juntos e foram responsáveis por estrofes fenomenais em todos os estilos.  

Obras e presidentes  – Exímio repentista, detentor de vários prêmios e primeiro lugares nas cantorias, publicou vários folhetos, com os seguintes títulos: A morte do ex-governador Dixsept Rosado (RN); Versos à Câmara Cascudo: recebendo por esse, o troféu “Padre Cícero Romão Batista”, numa competição de quarenta poetas; Zé Américo em Versos; O Valor que o chifre tem (peleja com Dimas, seu irmão); Peleja de Zé Limeira com João da Mandioca;Peleja de Dom Pedro I com Pelé. Já gravou dez LPs. Publicou, em 1971, seu primeiro livro “Poemas e Canções”, cuja edição se encontra esgotada. Durante sua lona carreira, Otacílio já cantou para seis presidentes da República: Eurico Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Jânio Quadros; para Figueiredo e o Sarney. Em 1983 cantou para o Papa, em Fortaleza-Ce.

Em parceria com o poeta e professor Francisco Linhares, lançou e foi consagrado pelo povo, a Antologia Ilustrada dos Cantadores.(1976 e 1982). Esse livro é considerado a “Bíblia da Cantoria”, onde estão registrados a vida e obra de 300 repentistas. Antes, em 1971, Otacílio Batista escreveu Poemas e Canções. Depois da segunda edição de antologia, publico Poemas que o Povo Pede, Ria até Cair de Costa (1982); Caçador de Veados (1987); O que me falta fazer mais (1990); Poemas Escolhidos (1993); os autobiográficos Os Três Irmãos Cantadores (1995) e Dois Poetas do Povo e da Viola, com Oliveira de Panelas (1996). Ainda publicou A Criança Abandonada e outros poemas; Os Versos Apimentados do Velho João Mandioca e os cordéis: Zé Limeira, poeta dos disparates, Apelo ao Papa, Peleja de Otacílio Batista com Zé Ramalho, Dr. Alisando Cresce, Os Bichos contra a Ciência, O Namoro de Hoje em Dia e A Morte de Padre Zé. É autor da letra: Mulher Nova Bonita e Carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor, gravada por Amelinha e Zé Ramalho.(1982). Essa música serviu de trilha sonora no seriado da Rede Globo, “O Lampião”. Outra letra sua, foi gravada por Luís Gonzaga – O Papa e o Jeque. Pinto do Acordeon gravou – O Dolar e o Cruzado, também letra de sua autoria.

Sua discografia também é vasta. Durante sua carreira o poeta gravou: Cantador, Verso e Viola (com Lourival Batista, 1983); Viola, Verso e Viola com os irmãos Batista e Diniz Vitorino (1973); Repentistas, os gigantes do improviso, com Diniz Vitorino (1973); Apelo ao Papa, com Pedro Bandeira (1980); Otacílio Batista do Pajeú (1982); Só Deus improvisa mais, com Oliveira de Panelas, (1979), Mec 1984 e Meio Século de Viola (1989). Outras participações especiais: Coletânea de Repentistas: Canção “Lua Divina”, gravada por Oliveira de Panelas, 1975; Nordeste: Cordel, Repente: canção: “gado bom quem tem sou eu” gravado por ele próprio.

Otacílio Batista foi tema de matérias jornalísticas em alguns do principais veículos de comunicação do país, como Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Veja. Sua vida e obra inspiraram documentarista de várias universidades, a exemplo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da TV João Pessoa. Seu nome está registrado em dezenas de monografias e o livro Antologia Ilustrada dos Cantadores figura nas prateleiras da Biblioteca Central de Moscou, uma das mais importantes do mundo. O papa João Paulo II, quando fez sua visita ao Brasil, em 1980, Otacílio Batista cantou para sua santidade, no Estádio Castelão, em Fortaleza e lhe entregou um exemplar de Criança Abandona.

Outro meio de comunicação de massa muito bem utilizado por Otacílio Batista foi o rádio. Em Pernambuco participou diversas vezes no programa da Rádio Clube e em emissoras do município de Caruaru e na capital do Cerará, Fortaleza. Na Rádio Tabajara, como sede em João Pessoa, manteve um programa por mais de dez anos, intitulado “Ao Som da Viola”. Com duas edições diárias, uma às 5h e ou às 17h, até hoje é considerado um dos programas de maior audiência da história da rádio. Na televisão, Otacílio participou de algumas exibições do “Som Brasil”, apresentado por Rolando Boldrim e veiculado nas manhãs de domingo pela Rede Globo.

Tributo e morte de Otacílio – Em homenagem ao inesquecível poeta, o filho mais novo do repentista organiza o Tributo a Otacílio Batista. O tributo já está no calendário anual de cultura de João Pessoa. O evento comunga com semana do aniversário da Capital paraibana.No dia 5 de agosto de 2003, em sua própria casa, no Bairro do Brisamar, na capital paraibana,  morria aos 79 anos A Voz do Uirapuru. Otacílio foi vítima de uma parada cardio-respiratória. Seus livros, discos, entrevistas e principalmente suas cantorias serviram e servem de inspiração para compositores de todos os estilos e principalmente para seus pares.

Fonte: Jornalista Fernando Patriota