A FEBRABAN está preocupada com a imagem. A associação dos bancos encomendou uma pesquisa com "formadores de opinião". Fazem perguntas engraçadas como "o que você acha da atuação da Febraban pelo interesse do país?" ou de suas "ações de responsabilidade social e ambiental", por aí.

A banca anda tiririca com a queixa contínua sobre "spreads" etc. Atribui ao governo e a Henrique Meirelles, presidente do BC, a responsabilidade pela deflagração da "campanha" e pela má fama mais recente.

Nos dois meses seguintes à explosão da crise, em setembro de 2008, o povo dos bancos dizia (ou ao menos conta que dizia) ao pessoal do Banco Central que a lerdeza do BC no relaxamento do crédito contribuía para o tumulto. Passado o terror, banqueiros contam que não foi nada improvável a quebra de um banco menor naquele trimestre final de 2008.

Tal azedume entre as partes, ex-pares e futuros pares, ficou público em janeiro, quando Marcio Cypriano, do Bradesco, pediu corte emergencial de juros em reunião de empresários e governo. Meirelles rebateu que o problema não era a Selic, mas o "spread" bancário. Desde então, fala-se um tanto menos de Selic. Esperto, Meirelles passou o "problema de imagem" para a banca.

No domingo, em entrevista a esta Folha, Fabio Barbosa, presidente da Febraban, tentou outra vez desfazer o que chama de mitos sobre a atividade bancária, de fato objeto de vários disparates populistas.

Barbosa diz que o crédito dos bancos privados cresceu na crise, "em termos nominais". Bem, desde setembro, cresceu 2% (em termos reais, caiu). Nos públicos, cresceu 18%. Mais divertido, diz que, "principalmente em setores mais sensíveis a preços", uma redução de juros nos bancos estatais faria a banca privada se mexer. A expressão divertida é: "mais sensíveis a preços". A gente imagina então que parte dos negócios dos bancos não é sensível a preços, a idas e vindas do mercado. Bancos fixariam os preços (juros) e pronto. Quando isso ocorre em outros mercados, a gente suspeita de oligopólio.

A Febraban se queixa de que os dados sobre "spread" (divulgados pelo BC) são limitados e mal-entendidos. De fato, o número do BC é uma média. Esse valor absoluto pouco diz sobre a situação dos vários mercados de empréstimos. Serve mais para indicar se o "spread" subiu ou caiu, muito ou pouco. Mas a Febraban contesta o dado com um estudo que também trata de valores absolutos, misturando de resto maçãs com jacas, pois enfia na conta os "spreads" de juros regulados. Faz uma contrapropaganda tão frágil como aquilo que critica.

Barbosa repele outra vez a ideia de que bancos ganham dinheiro com a Selic alta: o dinheiro que os bancos captam custaria 2% mais que a Selic (se investirem só em juros da Selic, perdem dinheiro, óbvio, embora vários papéis do governo paguem mais que Selic). Mas esse custo é o de uma média de bancos? Uma das médias criticadas pela Febraban (como a do "spread")?

Das associações empresariais grandes, a Febraban é a mais pobre e enviesada no quesito produção e divulgação de informações. "Contribuiria para o país" se fornecesse mais números para o debate.

Fonte: Folha de São Paulo

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