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Apenas 54% do total de trabalhadores do grupo tem vínculo direto com o banco
Entre 2009 e 2024, o Santander Brasil fechou 280 agências (10% da rede física) e mais 374 pontos de atendimento apenas entre 2023 e 2024. O banco divulga que aumentou o número de empregados, de 47.819 em 2009 para 55.646 em 2024, mas não conta que houve grande redução no número de bancários. Isso porque o grupo espanhol pratica no Brasil a terceirização fraudulenta: cria empresas coligadas (são 20 no total) e depois transfere os trabalhadores para essas empresas, com contratos trabalhistas que os retiram da categoria bancária, e com isso burlando os direitos previstos na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários.
Apenas 54% do total de trabalhadores do grupo tem vínculo direto com o banco. E o resultado disso são redução de salários e benefícios, perda de representatividade sindical e enfraquecimento da categoria bancária.
Esses dados foram apresentados pelo deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT) em audiência pública sobre a prática fraudulenta do Santander, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), ocorrida na segunda-feira (16). A audiência, que lotou o auditório Teotônio Vilela, contou com a presença de dirigentes bancários da Contraf-CUT, da Fetec-CUT SP e de vários sindicatos do estado.
“Com essa prática nociva, o banco espanhol desrespeita o Brasil, prejudicando clientes, com a exclusão bancária dos mais vulneráveis pois as agências fechadas estão situadas principalmente nos bairros periféricos da Grande São Paulo e nos municípios do interior, e também trabalhadores, retirando direitos e enfraquecendo os sindicatos”, destacou Marcolino, que foi o proponente da audiência.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, ressaltou que o banco não quer pagar mais impostos, pratica fraude trabalhista, demite e fecha agências, promovendo a exclusão bancária principalmente da população mais pobre e dos idosos, que muitas vezes não conseguem usar os aplicativos. “Estamos aqui para denunciar o abuso do Santander para a sociedade, e faremos também diversas ações de comunicação e mobilização. Essa audiência é a primeira de uma série de outras em vários municípios paulistas. É uma estratégia importante para fortalecer a nossa luta”, disse Neiva, que compôs a mesa da audiência.
Além de Neiva Ribeiro e de Luiz Cláudio Marcolino, a mesa do debate foi composta por Wanessa Queiroz, coordenadora da comissão de empresa e bancária do Santander; Raimundo Suzart, presidente da CUT/SP; Aline Molina, presidenta da Fetec-SP, Rita Berlofa, secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT e bancária do Santander; Maria Rosani Gregorutti, presidenta da Afubesp e bancária do Santander; e Rosângela Vieira, técnica do Dieese.
Mais dados
A economista Rosângela Vieira apresentou dados que comprovam a fraude cometida pelo Santander: Rosângela: “Apesar de o lucro do grupo no país representar entre 18% e 20% do resultado mundial, ficando atrás apenas da Espanha, o Santander reduz os empregos bancários no Brasil. Entre 2009 e 2024 o número de empregados cresceu, mas ao mesmo tempo, as despesas com pessoal do banco caíram 4,1% e a despesa média por trabalhador teve queda de 17,6%. E como o Santander consegue aumentar empregos reduzindo o gasto com pessoal? A resposta é justamente as fraudes trabalhistas que o banco vem praticando, que reduzem salários e benefícios, terceirizando trabalhadores para outras empresas coligadas do grupo.”
Santander não compareceu
O Santander foi convidado para a audiência, mas não compareceu e enviou uma carta para ser lida no auditório. O deputado Marcolino disse que não leria a carta, em protesto pelo desrespeito ao convite da Alesp, mas destacou que o banco ainda diz no documento que os trabalhadores transferidos para as outras empresas estariam ganhando benefícios maiores.
Os dados apresentados pela economista do Dieese contrastam com o que o banco diz: um trabalhador da F1rst, por exemplo, tem jornada de 8 horas, enquanto a dos bancários é de 6h; o bancário do Santander recebe adicional noturno de 35% entre 22h e 6h, e empregado da F1rst não tem adicional até 00h; o VA e VR dos bancários somam R$ 1.984,00, enquanto que o terceirizado da F1rst recebe R$ 1.101,00; além disso, a PLR dos bancários, definida na CCT, corresponde a até 2,2 salários mais uma parcela fixa de R$ 6.942,00, enquanto que os da F1rst recebem apenas o programa próprio baseado em rentabilidade e metas.
“O Santander já extinguiu 20 mil postos de trabalho, a maioria de mulheres. E sem nenhuma justificativa diante dos lucros bilionários do banco. Apenas com o que arrecada com receita de tarifas, o banco paga em quase duas vezes a sua folha de pessoal. Os clientes continuam pagando altas tarifas mesmo com o avanço tecnológico. E assim o banco vai prejudicando pais e mães de família com demissões, redução de ganhos, sobrecarga e adoecimento”, reforçou Wanessa Queiroz.
Ao final do debate, foram aprovadas novas medidas para denunciar e tentar reverter as fraudes cometidas pelo banco, que se nega a discutir as práticas em mesa de negociação com o movimento sindical.
Fonte: SP Bancários