BRASÍLIA e RIO. Os bancos não demoraram para reagir às medidas do Banco Central (BC) que restringiram o crédito em dezembro e, além de reduzir ritmo de concessão de empréstimos, elevaram com força os juros cobrados aos consumidores, que retornaram ao patamar da crise internacional de 2008 e 2009. Em janeiro, até o dia 12, os juros médios cobrados das pessoas físicas já chegavam a 45,1% ao ano, salto de 4,5 ponto percentual sobre dezembro, que, por sua vez, já havia registrado elevação de 1,5 ponto sobre o mês anterior. Trata-se do maior patamar desde junho de 2009, quando estavam em 45,6%.

Para as empresas, as taxas médias cobradas também subiram, de 27,9% para 29,4% ao ano, perdendo apenas para a taxa de fevereiro de 2009 (30,9%). Pior: segundo analistas, a tendência de alta deve se manter por causa do ciclo de aperto monetário, iniciado semana passada pelo BC, também reduzindo as concessões, prazos e podendo elevar a inadimplência das famílias.

– Sem dúvida há o impacto das medidas macroprudenciais tomadas em dezembro – reconheceu ontem o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

No fim de 2010, o BC divulgou ações que encareceram o crédito de consumo de longo prazo, como para compra de automóveis, além de ter elevado os compulsórios bancários. O objetivo foi reduzir o risco de inadimplência, frear o consumo e atenuar a pressão inflacionária.

Lopes reconheceu, ainda, que a alta da taxa básica de juros, de 10,75% para 11,25% ao ano, decidida semana passada, vai piorar o cenário para o consumidor. A Selic serve de parâmetro para a captação dos bancos e, na avaliação do mercado, chegará a 12,25% em abril.

Para o economista da Tendências Alexandre Andrade, o encarecimento do crédito levará a um aumento da inadimplência dos consumidores no curto prazo. Para pessoas físicas, por exemplo, ele acredita que chegará a 6,7% este ano, um ponto percentual sobre o número de dezembro passado. Lopes, do BC, argumenta que vê apenas uma "estabilização" da inadimplência, que vinha em trajetória de queda desde meados de 2009. Mas na equipe econômica já há avaliações de que os calotes podem crescer no curto prazo.

Segundo dados do BC, a inadimplência das famílias fechou dezembro em 5,7%, a menor desde julho de 2001, quando estava em 5,5%. Há um ano, era de 7,5%. Com juros mais altos, o BC já detectou também uma redução nas concessões de crédito: em janeiro, até o dia 12, haviam caído 8% em média. As modalidades que mais devem sofrer com o pé no freio são os CDCs para veículos e bens duráveis, além do consignado.

O volume total de crédito no país fechou 2010 em R$1,704 trilhão, com alta de 20,5% no ano, o equivalente a 46,6% do PIB. Para 2011, o BC calcula que chegará a 50% do PIB.

A inflação e o temor de uma alta maior dos juros pesaram ontem sobre ações na Bovespa de empresas que dependem da dinâmica do crédito – construtoras, bancos e varejistas. O Ibovespa recuou 1,03%, aos 68.709 pontos, menor patamar em um mês. As ações ordinárias (ONs, com voto) da PDG Realty caíram 6,10%, maior tombo desde maio, liderando as perdas do índice. Os papéis ONs da B2W Varejo recuaram 4,54%. Já as units do Santander perderam 2,78%. O dólar comercial fechou estável, a R$1,671. O BC comprou US$350 milhões em dois leilões no mercado à vista.

Fonte: O Globo  / Patrícia Duarte e Bruno Villas Bôas

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