Artigo de Gonzaga Rodrigues
 
Esteve em moda, há anos, falar em vocação da terra. Expressão feliz, não há dúvida, humanizando o jargão dos economistas.

Antes disso, os Guimarães Duque, os José Augusto Trindade, os Fernando Melo já tratavam como “vocação” os talentos naturais de regiões e sub-regiões para determinadas culturas. A excelência das terras do agreste, da caatinga e do alto sertão para o cultivo do algodão era uma dádiva dos céus, por mais que os céus nos castigassem. A pujança algodoeira da Paraíba em 1935 foi uma junção feliz das necessidades do mercado internacional com a propicialidade das nossas terras. No livro de Anton Zischka, “A guerra secreta pelo algodão”,a Paraíba faz uma pontinha nessa guerra internacional. Guerra pelo “ouro branco”.
Imagine-se, naquela época, a repercussão em nossas vidas de uma notícia como esta, desta última semana de janeiro de 2011:
“Nos últimos 12 meses, os contratos futuros de algodão, dispararam 145% em Nova York”. Ou a projeção de crescimento feita pelos produtores para todo o ano: “As perspectivas de que os preços da pluma se mantenham elevados nos próximos anos fez com que os cotonicultores aumentassem em mais de 45% a área de cultivo”.
Aonde isso? No Mato Grosso, no Maranhão, até mesmo no Piauí. A Paraíba continua fora, não dá mais algodão. Já deu. Que falta não faz a catequese de Adalberto Barreto a serviço da mais social das grandes culturas da Paraíba!
Vale recordar e, mais ainda, se “recordar é viver”. Em 1935 comparecemos na “guerra secreta” das grandes nações produtoras com 45 mil toneladas em rama e 105 mil em caroço, só perdendo para São Paulo. A terra era boa, os homens também.
Ah! Mas a bondade da terra e dos homens dependia do mercado. Havia um mercado internacional em luta pelo algodão.
E que dizer de agora? Há um mercado muito mais carente , a China engrossando o cordão, os estoques apertados, o consumo muito mais agigantado!
Ainda será o bicudo de 1982, de trinta anos atrás? Ou será a mudança de comportamento do homem, do homem agrícola, do homem político, do homem em geral?
Será que o algodão tem futuro para todos os povos e nações, menos para a Paraíba?!
Ou levaram para longe a semente do arbóreo famoso junto com a semente do paraibano? Coisa parecida com a borracha, cuja semente foi roubada por um filho da p. que entrou na história como sir Henry Wickham, aquele marginal que em 1876 roubou as sementes de seringueira do Brasil para plantá-las em Singapura e quebrar o monopólio brasileiro da borracha.
Ouvi de uma conversa de feira , na semana passada: “A semente do homem começou a carunchar com a do bicudo. Nunca mais deu algodão que prestasse. O plantio não chega para garantir a fiação que sustenta as redes de São Bento e de outros pequenos negócios. A Paraíba não tem pique para concorrer com a tecnologia e os capitais do agro-negócio.”
E fica a ver navio, todo mundo na beira da praia, de costa para os fatores positivos comemorados por outras terras e outros moradores da própria região.
 
Fonte: Jornal da Paraíba / Gonzaga Rodrigues