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“É um problema que existe, que não é inventado”, diz procuradora do MPT

Um ato público sobre o assédio moral nos estabelecimentos bancários foi realizado na terça-feira (22), em Curitiba, assim como estão ocorrendo nas demais 27 regionais do Ministério Público do Trabalho (MPT) em todo país.

Na capital paranaense, as palestras foram realizadas pela procuradora do trabalho Sofia Vilela, coordenadora regional de uma organização do MPT que combate as discriminações no trabalho, a coordigualdade; pelo advogado Wilson Ramos Filho (Xixo), da Declatra; e pelo médico do trabalho Elver Moronte, da procuradoria regional do trabalho.

A diretora da Secretaria de Saúde Ana Fideli representou o Sindicato dos Bancários de Curitiba na abertura do evento, destacando a sua satisfação em participar de um evento com foco no assédio moral. Ela informou que a ameaça de dispensa é constante nos locais de trabalho e que, somente na base da entidade, de janeiro a setembro de 2013, ocorreram 1.200 demissões. “Que este evento sirva para que haja verdadeira compreensão dos males do assédio moral como causador de doenças”, finalizou.

Durante o ato, o Ministério Público do Trabalho lançou a cartilha “Assédio Moral em estabelecimentos bancários”, que será disponibilizada em breve nos meios eletrônicos.

A procuradora do MPT, Sofia Vilela, destacou que o assédio moral na categoria bancária é um problema comprovado por denúncias individuais e pelas atuações de investigação do Ministério Público. E que o objetivo do ato é esclarecer o que é e o que não é assédio e procurar uma solução para o problema. “Se a justiça do trabalho está se manifestando, julgando e condenando, é porque é um problema que existe, que não é inventado”, sentenciou.

O assédio moral é caracterizado pela conduta abusiva e repetitiva no ambiente de trabalho e o que mais atinge a categoria é o assédio organizacional. “É uma problemática que buscamos mudar. Precisa desrespeitar para obter o lucro?”, questiona. A procuradora recomenda que as práticas sejam registradas pela vítima e que seja feita denúncia ao Sindicato e ao MPT.

Origem do assédio moral

O advogado Wilson Ramos Filho fez uma exposição sobre como o assédio moral surgiu nas relações de trabalho e de que forma se tornou epidemia, especialmente na categoria bancária. “Até o início dos anos 1980, as pessoas tinham a expectativa de um plano de cargos e salários, passavam a vida toda trabalhando num banco, tinham confiança em fazer um financiamento habitacional longo, a educação boa era a pública e os hospitais de referência eram os públicos”, descreveu.

Com a queda do muro de Berlim, o sistema capitalista deixou de ter concorrência, foram realizadas reformas trabalhistas que precarizaram os direitos e foram alteradas as maneiras de produção. As empresas passaram a ser enxugadas e, neste contexto, o foco no cliente chegou ao ponto da subordinação do cliente, que passou a trabalhar no lugar do bancário ao iniciar a utilização dos caixas eletrônicos.

Por consequência, houve a flexibilização salarial. A referência passou das horas de trabalho para o cumprimento de metas. O serviço passou a ser individualizado e o trabalhador, polivalente.

O advogado citou três tipos de assédio moral: o perverso, o estratégico e o organizacional, que seria o responsável pelo adoecimento da categoria bancária. “O que adoece os bancários é o assédio decorrente dos métodos de gestão. A cobrança por metas, a pressão permanente, as ameaças constantes. E por que não se rebelam? Porque querem o reconhecimento.”

Saúde dos trabalhadores bancários

O médico do trabalho, Elver Moronte, falou sobre a mudança no perfil de adoecimento da categoria, decorrente do assédio moral. “O mundo do bancário causa mais probabilidade de infarto do que do não bancário”, disse.

Ele demonstrou como exemplos pré-requisitos de perfis desejados pelos bancos no anúncio de vagas dos bancos: “comprometimento com o resultado, no caso de cargos de gerência, e “capacidade de trabalhar sob pressão”, no caso de uma vaga aberta para caixa.

Para ele, os malefícios para a saúde é causado pelos extremos a que os bancários estão submetidos: curto prazo; resultados imediatos, ansiedade, excesso de flexibilidade que diminui a confiança. O médico acredita que, mais do que prevenir o assédio moral, é preciso que haja a promoção da saúde nos estabelecimentos.

Fonte: Contraf-CUT com Seeb Curitiba

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