O setor bancário na Turquia pode ser prejudicado, a menos que o banco central reverta sua decisão do ano passado de deixar de pagar juros sobre reservas obrigatórias, declarou o diretor de uma das maiores instituições de crédito no país.

Suzan Sabanci, presidente do Akbank, disse ao "Financial Times" que as novas regras que exigem dos bancos que mantenham 15% dos depósitos de curto prazo em liras no Banco Central criam um risco de enfraquecer fundamentalmente os bancos, a menos que estes, em compensação, recebam um pagamento de juros.

"O governo está tentando tomar cuidado para que a economia não cresça muito rápido, e eu concordo com isso", disse Sabanci. "Mas temos de ser recompensados. Eles deveriam começar a pagar juros após seis meses".

A economia turca cresceu 8,9% em 2010, tendo o crescimento do crédito avançado para 35% ano sobre ano. O banco central manteve as taxas de juro em mínimos históricos, ao tentar impedir entradas de capitais. O BC quase triplicou os percentuais de reservas exigidas, para 15%, desde novembro, num esforço para diminuir o crescimento dos empréstimos e deter o superaquecimento da economia.

Embora muitos banqueiros estejam sendo cautelosos, a política já se revelou controvertida. Ersin Ozince, executivo-chefe do Isbank, maior banco turco não-estatal e chefe da associação dos bancos, demitiu-se abruptamente há cerca de 10 dias após criticar duramente tanto o banco central como o governo.

"Acho que o sistema bancário está sendo penalizado na hora errada e de uma maneira muito desnecessária", disse Ozince. "Minha preocupação é que investimentos em bancos sejam transferidos para outros países."

As ações de bancos, que têm peso forte na bolsa de Istambul, estagnaram, neste ano, exibindo desempenho inferior às de concorrentes estrangeiros. Os lucros dos bancos estão sendo corroídos por uma renda líquida de juros mais fraca e menor rendimento de títulos indexados pela inflação.

Sabanci disse que a política deverá eliminar 3,5 bilhões de liras turcas (US$ 2,3 bilhões) dos lucros dos bancos, neste ano, privando o setor de cerca de 2,8 bilhões de liras turcas de possível crescimento de capital via retenção de lucros.

Os bancos turcos, que atravessaram incólumes a crise financeira mundial, estão fortemente capitalizados e em rápido crescimento. "Mas esse vigor poderá não estar disponível para sempre, se não pudermos reconstituir o capital", disse Sabanci.

"Mas é improvável que as queixas dos banqueiros convençam as autoridades monetárias. Seria contraditório com a política monetária se continuassem a pagar juros. O objetivo é aumentar o custo dos empréstimos ", disse Sengul Dagdeviren, economista do ING. O banco central queria que as proporções de reservas exigidas se tornassem "uma ferramenta para gestão do crédito", acrescentou.

Ali Babacan, o ministro da Economia, apoia a política do banco central, e em viagem à China neste mês, disse: "Claro que haverá [banqueiros] chorando e reclamando. Isso é natural… mas estamos fazendo isso para que a Turquia não tenha que pagar o preço novamente. Ninguém deveria esquecer a crise de 2001-02".

Alguns analistas dizem que executivos do setor bancário estão exagerando o impacto e estimam que, no pior dos casos, a política monetária reduzirá em 5% a 7% os lucros estimados para 2011 – o que poderá ser compensado pelo crescimento econômico.

A Moody’s, agência de classificação de crédito, disse que as medidas tomadas pelo banco central deverão fortalecer o setor, porque estimularão um "crescimento mais sustentável do crédito". Como as margens de reservas exigidas são menores para depósitos de longo prazo, a política monetária também poderá ajudar os bancos a eliminar o descompasso entre captação de recursos em curto prazo e concessão empréstimos no longo prazo.

Sabanci disse que o Akbank deverá sentir um impacto menor do que outros bancos porque sua baixa proporção de créditos e depósitos, a 78%, lhe permite aumentar a concessão de empréstimos, apesar das restrições artificiais sobre o montante de depósitos instituídas para bancar os empréstimos.

Ele afirma e que os volumes de crédito ao consumidor provavelmente crescerão entre 20% e 25% neste ano, coerente com a meta do banco central, abaixo dos mais de 40% em 2010.

Fonte: Bloomberg

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