Os números divulgados pelo Banco Central mostram que os bancos privados seguem reticentes em aumentar a oferta de crédito. O estoque de empréstimos e financiamentos dessas instituições cresceu só 0,36% em outubro. O ritmo foi bem inferior ao dos bancos públicos, cuja carteira aumentou 2,6% no mês, puxando a média do sistema financeiro para 1,4%.

A carteira dos privados de controle nacional, especificamente, cresceu menos ainda que a média e variou 0,2% em outubro. Olhando para períodos mais longos, as variações de saldo também apontam menor dinamismo das instituições privadas. No caso delas, o volume de crédito cresceu 5,57% no acumulado do ano até outubro, taxa inferior a um terço da registrada pelas instituições sob controle dos governos (19,9%). Em 12 meses, enquanto a carteira dos bancos privados se expandiu 7,91%, a dos estatais cresceu 28,4%.

A diferença no tamanho do passo levou os privados a perderem, só neste ano, mais de três pontos percentuais de fatia de mercado. A participação deles no conjunto de operações, que era de 56,47% no fim de 2011, fechou outubro em 53,32%, fazendo com que a dos públicos subisse, consequentemente, de 43,53% para 46,68%.

Esse processo não é recente. Mas se acelerou em relação aos dois últimos anos. Em 2011, a participação dos privados no total da carteira do sistema encolheu e a dos públicos aumentou cerca de 1,3 ponto percentual. Em 2010, a perda tinha sido ainda menor, de 0,3 ponto percentual.

Em 2012, a situação está mais parecida com a de 2009, ano em que a fatia de mercado "transferida" de privados para públicos superou 5 pontos percentuais. Na época, como agora, o governo orientou os bancos federais a aumentar a oferta de crédito para compensar a retração dos privados e estimular a economia.

Por causa do que ocorreu em 2009 e do que está se repetindo este ano, em menos de quatro anos a participação do sistema financeiro privado no total de empréstimos e financiamentos apurado pelo BC já caiu mais de 10 pontos percentuais, pois era de 63,75% no fim de 2008.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, voltou a apontar o crédito direcionado como a principal explicação para o avanço dos públicos, sobretudo em função de financiamentos habitacionais. O crédito concedido com recursos de aplicação obrigatória, cujas linhas são mais concentradas em bancos públicos, de fato, segue crescendo mais que o oriundo de recursos livres. Mas o ritmo de avanço da carteira dos bancos públicos tem sido mais acelerado que o do crédito direcionado, o que sugere que o crescimento deles está se dando também com base em recursos livres.

Em outubro, o estoque de crédito direcionado exibiu alta de 1,9% no mês, 14,5% no acumulado do ano e de 20,9% em 12 meses. Todas essas taxas são inferiores às respectivas variações do volume de crédito dos bancos públicos (2,6%, 19,9% e 28,4%).

O crédito com recursos livres aumentou, nos mesmos períodos, 1,1%, 10,3% e 14,2%. O fato de a carteira dos privados ter crescido menos do que isso é mais um indício de que os bancos públicos também estão crescendo mais em operações com recursos livres.

Fonte: Valor Econômico

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