Ao final do terceiro trimestre, os grandes bancos brasileiros de capital aberto apresentaram uma postura conservadora semelhante: o aumento de provisão para crédito de liquidação duvidosa (PDD). A exceção ocorre com o Itaú Unibanco, que já havia realizado o aumento no segundo trimestre. Para alguns especialistas, a decisão funciona como uma prevenção à inadimplência futura, já analistas de corretoras observam reflexos negativos no mercado acionário, já que há impacto na margem financeira.

Na soma das provisões realizadas até setembro de 2011 pelo Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander, o saldo chega a R$ 73,844 bilhões, acréscimo de 11,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando chegou a R$ 66,245 bilhões.

Para o professor de Administração da ESPM, André Accorsi, a provisão consiste em uma reserva para deteriorações futuras, que pode ser utilizada para outras finalidades caso não haja elevação do calote.

O presidente da agência classificadora de risco Austin Rating, Erivelto Rodrigues, concorda que as instituições aguardam problemas. "O crédito deve crescer e a inadimplência deve subir marginalmente. Se complicar, podem utilizar esse saldo. Também não sabem qual será a profundidade e impactos no Brasil da crise externa. Então se preparam para um aumento da inadimplência".

O Bradesco elevou o saldo em 19,2% em setembro de 2011 ante 2010, de R$ 16,019 bilhões para R$ 19,091 bilhões. "O que teve uma política mais agressiva foi o Bradesco, o que penalizou o resultado. Mas fica protegido para qualquer problema e, se não tiver, pode realizar uma conversão e gerar resultado", explica Rodrigues. O especialista se refere ao crescimento no lucro de 1,1% no trimestre, para R$ 2,815 bilhões.

O diretor e vice-presidente de Relações com Investidores do Bradesco, Domingos Figueiredo de Abreu, explicou: "Para os próximos meses trabalhamos com inadimplência estável, mas é salutar elevar a provisão em cenário de incertezas". O índice total de inadimplência chegou a 3,8% e as despesas de provisão, que compõem o saldo, elevaram 35,4%, para R$ 9,125 bilhões.

O Santander também elevou o saldo da provisão em 29,8% na comparação anual, para R$ 11,423 bilhões, de acordo com o padrão contábil Br Gaap. "O Santander enfrenta alguns problemas na Europa e é natural que no Brasil também fique mais conservador", observa o professor André Accorsi. Já as despesas com PDD cresceram 39,1% no mesmo período, para R$ 8,698 bilhões.

Oposto aos concorrentes, o Itaú Unibanco não apresentou significativa expansão nas provisões, de 6,2% em setembro de 2011 ante o mesmo período de 2010, de 23,284 bilhões para R$ 24,719 bilhões.

Durante a apresentação do balanço, Rogério Calderón, diretor-corporativo de Controladoria, explicou que a antecipação às perdas já havia sido realizada no segundo trimestre e que o índice de inadimplência, em 4,7%, confirmou a expectativa. "Se estivéssemos esperando deterioração da carteira aumentaríamos, o que não ocorreu". As despesas, entretanto, elevaram 17,1%, para R$ 10,544 bilhões.

No entanto, a postura conservadora também apresenta aspectos negativos. Em relatório, o analista Fernando Salazar, da Fator Corretora, menciona que o resultado do Banco do Brasil, com lucro de R$ 2,9 bilhões de julho a setembro, foi aquém das projeções por conta da menor margem financeira e elevação das provisões. "Houve aumento das despesas com PDD acima do crescimento da carteira".

O saldo de PDD do BB expandiu 2,6% nos primeiros nove meses do ano, para R$ 18,611 bilhões, com despesas de R$ 8,764 bilhões, o que representa uma alta de 7,8% no mesmo período.

O impacto da elevação da provisão na margem financeira é uma opinião também compartilhada pelos analistas Marco Saravalle e Bruno Camargo, da Coin Valores. "Eleva a provisão, o que impacta na margem e cotação".

Marco Saravalle detalha que observou impacto dos resultados no comportamento das ações e Camargo complementa que um dos motivos principais está na PDD. "Até pela exigência do sistema, os bancostêm uma postura conservadora com o aumento da provisão, o que pune as margens". Os analistas complementam que essa decisão observa o cenário do quarto trimestre de 2011 e primeiros meses de 2012.

Fonte: DCI