Uma briga cada vez mais intensa entre os bancos europeus por depósitos está pressionando ainda mais o sistema bancário do continente e ameaça privar os credores de uma fonte crucial de financiamento, já que eleva o custo para atrair correntistas.

Pessoas e empresas sacaram nos últimos meses bilhões de euros em depósitos de bancos dos países abalados financeiramente do sul da Europa, como Espanha e Itália, segundo informes dos bancos ao mercado e pesquisas de analistas.

Vários bancos importantes da Itália e da Espanha divulgaram recentemente porcentagens de declínio na faixa de dois dígitos nos depósitos de empresas e outros clientes institucionais, embora o total de depósitos tenha registrado uma queda mais moderada. A base de depósitos dos bancos espanhóis caiu ? 48 bilhões (US$ 64,8 bilhões), ou 2%, no terceiro trimestre, segundo o Banco da Espanha, o banco central espanhol.

Enquanto isso, bancos de países como Espanha, Portugal e Itália estão correndo para manter os clientes que já têm e para atrair novos oferecendo juros crescentes nos depósitos, o que encarece o ônus dos bancos para se financiarem a um custo aceitável.

O juro médio dos depósitos na Itália tem subido nos últimos 12 meses. Chegou a 2,6% em setembro, quase o dobro do nível do início do ano, segundo o Banco da Itália, o banco central do país. Os bancos estão usando a criatividade no marketing para tentar atrair clientes a depositar neles. O Banco Espírito Santo, um dos maiores de Portugal, contratou recentemente o craque Cristiano Ronaldo para oferecer juro de 4% para quem deixar de ? 25 mil a ?2 milhões de euros na conta por 6 a 12 meses.

Desde a metade do ano, em meio aos temores crescentes quanto à saúde financeira dos bancos e governos europeus, que a indústria bancária está sem poder levantar recursos nos mercados de capitais, com a maioria dos grandes investidores se negando a continuar financiando os bancos europeus.

É certo que os analistas dizem que os bancos em geral ainda têm centenas de bilhões de euros em depósitos, muitos deles de clientes pessoa física que tendem a não querer trocar de banco. Os credores também podem recorrer aos mecanismos de suporte financeiro do Banco Central Europeu e oferecer títulos de dívida soberana ou outros ativos como garantia.

Mas se a seca continuar, ela pode se tornar uma ameaça séria. Os bancos europeus têm pela frente uma onda de vencimento de dívidas no ano que vem – de até ? 800 bilhões, segundo estimativas de alguns analistas. Se os bancos não substituírem esses recursos com a venda de títulos de dívida ou com novos depósitos, terão de compensar cortando o crédito que oferecem.

A situação está preocupando as autoridades de regulamentação, políticos e investidores. Algumas autoridades sugeriram que os governos europeus se unam para garantir novas dívidas de longo prazo dos bancos, segundo pessoas a par da situação.

A falta generalizada de fundos aumentou a importância dos depósitos dos clientes, que sempre foram uma fonte de recursos estável e barata. Os correntistas já fugiram de países como Irlanda e Grécia, cujos sistemas bancários têm sido devastados por uma combinação de prejuízos gigantescos e falta de confiança do mercado.

Mas agora parece que os depósitos estão ficando escassos para grandes bancos de países como Itália e Espanha. Em alguns casos, as pessoas que sacaram seus depósitos estão trocando a aplicação para títulos de dívida dos bancos, que têm oferecido recentemente juros suculentos. Mas clientes empresariais, que movimentam facilmente recursos de um banco internacional para o outro, aparentam ter sido especialmente agressivos no enxugamento de seus depósitos em bancos do sul da Europa. Os maiores bancos da Itália e da Espanha divulgaram declínios de pelo menos 10% no trimestre encerrado em 30 de setembro.

"Isso é preocupante. É uma evolução em termos de contágio [da crise] no financiamento", disse o analista Kinner Lakhani, do Citigroup.

Com os depósitos ficando escassos e mais vulneráveis como fonte de financiamento, alguns bancos estão entrando numa espécie de corrida armamentista. Estão elevando os juros oferecidos nos depósitos e se aventurando para outros países europeus em busca de novos clientes. Embora o BCE continue mantendo os juros ao nível historicamente baixo de 1,25%, os bancos de Portugal, Espanha e Itália estão oferecendo mais de 4% por ano nos depósitos.

A tendência é um presente para os clientes, que ganham mais guardando seu dinheiro nos bancos. Mas ela também é agourenta para a saúde da indústria bancária. Isso dificulta para os bancos conseguirem financiamento estável, o que os deixa muito mais vulneráveis à evaporação do financiamento do mercado.

Em alguns casos, a concorrência é tanta que já preocupa as autoridades de regulamentação. O Banco de Portugal impôs recentemente um limite para os juros que os bancos podem oferecer e o governo espanhol sancionou uma lei no meio do ano que penaliza os bancos que tentarem atrair clientes com juros acima do limite determinado por ele.

Os limites só se aplicam para os bancos locais na Espanha, mas Portugal estabeleceu um teto para todos os bancos, sem importar onde são sediados.

Fonte: The Wall Street Journal -Enrich, Schaefer e Bjork

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