O Fundo Monetário Internacional afirmou que o sistema financeiro americano está "lentamente se recuperando", mas que continua vulnerável a crises, em parte porque o Congresso e o Executivo não enxugaram o sistema regulatório, marcado por brigas por território e sobreposição de responsabilidades.

"Nós perguntamos muitas vezes por que uma atitude mais ousada não poderia ter sido tomada", diz Christopher Towe, do FMI, que supervisionou a primeira grande análise feita pela agência no setor financeiro americano.

Autoridades do governo Barack Obama alegaram que as propostas de acabar com as agências regulatórias ficariam atoladas no Congresso e que havia prioridades maiores, como criar regras para fechar instituições em dificuldades que possam trazer riscos sistêmicos.

O FMI afirmou que o sistema americano – em que o Federal Reserve (o banco central), a agência garantidora de depósitos e os reguladores estaduais dividem a responsabilidade de regulamentar os bancos, e a Comissão de Negociação Futura de Commodities e a Securities and Exchange Commission (a comissão de valores mobiliários) brigam sobre como supervisionar os mercados de futuros – dificulta a coordenação da supervisão e a descoberta de novos riscos.

O recém-criado Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira, dirigido pelo secretário do Tesouro e responsável por desarmar riscos sistêmicos, também poderia ser prejudicado, concluiu o FMI.

"Será um desafio, dada a complexidade do sistema, para o [conselho] lidar com as fraquezas de uma estrutura de supervisão que é tão complexa e tão fragmentada", disse Towe.

Uma autoridade de alto escalão do Tesouro disse que a lei da reforma financeira melhorou a supervisão ao tornar "quase impossível" que diferentes instituições financeiras escolham a autoridade à qual mais lhes convém se submeter, porque o Fed tem o papel de liderança em fiscalizar entidades de grande peso sistêmico.

O relatório do FMI é parte de seu Programa de Avaliação do Setor Financeiro, iniciado depois da crise financeira asiática dez anos atrás para examinar setores financeiros nacionais.

Como parte do exercício, o FMI conduziu seus próprios testes de estresse em bancos nos EUA – que também foram testados pelas autoridades locais -, embora o Fundo não tenha dado notas a cada instituição. Sua simulação concluiu que se a economia entrar em recessão de novo, os bancos de maneira geral poderiam ter de levantar até US$ 76 bilhões para ter um colchão de capital suficientemente gordo.

"Os números não são assustadores", disse Towe, mas eles sugerem que "as agências de supervisão têm de prestar atenção" a potenciais problemas.

O alto funcionário do Tesouro observou que o FMI apontou basicamente para problemas em bancos regionais e pequenos que têm grande exposição a créditos imobiliários comerciais. Em circunstâncias adversas, os bancos regionais teriam de levantar um total de US$ 8 bilhões a US$ 13 bilhões, o que ele chamou de "uma gota d ‘ água no oceano" se comparado com mais de US$ 200 bilhões captados por bancos dos EUA desde que o Tesouro americano fez seus próprios testes no ano passado.

Outro teste de estresse do FMI buscou simular as perdas que 14 grandes instituições financeiras teriam se o sistema financeiro quebrasse, como em 2008. Durante aquele ano, as perdas foram de US$ 427 bilhões, segundo o modelo do FMI. Uma crise financeira similar produziria cerca de metade das perdas se a crise ocorresse no ano que vem, concluiu o FMI.

Simon Johnson, economista do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, o MIT, e ex-economista-chefe do FMI, disse que a revisão deveria ter recomendado quanto capital os bancos dos EUA e de outros países precisariam manter. Esse é um assunto atualmente em discussão entre as nações que fazem parte do G-20, que esperam chegar a um acordo até o fim do ano. O Brasil é um dos membros do G-20.

"Se o FMI quer ter um impacto, eles precisam dar esse conselho no momento certo, e não esperar um ano depois que as decisões já tenham sido tomadas", disse Simon.

O FMI afirmou que as carteiras de empréstimos das gigantes do setor imobiliário americano Fannie Mae e Freddie Mac, que foram efetivamente nacionalizadas, deveriam ser privatizadas e que o papel das empresas de promover o crédito imobiliário para os menos afortunados deveria ser delegado a uma agência do governo.

Uma autoridade do Tesouro disse que o governo estava considerando várias ideias diferentes sobre como lidar com a Fannie e a Freddie.

Fonte: Valor Econômico /  Bob Davis e Ian Talley
The Wall Street Journal, de Washington

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