BRASÍLIA – Apesar de o país atravessar a recessão mais grave em pelo menos duas décadas, o Banco Central reafirmou o sinal de que pode vir a apertar ainda mais os juros para controlar a inflação. O BC divulgou a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, em que decidiu manter a taxa básica (Selic) em 14,25% ao ano, mas não foi por unanimidade, dois diretores queriam que a alta dos juros já tivesse começado na semana passada para reduzir o risco de o BC não cumprir sua tarefa por dois anos seguidos e deixar a inflação acima da meta também em 2016.

“Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom considera que remanescem incertezas associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e à sua composição, e que o processo de preços relativos mostra-se mais demorado e mais intenso que o previsto”, disse o Copom, que concluiu:

“ Parte de seus membros argumentou que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação. No entanto, a maioria dos membros do Copom considerou monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

Os votos pela elevação da taxa vieram dos diretores de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural do Banco Central (BC), Sidnei Corrêa Marques; e de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Tony Volpon.

Eles foram votos vencidos. E a Selic foi mantida estável pela terceira reunião seguida. Enquanto isso, as previsões para a inflação não pararam de subir. Estão em nada menos que 10,38% para este ano e em 6,64% para 2016. A meta para os dois anos era 4,5% com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais.

Essa desancoragem fez com que o BC já indicasse no comunicado divulgado logo após à reunião que poderia voltar a subir os juros. No texto, o Copom retirou a expressão “por período suficientemente longo” que vinha logo após ao trecho que dizia que a taxa de juros seria mantida.

EVENTOS NÃO ECONÔMICOS

O Copom tem alertado o impacto de eventos não-econômicos na atividade. Desde o início do ano, o país sofre com os efeitos da crise hídrica e de energia. Além disso, a Operação Lava-Jato derrubou investimentos. Seja porque várias gigantes nacionais — como a Petrobras e as empreiteiras — estão no meio do escândalo.

Além disso, a crise política e as incertezas do futuro da presidente Dilma Rousseff impactam diretamente as expectativas. Um exemplo de evento fora da economia que abalou as previsões dos analistas é o envio ao Congresso de um orçamento deficitário para o ano que vem. O mercado financeiro enlouqueceu com a afirmação que o governo já partiria de um déficit das contas públicas. O dólar decolou e desancorou as estimativas que começavam a se comportar.

A ata divulgada nesta quinta-feira não leva em consideração um dos principais evento não-econômico deste ano: o aceite da abertura do processo de impeachment da presidente. Ontem, após ser abandonado pelo PT, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, iniciou o processo que pode tirar Dilma Rousseff do cargo.

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Fonte: O Globo

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