Nesta quinta-feira (23), o Instituto Observatório Social, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), promoveu a palestra "Assédio Moral: quando o trabalho é indecente". Mais de 70 pessoas, representantes de diferentes ramos, além de pesquisadores e profissionais das áreas de saúde e segurança, estiveram presentes e puderam debater com o professor Ângelo Soares, da Universidade do Quebec (Canadá), temas como identificação das causas, estratégias de prevenção e como trabalhadores e empregadores podem agir frente a esse tipo de violência.

"A partir dos anos 90, a palavra de ordem na vida das pessoas foi ‘trabalho’. As pessoas passaram a ser vítimas do escritório. Passaram a não ter mais pausa em seus afazeres, começaram a abrir mão do horário do almoço para dar conta das atividades. Também se tornaram mais constantes situações onde os trabalhadores começaram a ser chamados para desenvolver trabalhos atípicos e em horários inadequados", exemplificou Ângelo Soares durante sua exposição. "É necessário que as organizações lutem para que seus trabalhadores sejam respeitados, para que haja trabalho decente, para que não haja humilhação de trabalhadores e trabalhadoras", completou.

Plínio Pavão, secretário de saúde da Contraf-CUT, representou a organização no evento. Segundo ele, a divulgação do problema e a mobilização dos trabalhadores são fundamentais para a luta e a garantia de condições dignas de trabalho em qualquer lugar do mundo. "A exploração das forças do trabalho não pode ir além das condições humanas. Mas, infelizmente, o que vemos como objetivo dos empregadores é a exploração, ao máximo, do trabalhador. Por isso, percebemos que, se não envolvermos o trabalhador e se não os conscientizarmos sobre o que esta atrás dessa exploração, não teremos como mudar esse cenário", reforçou.

A incidência do assédio moral no ramo bancário foi mencionada também pelo secretário de saúde e condições do trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Walcir Bruno. "O que vemos com muita freqüência no setor bancário são as conseqüências físicas do assédio moral nos trabalhadores. E, além disso, vimos as dificuldades existentes no tratamento dessas vítimas", afirmou. "Debates como esse são importantes para tentar dialogar com os responsáveis pelo setor da saúde em nosso país, para evitar o represamento social das pessoas vítimas do assédio moral, para reinseri-las adequadamente no mercado de trabalho", completou.

Além do setor bancário, também estiveram representados os setores comerciário, químico, petroquímico e de serviços. Também estiveram presentes pesquisadores e profissionais de saúde e segurança dos trabalhadores. Após a palestra, os participantes debateram temas como leis brasileiras e punições aos patrões, trabalhos de reinserção das vitimas no mercado de trabalho e as dificuldades enfrentadas pelo trabalhador para comprovar que é vitima de assédio moral. Diálogo social, invasão de privacidade, vigilância excessiva, sobrecarga de trabalho, certificações de qualidade, e a crise como justificativa infundada para assédio moral, reestruturação e demissões também foram assuntos debatidos.

Sobre o palestrante – Ângelo Soares é professor da Universidade do Quebec em Montreal (Canadá) e pesquisador sobre assédio moral, emoções e saúde mental no trabalho. Doutor em sociologia do trabalho, ensina os cursos de comportamento organizacional, violência no trabalho e administração de recursos humanos.

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Fonte: IOS