O ritmo de geração de empregos nos EUA deu alguns sinais de melhora nos últimos meses, mas a situação está longe de indicar um mercado de trabalho aquecido. O número total de postos de trabalho ainda está 2,1 milhões abaixo do registrado em dezembro de 2007, no início da recessão no país, e os empregos no setor público continuaram a encolher, mesmo depois do começo da recuperação da economia, em meados de 2009. O comportamento dos salários também confirma a folga no mercado de trabalho – o rendimento médio por hora no setor privado segue estagnado, nos mesmos níveis do fim de 2009, descontada a inflação.

Pelas contas do centro de estudos Instituto de Política Econômica (EPI, na sigla em inglês), há hoje um déficit de 8,3 milhões de postos de trabalho na economia americana. Além dos 2,1 milhões que ainda faltam para retornar aos níveis pré-recessão, há mais 6,2 milhões de vagas que precisariam ter sido criadas nesse período para atender ao crescimento da força de trabalho americana.

De abril a junho, foram gerados em média 196 mil empregos por mês, acima dos 175 mil mensais de 2012. Ainda assim, no ritmo atual serão necessários mais de cinco anos para se chegar ao pleno emprego, fechando o hiato de quase 8,5 milhões de vagas, e alcançar o nível de desemprego anterior à recessão, segundo calcula em nota a economista Heidi Shierholz, do EPI. O Census Bureau estima que cerca de 80 mil novos trabalhadores entram todos os meses na força de trabalho.

Em junho, o setor privado criou 202 mil vagas, completando uma série de 40 meses seguidos com expansão do nível de emprego, como diz o economista Gary Burtless, do centro de estudos Brookings Institution. O quadro é bem diverso no setor público. No mês passado, o emprego nas três esferas do governo foi reduzido em 7 mil vagas.

Heidi destaca que o encolhimento do emprego público é uma das diferenças entre a atual recuperação da economia e as retomadas anteriores. Desde que os EUA saíram da recessão, na metade de 2009, “o país perdeu 734 mil empregos no setor público”, diz ela, em outra nota. É o oposto do que ocorreu depois das recessões de 1981, 1990 ou 2001, por exemplo.

Os cortes de vagas se dão hoje no governo federal e nos Estados, enquantos os municípios, os maiores empregadores do setor público, têm feito contratações. O número tem sido insuficiente, contudo, para compensar os cortes das duas outras esferas de governo. Os cortes automáticos de gastos federais já produziram algum efeito, ao impor reduções de despesas generalizadas de US$ 85,3 bilhões, que entraram em vigor em março deste ano.

Para Burtless, faltam 7,25 milhões de empregos para o país retornar ao pleno emprego. É uma estimativa um pouco menor do que de outros analistas, como os do EPI, por ele acreditar que uma parcela maior dos jovens ficará hoje fora do mercado de trabalho, em comparação com o começo da década passada. Além de ser mais difícil para os jovens conseguir boas vagas, muitos têm preferido se concentrar nos estudos, para conseguir empregos melhores no futuro, diz Burtless.

“Parte dessa mudança é estrutural. Não veremos mais as elevadas taxas de participação dos jovens na força de trabalho que vigoravam em 2001”, afirma ele, referindo-se ao indicador que mede a fatia da população em idade para trabalhar que está empregada ou em busca de emprego.

O economista do Brookings também chama atenção para a estagnação dos salários. Em maio (o número mais recente disponível), a média dos rendimentos por hora no setor privado estava em US$ 10,31, descontada a inflação, nível idêntico ao de dezembro de 2009. Para Burtless, a demanda fraca por trabalho explica parte desse comportamento dos salários, também influenciados pela falta de força dos sindicatos nos EUA.

Esses indicadores relativizam a criação mais forte de vagas no segundo trimestre, apontam analistas como Heidi e Burtless. A própria queda da taxa de desemprego – dos 10% de outubro de 2009 para os 7,6% de junho deste ano – se deve em grande parte ao fato de que uma parcela considerável dos americanos não tem procurado emprego. Os investidores acompanham hoje com lupa o mercado de trabalho, por ser o fator mais decisivo para a definição dos rumos da política monetária dos EUA, pelas indicações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Fonte: Valor Econômico / Sergio Lamucci – Washington