O incentivo à aposta de queda na taxa Selic aumenta e o mercado responde. Ontem, as taxas dos contratos futuros voltaram a cair, sugerindo Selic cada vez mais próxima de 9%.

Em pauta, a discussão sobre o juro neutro. Não há verdade absoluta sobre essa "taxa mágica" que estimula crescimento sem pressão sobre a inflação, mas a visão prevalente no momento é de que essa taxa seria menor do que a atual. As estimativas ficam entre 4% e 6%, dependendo do modelo.

No lado factual, as coletas privadas de preço continuam sugerindo inflação comportada também em fevereiro.

Ontem, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe surpreendeu para baixo ao mostrar inflação de 0,42% na primeira quadrissemana de fevereiro, recuando de alta de 0,66% em janeiro.

E hoje, o mercado conhece o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro.

As projeções sugerem inflação oficial entre 0,50% e 0,55%, após leitura de 0,50% em dezembro e variação de 0,83% em janeiro de 2011.

Se o resultado for visto como positivo, nada impede que isso seja um estímulo a novo movimento de queda nas taxas futuras de juros.

Além dos fatores fundamentais, acenos do governo e comentários do Banco Central (BC) também contribuem para que o mercado aposte em juro básico menor.

O Planalto entrou nesse jogo ao levantar, novamente, a discussão sobre os rendimentos da caderneta de poupança.

Segundo reportagem publicada pelo Valor ontem, a presidente Dilma Rousseff está decidida a fazer uma reforma nas regras e já colou uma equipe para solucionar a questão.

Com isso, seria retirada uma barreira à queda da Selic para baixo de 8,5%.

Taxa que não parece tão distante. O mercado sugere juro a 9%. E ontem, o Nomura Securities atualizou sua projeção de juro básico de 9% para 8,5% no fim de 2012.

Sem essa mudança na regra de remuneração da poupança, há risco de um esvaziamento dos fundos de renda fixa, que perderiam atratividade.

O Banco Central (BC) já deu sua manifestação formal sobre o juro de um dígito e taxa neutra na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), mas isso não impede que o recado seja reforçado informalmente.

Depois do presidente da instituição, Alexandre Tombini, e do diretor de Assuntos Internacionais, Luiz Awazu Pereira da Silva, o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, também falou sobre política monetária em evento em Londres.

Mendes teceu comentário sobre a inflação, que estaria convergindo para o centro da meta de 4,5%, e também notou uma desaceleração do ritmo da atividade econômica.

O ponto alto foi a fala sobre o juro neutro, que definitivamente estaria caindo no Brasil.

Nas mesas, a percepção de alguns operadores é de que esse seria um momento para montar posição comprada, nem que seja apenas para ganhar com um repique técnico das taxas.

No entanto, o receio é grande tendo em vista que a pressão de baixa prevalece.

Desde o começo do mês, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimentos em janeiro de 2013 e 2014 perderam mais de 20 pontos-base de taxa (veja gráfico abaixo).

Movimento que não deixa de surpreender, tendo em vista que até poucos dias atrás faltava incentivo à queda ou mesmo alta nas taxas.

Para encerrar, o mercado compra a ideia de juros menores, mas não deixa de se proteger contra a possibilidade de inflação maior no futuro.

Por isso que persiste a inclinação maior da curva nos vértices longos. Ou seja, o BC corta o juro agora, mas terá de reverter parte do afrouxamento pouco tempo depois.

No mercado de câmbio, o pregão de quinta-feira foi morno. A percepção é de que os vendedores estão receosos em abrir posição em função da possibilidade de novas atuações do Banco Central.

Pelo segundo pregão seguido, as taxas de câmbio à vista e futura orbitaram a linha de R$ 1,720, mesmo existindo pontos favoráveis à venda de moeda americana.

O piso de curtíssimo prazo estaria no R$ 1,720. Abaixo disso, o BC viria para o jogo.

A autoridade monetária já fez duas compras a termo e uma atuação no mercado à vista neste começo de mês.

Um tesoureiro tem outra teoria para os leilões de câmbio. Sempre que o real anda mais do que os pares externos, a autoridade monetária se apresenta.

Ontem, o dólar comercial fechou com leve alta de 0,17%, a R$ 1,721 na venda, depois de fazer máxima a R$ 1,728 e mínima a R$ 1,717. Na semana, a moeda americana acumula ganho de 0,23%, mas ainda perde 1,50% no mês. No acumulado de 2012, o dólar está 7,92% mais barato.

Fonte: Valor Econômico/Eduardo Campos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *