A um ano da eleição, todo espaço e fato com a presença de Lula é classificado pela mídia de ‘descarado palanque pré-eleitoral’, como se o ex-presidente mais popular do Brasil “fosse culpado” por liderar as pesquisas 2018 (apesar dessa mídia) e arrastar multidões por onde passa, mesmo que mudo ficasse. Mas Lula fala, e como fala, e como gosta e sabe falar com o povo, porque do meio desse povo ele veio. E nunca esqueceu disso.

Assim foi no sábado (21), mais um dia em que Lula arrebatou uma multidão. Era uma visita de solidariedade às 8 mil famílias que, há 53 dias, ocupam terreno abandonado e inutilizado pelo capital bem no coração da 14ª cidade mais rica do Brasil: São Bernardo do Campo, berço das greves que ajudaram a redemocratizar o País, do Novo Sindicalismo, do PT, da CUT e, historicamente, palco da luta e resistência da classe trabalhadora.

E Lula falou: “Estejam preparados, porque vocês podem ganhar dois apartamentos e uma chácara. Se (a Justiça) conseguir provar que são meus, serão seus. Pode avisar ao Moro”, disse o ex-presidente do alto do caminhão de som cedido pelo “seu” Sindicato dos Metalúrgicos do ABC à “Ocupação Povo Sem Medo de São Bernardo do Campo”, organizada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Com Lula no caminhão estavam Guilherme Boulos, líder do MTST;  Sérgio Nobre, secretário-geral nacional da CUT, a senadora Gleisi, deputados e coordenadores locais e estaduais do movimento. Em volta, milhares de homens e mulheres, gente de diferentes idades, trabalhadores e desempregados, mas todos com algo em comum: ser vítima do governo ilegítimo de Michel Temer, que destruiu avanços sociais dos governos petistas, como o programa de moradia “Minha Casa Minh a Vida”, acabou com direitos e ampliou o desemprego e a pobreza em tempo recorde.

Nada desse cenário, porém, interessou à ‘grande mídia’. Para a imprensa que foi ao local – ou copiou do live do facebook do Lula – bastou a frase “doar sítio e apartamentos”. A fala provocadora do ex-presidente condenado sem provas virou título repetido e raso das matérias, todas carregadas da opinião “de que Lula foi à área para fazer pré-campanha.

As milhares de pessoas que por horas gritaram “Volta Lula” e os motivos que as levaram a ocupar uma área em busca da casa própria não despertou interesse nas redações dos grandes grupos de mídia. Só estiveram lá para cumprir a ordem de detonar Lula e ignorar a desigualdade social que a ocupação de São Bernardo do Campo escancara.

“Não queremos nada de graça, não somos invasores, queremos pagar pelas moradias que forem construídas aqui”, afirmam homens e mulheres que dormem em barracas improvisadas sonhando com a alvenaria e o fim do aluguel. A área ocupada pelo MTST em São Bernardo do Campo tem 70 mil metros quadrados, algo como 10 campos de futebol “tamanho Fifa”. O terreno é a cara do governo Temer: inútil e devedor. São 30 anos abandonado no meio de uma São Bernardo com déficit de 90 mil moradias (segundo MTST).

 “Nesse terreno não teria uma creche, uma escola, um hospital ou moradias populares. Então, vocês estão certos de ocupar para conseguir um moradia digna”, disse Lula. Hoje, prosseguiu ele, “quem está acampado é o trabalhador que ontem estava trabalhando, que ganhava um salário e podia pagar aluguel”. E completou: “muitas vezes uma família tem que escolher entre pagar aluguel e comprar comida para os filhos. Que eles saibam que vocês têm direito pela Constituição de ter casa própria”.

Lula falou mais. Lembrou a todos aqueles homens e mulheres que eles têm direito à dignidade, que não podem ser vistos nem tratados como bandidos, traficantes, criminosos. Esculhambou Temer, o governador Alckmin, o prefeito tucano Orlando Morando, personagens omissos, que se fazem representar na vizinhança da ocupação por suas Polícias.

Ao descer do caminhão de som, Lula foi ao encontro do povo, gesto já esperado e que desespera o cordão humano que precisa retirá-lo do local. Antes, já havia percorrido trecho do acampamento muito bem organizado pelo MTST. Tudo na paz entre as 12,1 mil  barracas erguidas na área nessa que já é a maior ocupação do MTST no Brasil (e a segunda da América Latina), segundo afirmou Guilherme Boulos minutos antes da chegada de Lula.

“A organização e resistência dessas pessoas impressiona e emociona. São trabalhadores e trabalhadoras, muitos desempregados, lutando pelo direito de ter uma casa para morar, de forma pacífica, e que merecem toda a nossa solidariedade e apoio, porque estão invisíveis aos governos” disse o secretário-geral da CUT e metalúrgico do ABC, Sérgio Nobre, que abriu mão de sua fala no alto do caminhão de som que ele tão bem conhece. Quem quer ouvir mais alguém quando espera pelas palavras (e volta) de Lula?


Sobre a ocupação

A área ocupada pelo MTST em São Bernardo do Campo, fica em frente a Scania, uma das quatro fábricas de veículos da cidade, e tem 70 mil metros quadrados, tamanho que equivale a dez campos de futebol ‘padrão Fifa’. Pertence à  MZM, uma construtora.

A ocupação começou em 2 de setembro e enfrenta uma liminar para reintegração de posse, que foi suspensa pela Justiça até que que seja realizada reunião entre Gaorp (Grupo de Apoio às Ordens de Reintegração de Posse), órgão do Tribunal de Justiça de São Paulo formado por representantes dos governos federal, estadual e municipal, proprietário do terreno e o MTST. Os advogados dos donos da área, porém, já disseram à mídia que não tem negociação;

O terreno tem dívida de meio milhão de reais em IPTU, valor referente apenas a 2016, de acordo com MTST

Sobre o Minha Casa Minha Vida

O corte nos investimentos é um dos efeitos mais danosos e prejudiciais à população da política econômica recessiva e excludente do governo Temer. O programa Minha Casa, Minha Vida foi um dos mais afetados, segundo dados da Liderança do PT na Câmara dos Deputados. Até 2016, 3,3 milhões de unidades habitacionais no programa Minha Casa, Minha Vida foram entregues à população e mais de 4,5 milhões foram contratadas.

Entre 2010 e 2016 foram entregues mais de 1.200 casas por dia. A meta de entregar mais dois milhões de moradias até 2018,  estabelecida pelo governo Dilma Rousseff, foi detonada pela gestão ilegítima de Temer. Em 2017, até setembro, somente 9% dos valores previstos foram destinados ao programa.  A expectativa para 2018, de acordo com a liderança, é zerar o repasse de recursos, conforme revelam dados do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2018) enviado pelo governo à Câmara.

O Programa criado no governo Lula beneficiou mais de 1,5 milhão de famílias e garantiu moradia digna a 6,8 milhões de brasileiros. É considerado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como “um exemplo para o mundo, o minha casa, minha vida

Representantes do Fórum Nacional pela Reforma Urbana afirmaram em setembro que. “o orçamento de 2018 sepulta a política urbana brasileira” porque “retira todo o dinheiro do subsídio para aquisição das casas” e prejudica principalmente as populações do no Norte e Nordeste. Hoje, o déficit habitacional do Brasil é estimado em 6 milhões de moradias, segundo o IBGE (2015)

Dados do IBGE sobre déficit habitacional
http://www.cbicdados.com.br/menu/deficit-habitacional/deficit-habitacional-no-brasil