São Paulo – A revista IstoÉ Dinheiro publicou uma ampla matéria celebrando a gestão de Paulo Cafarelli à frente do Banco do Brasil. No texto, Cafarelli é apresentado logo no início como um atleta, faixa preta de caratê, que acorda às 5h30 para fazer seus exercícios, e que raramente para de trabalhar antes das 22h. Quase um “super-homem”. Entretanto, o que mais se destaca na matéria é a exaltação das suas políticas de corte de empregos, fechamento de agências e redução do papel social do BB, apresentadas como preceitos fundamentais para a melhora da “eficiência” do banco.

Em 2017, o BB reduziu em 12,1% o seu quadro de funcionários, cortando 1.461 postos de trabalho.  Em 2016, o banco já havia reduzido o número de funcionários em 8.569 trabalhadores. Além disso, no ano passado foram fechadas 670 agências.

“O que é celebrado na IstoÉ, que estranhamente e não por coincidência publicou essa ode ao Cafarelli dois dias após a divulgação do lucro do banco, é o desmonte do BB, o aumento desumano da sobrecarga de trabalho, um atendimento cada vez mais precarizado à população e a drástica redução da sua função social. O resultado do banco está intimamente ligado ao seu desmonte, o que não se sustenta no médio e longo prazo. Tanto é que, em 2017, a carteira de crédito ampliada apresentou redução de 3,8%. Além disso, o BB tem ampliado carteiras e agências para setores que tradicionalmente concentram renda”, critica o dirigente do Sindicato e bancário do Banco do Brasil Diego Pereira.

“Nem mesmo essa lógica torta de eficiência baseada em corte de custos se sustenta. Nos últimos seis anos, o lucro alcançado em 2017 só foi maior que o de 2016. Em 2012 [R$ 12,2 bilhões], 2013 [R$ 15,75 bilhões], 2014 [R$ 11,2 bilhões] e 2015 [R$ 14,4 bilhões], com o BB exercendo sua função social e contando com mais funcionários e agências que hoje, o lucro foi superior ao do ano passado”, acrescenta.

Lógica de mercado – Outra questão que fica evidente nas declarações de Cafarelli à IstoÉ é que a sua gestão busca aproximar cada vez mais o BB de uma lógica exclusivamente de mercado, em detrimento da sua função social. “Temos rentabilidade mínima. Se estudarmos a operação e não der retorno, não fazemos”, afirmou o presidente do banco.

Além da declaração acima, apresentada com orgulho, a matéria apresenta as políticas de incentivo implementadas nos últimos anos como um “ônus”.

“O BB possui uma função social importante. É preciso fomentar o desenvolvimento, ofertar crédito mais barato para a agricultura familiar, para obras de saneamento, para o microempresário, financiar a educação, o acesso ao ensino superior, implementar políticas anticíclicas, como as que salvaram o país da crise internacional de 2008. A política de juros baixos para enfrentar a crise inclusive foi o maior instrumento de crescimento do banco público, com ampliação das carteiras de crédito PF e PJ. Abandonar esse papel e ser regido apenas pela lógica de mercado é dar um tiro no próprio pé no médio e longo prazo. Se o cliente quer buscar um banco com esse perfil, ele procura o Bradesco, o Itaú, o Santander, que já possuem essa imagem consolidada, não o BB”, avalia Diego.

Futuro sombrio – Apesar do tom otimista da matéria, as declarações de Cafarelli àIstoÉ Dinheiro trazem sinais claros de que o desmonte do BB vai continuar, com mais redução de custos e fechamento de agências físicas.

Um trecho da matéria apresenta o que Cafarelli diz que serão os três pilares da instituição: melhorar relações com clientes, especialmente os de alta renda; pequenas e médias empresas; e, o principal pilar, investimentos em tecnologia. De acordo com o texto, “a ideia é inserir fatias crescentes da base de 66 milhões de correntistas nas plataformas digitais, para manter a trajetória de redução de custos e fazer frente ao corte dos spreads”.

“Manter a trajetória de redução de custos é simplesmente continuar e intensificar o fechamento de agências e corte de postos de trabalho. Cafarelli tem de lembrar que o BB, enquanto banco público, tem o compromisso de bem atender todo o conjunto da população brasileira e, deste conjunto, mais de um terço [35,3%], não possui acesso à internet. São 63,3 milhões de pessoas. No Norte e Nordeste, esse percentual chega a quase metade da população, 47,7% e 45,7% respectivamente. Quando se fecha uma agência física, é essa ampla parcela da população que é prejudicada. Não somos contra a tecnologia, mas quem deve escolher o canal de atendimento é o usuário, não ser uma imposição do banco”, enfatiza o dirigente.

“O papel do Sindicato é defender os bancários, seus direitos e empregos. Não podemos admitir que o resultado do banco seja subsidiado pelo aumento da sobrecarga de trabalho, do assédio moral, e pela precarização do atendimento. E, pior ainda, que isso seja celebrado como sinônimo de eficiência de uma gestão que coloca em prática um verdadeiro desmonte na instituição. Quem constrói o resultado do BB são os seus funcionários”, conclui Diego.