A diretoria do Sindicato dos Bancários da Paraíba lamenta o desaparecimento prematuro do companheiro Bento Soares, vítima de infarto na madrugada desta segunda-feira (28), no Hospital da Unimed, em João Pessoa.

Bento Leite Soares aposentou-se como bancário, quando atuava na Superintendência Estadual do Banco do Brasil na Paraíba. Tinha 64 anos, era natural de Jaguaribara/CE e casado com a patoense Maria José, com quem tinha três filhos (Nelson, Tales e Natália).
 
Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Radialista, trabalhou na rádio Iracema de Juazeiro, quando estudante, Radio Alto Piranhas em Cajazeiras, Rádio Oeste de Cajazeiras, Rádio Sanhauá, Rádio Tabajara em João Pessoa e escrevia semanalmente para a Revista A Semana, na capital paraibana.
 
Atualmente, era comentarista esportivo da Rádio Tabajara, tesoureiro da Associação Paraibana de Imprensa e da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado. E, também, muito querido no meio esportivo do Estado. 
 
A diretoria do Sindicato dos Bancário da Paraíba transmite os pêsamos à família enlutada e aos funcionários do Banco do Brasil, onde Bento era muito querido; com a certeza de que ele está um um bom lugar, compatível com a vida que levou aqui na terra.
 
Abaixo, uma entrevista sobre seu livro Vendo o Jogo Pelo Rádio, transcrita da matéria do jornalista Edmilson Pereira.
 

Como surgiu o livro Vendo o Jogo Pelo Rádio?

Depois de aposentado eu retornei a vida de estudante. Prestei vestibular para a UFPB e por ocasião da conclusão do curso, eu peguei como tema da monografia a história da crônica esportiva, juntando uma paixão nacional: o futebol; e uma mania de brasileiro: o rádio; e adicionei um outro elemento: o Cronista Esportivo.

Eu sempre demonstrei e tive uma preocupação com o tratamento dispensado ao cronista esportivo, ao meu ver uma categoria pouco reconhecida pela sociedade. Assim, buscamos traçar a historia da crônica esportiva, desde 1931 com Galhano Neto para a rádio educadora paulista. Depois Amador Santos fez uma transmissão para a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro e em Recife Abílio de Castro para a Rádio Clube de Pernambuco fez a primeira transmissão do Norte-Nordeste.

Trazemos também um “DNA” do futebol brasileiro desde 1894 quando Charles Miller, um estudante brasileiro que era radicado em Londres, voltou ao Brasil trazendo bolas de futebol, livros de regras e implantou este esporte aqui no nosso país, até 1922 quando tivemos a primeira transmissão radiofônica no Brasil com o Presidente Epitácio Pessoa, no corcovado e o inicio do rádio em 1923, quando Roquette Pinto inaugurou a primeira emissora de radio do país, a Radio Sociedade do Rio de Janeiro.

Durante o percurso de criação do livro, alguém deu força pra a criação?

Sem dúvida. Tenho que agradecer primeiro a minha esposa, pela compreensão, porque esse trabalho me custou quatro anos de pesquisa, sendo fundamental a compreensão dela pela ausência, pelas viagens, o uso constante do computador, as noites em claro.

Agradeço também aos meus colegas e os orientadores da universidade que me incentivaram a transformar a monografia em livro. Acrescentados informações, mudamos o formato e resultou neste livro de 473 páginas e 18 capítulos, onde procuro contar a historia da crônica esportiva de forma abrangente. Temos no livro 538 perfis, mini-biografias de profissionais da imprensa, segmentados pela função, a estrutura de transmissão esportiva: Apresentador, Narrador, Comentarista e Repórter.

Temos capítulo dedicado aos cronistas de jornalismo impresso. Um outro capitulo dedicado às frases hilariantes, pitorescas, assim como frases filosóficas de grandes nomes do futebol como Nenê Prancha, considerado o maior filosofo do futebol. Temos frases também de Nelson Rodrigues de Armando Nogueira, coisas marcantes.

O livro tem um outro capitulo destinado aos bordões de diversos profissionais de imprensa, afinal, existe toda uma linguagem, slogans e apelidos aos profissionais do rádio: “Fulano de Tal, o narrador das palavras-chaves”.

É por conta deste modo de fazer que as pessoas se pegam e se fascinam  pelo rádio. Este livro é em tributo a este veiculo e aos profissionais da imprensa esportiva.

Como está sendo ver a obra pronta? É como se fosse um filho?

É mais ou menos. Tem um provérbio que diz que ser pai, plantar uma árvore e escrever um livro seriam as realizações de um homem, então, é esta a sensação. É gratificante ver o reconhecimento de pessoas que lêem o livro. Isto nos estimula ate a uma outra publicação, não sei se teria fôlego pra isso, mas já colhi muitos frutos, por exemplo, este livro chegou a produção do Jô Soares e já me levou a uma entrevista no programa. Este tipo de coisa torna gratificante o trabalho d’agente.

De uma maneira geral, como Bento Soares se descreve como pessoa?

Eu sou uma pessoa de fácil relacionamento, eu sempre corro atrás de uma nova amizade, sou leal aos meus amigos, servi-los quando possível. O que mais me alegra é que eu ate posso me comparar ao Roberto Carlos nisso, acho que também tenho um milhão de amigos.

Se podessemos citar quais as principais diferenças do rádio de antigamente para o rádio hoje dentro da área esportiva?

Acho que as diferenças são enormes. Tecnicamente o veículo tem desenvolvido muito e por causa disso, as pressões são enormes por parte de outras mídias. A qualidade dos profissionais de antigamente era melhor, hoje se uma pessoa tem uma voz boa e condições de comprar um tempo em uma emissora, ela coloca um programa esportivo no ar.

Antes os profissionais faziam de uma forma diferente, daí o slogan da Rádio Globo há algum tempo que dizia “Veja o jogo escutando a rádio Globo”, como se você estivesse à beira do gramado. E a eficácia era tanta que no dia seguinte, no colégio, travavam-se brigas por causas de um detalhe de um lance que se tinha “visto” através da transmissão do rádio.

Hoje você ver na televisão, pode contestar o que o narrador está dizendo, mas não se tem tanta emoção. Não sei se estou sendo piegas, mas eu preferia a emoção do rádio antigamente.

Na sua opinião a cobertura local tem deixado a desejar?

Eu acredito que sim. Você tem grandes nomes, como Romildo Nascimento, Humberto de Campos, Joselito Lucena, Joacir Oliveira, mas eles não têm a mesma garra e energia de antigamente. É preciso inovar, renovar, senão tende a perecer.

O que a radiofonia esportiva precisa fazer pra não perder espaço para os outros meios de comunicação?

Primeiro reconquistar a credibilidade. Teria que ser feito um trabalho de conscientização da categoria. O profissional não pode enquanto profissional da imprensa estar envolvido com interesses de outros, o nosso compromisso é com o ouvinte. Quando o ouvinte se dá o trabalho de sintonizar um programa é preciso dar o seu devido respeito, é preciso honestidade, dizer a verdade.

Este trabalho de conscientização tem que ser feito em nível de universidade, esse pessoal que semestralmente é inserido no mercado de trabalho tem que entender que o rádio é sacrifício, eu diria que é uma religião mesmo.

É preciso um relacionamento profissional com patrocinadores e com clubes. É normal viajar junto com o time, mas é preciso separar isso da transmissão.

Para finalizar, qual é a mensagem que Bento Soares deixa principalmente para aqueles profissionais de comunicação que estão começando na área esportiva?

Agente está sempre falando de perto com esse pessoal no sentido de reerguer o radio. O rádio é um veiculo quente de mais pela instantaneidade que nenhum outro veiculo tem. É imprescindível que o estudante tenha amor pela causa. Ele não pode tirar aquele tempo de universidade pensando apenas em quando se graduar cair no mercado de trabalho, ele tem todo um aprendizado e a época de universidade é a época certa pra isso.

Respeitar os colegas que não têm a formação acadêmica, mas tem muito a ensinar. E sobre tudo, a humildade, como em qualquer profissional, é essencial para o jovem que vai entrar no mercado de trabalho de comunicação.

Fonte: SEEB – PB, com o Portal GiroPB /  Edmilson Pereira