Crédito: Miguel Schincariol/AFP
Miguel Schincariol/AFP

Mais de 65 mil pessoas tomam Largo da Batata, bairro de Pinheiros, São Paulo

Rede Brasil Atual

Milhares de pessoas estão reunidas nesta segunda-feira (17) nas zonas oeste e sul de São Paulo para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público e a violência policial. Após o ato tenso e com centenas de feridos e detidos da quinta-feira passada, a manifestação transcorre sem problemas e, segundo o DataFolha, 65 mil cidadãos participam.

Leia nota das centrais sindicais sobre a mobilização.

Devido à grande adesão, o Movimento Passe Livre (MPL), principal organizador, decidiu dividir os manifestantes em dois grupos. Um deles segue pela Marginal do Rio Pinheiros e outro continua pela Avenida Faria Lima. É possível que a marcha volte a se reunir sobre a Ponte Estaiada, na zona sul. A obra se transformou em um símbolo de gasto desnecessário, na visão de movimentos que debatem a mobilidade urbana, e de valorização do carro, já que não se permite o tráfego de ônibus sobre a megaestrutura que cobre a Marginal.

Os presentes ao ato têm rechaçado o uso de bandeiras de partidos ou contra políticos, pedindo aos que portam este tipo de mensagem que não a exponham ao público. Isso levou representantes de algumas siglas a tentar criar uma manifestação paralela, e os organizadores têm tentado evitar a divisão.

“Que coincidência. Não tem polícia, não teve violência”, gritam os manifestantes. Depois da repressão da semana passada, a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar decidiram negociar hoje de manhã com representantes do MPL. Ficou acertado que não haveria repressão pelo fechamento de ruas nem o uso de balas de borracha.

O protesto ocorre na véspera de uma reunião pública do Conselho da Cidade, convocada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) para discutir a reação popular ao aumento. Representantes do Movimento Passe Livre estão convidados para apresentar suas críticas e propostas. E já confirmaram presença, alertando que o encontro de Perto de 260 mil pessoas confirmaram presença no ato pelas redes sociais, como o Facebook.

As passagens de ônibus, trem e metrô subiram de R$ 3 para R$ 3,20 no último dia 2, graças a um acordo entre os governos estadual e municipal. O reajuste, de 6,67%, ficou abaixo da inflação, como Haddad havia prometido em sua campanha eleitoral. Entre janeiro de 2011, quando do último aumento, e junho de 2013, a inflação acumulada no período foi de 15,5%. O esforço foi viabilizado porque o governo federal, preocupado com o impacto do aumento sobre os índices de inflação, pelos quais vem sendo duramente criticado por economistas, escolheu zerar a alíquota de PIS e Cofins que é paga pelas empresas de ônibus, metrô e transporte de passageiros por barcos.

Ainda assim, quatro dias depois, dia 6, uma quinta-feira, ocorria a primeira manifestação pública contra o reajuste. A segunda foi marcada para o dia seguinte, sexta-feira (7). Novas marchas aglutinaram milhares de paulistanos na terça-feira (11) e na quinta-feira (13). Conforme a mobilização cresceu em força e número de manifestantes, incrementou-se a repressão policial. O número de PMs enviados para dispersar o protesto mais que dobrou entre terça e quinta-feira: foi de 400 para 900 homens – nos quais estava incluído um destacamento da cavalaria.

O endurecimento havia sido anunciado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no dia anterior. Como resultado, 232 pessoas foram detidas, segundo a Secretaria de Segurança Pública, e, de acordo com o MPL, mais de 150 acabaram feridas com maior ou menor gravidade. Demonstrando descaso com o bem-estar da população, a Tropa de Choque utilizou bombas de gás lacrimogêneo vencidas há mais de dois anos – o que poder trazer riscos à saúde, segundo o próprio fabricante.

Até os trabalhadores da imprensa sofreram o peso dos cassetetes. Uma repórter da RBA foi agredida no rosto e na nuca pelos porretes da PM enquanto cobria a repressão na Avenida Paulista. Uma jornalista da Folha de S. Paulo e um fotógrafo da Agência Futura Press foram atingidos no olho por tiros de bala de borracha. Assim como dezenas de manifestantes, um repórter da revista Carta Capital foi levado à delegacia para averiguações antes mesmo da marcha apenas por trazer uma garrafinha de vinagre na bolsa – líquido que, além de temperar saladas, serve para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo.

A operação policial da última quinta-feira (13) – desatada logo no início do protesto e sem que houvesse qualquer arroubo de vandalismo por parte dos manifestantes – sensibilizou a sociedade paulistana. Alguns meios de comunicação que até então criticavam as mobilizações e pediam mais rigor policial contra os arruaceiros passaram a dar mais destaque à atuação descabida da PM.

Alguns políticos também amainaram seus discursos. Um deles foi o prefeito de São Paulo. No início dos protestos, Haddad tentou repetidas vezes deslegitimar a mobilização, que classificava como minoritária e violenta. Agora, o prefeito passou a criticar a ação policial e abriu canais de diálogo com representantes do Movimento Passe Livre.

Fonte: Rede Brasil Atual