Durante o "Seminário Internacional sobre Sistema Financeiro", que integra a programação do 2° Congresso da Contraf, os dirigentes sindicais bancários tiveram a oportunidade de assistir a palestra "Crise financeira mundial e os impactos sobre os trabalhadores e a sociedade". Dentre os debatedores estavam Oliver Roethig, chefe do Departamento UNI Finanças, Arthur Henrique, presidente da CUT Nacional, Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de ralações sindicais do Dieese, e Angelo Di Cristo, dirigente da Federação Autônoma Bancária Italiana.

Segundo Silvestre Prado de Oliveira, existe um consenso no movimento sindical em relação ao tipo de crise que estamos vivenciando e de que seus reflexos atingem de forma diferenciada países e atividades econômicas. Portanto, ao se tratar da crise é inadmissível que se generalize. Ao contrário, é preciso aproveitar a oportunidade para se pensar o que vem no pós-crise.

"O Brasil tem um mercado interno de peso e instituições públicas – a exemplo do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB, BNDES e Petrobras – que fazem frente à crise. Além disso, o Estado tem tomado medidas, de caráter tributário e de fomento ao desenvolvimento que possibilitam melhores condições de lidar com a crise e de sair dela mais rápido do que outros países", comenta.

Por outro lado, a crise também coloca desafios para o movimento sindical, sobretudo no que tange as negociações coletivas, como aumento real de salários, a manutenção dos e empregos e a não redução dos diretos já adquiridos. "Mais do que isso, precisamos aproveitar esse momento de dúvida e descredibilidade do capitalismo para propor mudanças em relação a regulamentação do sistema financeiro nacional e conquistarmos espaço junto ao Conselho Monetário Nacional", destaca.

Trabalhadores devem ser ouvidos

O secretário-geral da UNI Finanças Oliver Röethig falou sobre os esforços da entidade em participar das discussões sobre a crise, levando a perspectiva dos trabalhadores.

Ele lembrou de uma reunião realizada pela UNI Finanças com o Fundo Monetário Internacional para discutir a crise. Oliver conta que, durante o encontro, um economista do fundo pediu desculpas e disse que a entidade já sabia sobre os riscos de uma crise causados pelas práticas dos bancos, mas não queriam parar o processo que estava gerando tantos lucros. "Todos sabiam dos problemas, mas não queriam parar a ciranda. Foi uma irresponsabilidade dos líderes que deixaram isso acontecer", afirma.

O dirigente lembrou dos 20 pontos defendidos pela UNI que foram definidos em março, durante um encontro. Entre eles, está a necessidade de boas condições de trabalho e salários para os bancários e diálogo com os supervisores.

Alguns dos pontos mais importantes dizem respeito ao modelo de negócios adotado no sistema financeiro que estimula a busca desenfreada do lucro. "Os bancários têm que ter a possibilidade de fornecer orientação adequada aos clientes. Nesse sistema, o bancário não tem como agir pensando no melhor interesse do consumidor. O sistema força o trabalhador a buscar o lucro da empresa a qualquer custo. Essas práticas de negócios devem mudar", defende.

Para Oliver, a crise é também uma oportunidade global para o movimento sindical. "Temos que trabalhar juntos. Esse mundo vai mudar ou as próximas gerações vão sofrer. O futuro está vindo em nossa direção e temos que fazer com que a voz dos trabalhadores, que são o núcleo do sistema financeiro, seja ouvida", afirmou.

Respeito à proteção social e ao emprego

O dirigente sindical da Itália, Angelo Di Cristo, iniciou sua intervenção lembrando que durante muitos anos o centro das discussões era o porquê da globalização. Hoje, entretanto, a algo mais que esta acontecendo. Esse fenômeno de crise mundial afeta o setor financeiro, não apenas nos EUA, mas também na Europa. Inúmeros bancos estão fechando agências, reduzindo o níveis de emprego e provocando outras tantas demissões dos trabalhadores em outros setores da economia.

"A crise se originou nos EUA, mas a Europa também não está livre da culpa. O terremoto financeiro favoreceu uma revisão das regras financeira, uma vez que a atual instabilidade é reflexo do lucro a curto prazo", disse.

Segundo Angelo, os sindicatos, que sempre frisaram a necessidade de compartilhar, devem reforçar a necessidade do bem estar social. "Estamos hoje perante uma crise imensurável e provalmente longa. Precisamos fazer de tudo para que os trabalhadores tenham o direito e o dever de falar alto e serem ouvidos. Nós, enquanto sindicalistas, temos o privilégio de sermos os atores sociais da mudança, reafirmando sempre que queremos uma economia que saiba respeitar a proteção social e o emprego".

CUT cobra mudanças no sistema financeiro nacional

O presidente da CUT, Arthur Henrique, aproveitou a ocasião para cobrar do governo iniciativas que resultem em mudanças imediatas no sistema financeiro nacional, independentemente das discussões que acontecem nos fóruns internacionais.

Para o sindicalista, é interessante a intervenção do presidente no Lula no G20 e em todos os espaços de discussão de medidas de combate aos efeitos da crise em escala global, mas há atitudes que podem e devem ser tomadas aqui dentro, para a garantia da democratização do crédito e do alinhamento dos bancos com a promoção do desenvolvimento equilibrado do país. Arthur cobra providências para a regulamentação do Artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro, para a democratização do Conselho Monetário Nacional, com garantia de participação de representantes da sociedade, e para a inclusão de representantes dos trabalhadores nos conselhos de administração dos bancos. "O BB não tem representante dos trabalhadores no seu conselho, isso é um absurdo para quem pensa em democratização", enfatizou.

Como exemplo das dificuldades para o acesso às instituições financeiras no Brasil, o presidente da CUT citou estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo o qual há 505 municípios brasileiros sem nenhuma agência bancária. Pelo mesmo estudo, no Brasil são 10.189 habitantes por agência bancária, enquanto nos Estados Unidos são 3.000 e na Espanha 1.089 habitantes.

O presidente da CUT defendeu, além de mudanças no sistema financeiro, a transformação do modelo de produção e de consumo, para a saída da crise de forma mais consistente e sem maiores ônus para o conjunto da sociedade. "Não podemos aceitar a lógica da privatização dos lucros com socialização dos prejuízos".

Fonte: Rede de Comunicação dos Bancários