Rubia Zelina
Roberto von der Osten comenta problemas como a terceirização e automação

Em entrevista, o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, faz um balanço dos resultados da 17ª. Conferência Nacional dos Bancários, realizada entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, e fala dos próximos passos da Campanha 2015, como a entrega da minuta à Fenaban, nesta terça-feira (11), em São Paulo. Roberto comenta ainda problemas enfrentados pela categoria como a terceirização e automação.

Para o presidente da Contraf-CUT, os trabalhadores terão de fazer “uma grande campanha nacional contra os banqueiros para manter o ciclo de ganho real que acumulamos há 11 anos e, numa outra ponta, lutar em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da nossa frágil democracia, colocados em risco pela crise política que o Brasil vive.”

Pergunta – Quais foram os principais resultados organizativos da 17ª. Conferência Nacional dos Bancários?
Roberto von der Osten – Nós reformatamos a Conferência Nacional. Mantivemos os painéis no primeiro dia da conferência: um painel sobre as consequências da terceirização, depois um painel sobre reforma tributária e, por fim, um painel sobre o sistema financeiro voltado para o papel do crédito e as consequências da sua retração. No terceiro dia da Conferencia, na plenária final, o debate estava mais politizado e melhor qualificado. Avaliamos que tivemos um grande produto final qualitativo no evento, tanto nos debates quanto nas propostas. Além disso, as correntes políticas não precisaram estender suas análises de conteúdo de propostas pela madrugada adentro. Um ganho organizativo. Essa foi a 17 ª Conferência com o formato em que os delegados são eleitos nos sindicatos, depois participam de conferências nas federações, antes de participarem da Conferência Nacional. Antes de iniciar este ciclo de 17 anos, havia encontros abertos de bancários, tanto nas federações quanto nacional, mas havia muita dificuldade para quantificar a representatividade de cada proposta ou para formatar uma minuta de reivindicações. Eram encontros muito mais de mobilização do que de formulação de propostas, representativos, técnicos e politizados, como os que fazemos hoje. Cada federação representa-se segundo o número de trabalhadores associados nas suas entidades filiadas. Isso foi um diferencial para a nossa conferência, que só vem crescendo em importância há 17 anos.

P – Como você avalia que foi o debate da terceirização no grupo que discutiu “Emprego”?
Roberto – Estamos vivendo um momento de intranquilidade pela movimentação no Congresso Nacional de um projeto de lei que permite a terceirização total dos empregos. Já é um fato colocado, no cenário brasileiro, a disputa que existe entre os trabalhadores e os patrões relativa à terceirização. Ela já existe na atividade meio há muito tempo. Lutamos contra ela, mas já está colocada no sistema financeiro há muitos anos. Existe terceirização nas questões de segurança, limpeza, conservação, manutenção, setores de transporte e de valores. Além disso, está implantada em uma série de outros serviços no sistema financeiro. A gente combate, mas convive com isso. Buscamos trazer direitos para esses trabalhadores, que são representados por outros sindicatos e por serem de outras categorias, logo, temos impedimentos legais para negociar por eles.

P – E a discussão sobre o sistema financeiro?
Roberto – Fizemos este debate focado na perspectiva do crédito. Discutimos sobre o quanto é ruim nesse momento um plano de austeridade fiscal que retira recursos da sociedade e transfere esses recursos, principalmente, para os banqueiros, através da ampliação da taxa Selic, que remunera os títulos em poder dos bancos. Fica muito mais atrativo ao banco colocar seus recursos no rentismo do que emprestar, dar crédito com menores taxas para o desenvolvimento da sociedade, gerando emprego e renda, desenvolvimento sustentável e inclusão social. Convidamos para apresentar depoimentos, representando os trabalhadores da indústria metalúrgica, o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM, Paulo Caires, um setor que está em grande crise de queda da produção industrial. Convidamos também, representando a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços, Contracs, o seu presidente Alci Matos Araujo. E para posicionar o painel com a visão da CUT, o secretário-geral Sérgio Nobre.

P – Como foi elaborada a minuta com as reivindicações da categoria?
Roberto – A nossa minuta do ano passado foi debatida nos sindicatos e nas conferências das Federações, sendo apontadas as propostas de alteração para a campanha 2015. Estas foram sistematizadas por uma equipe técnica de assessores. Apresentadas para os grupos de trabalho da Conferência, foram debatidas e votadas para serem remetidas à Plenária Final. Basicamente continuou no mesmo formato, com 129 artigos, que serão negociados exaustivamente com a Fenaban. Esta minuta resulta hoje numa convenção coletiva com 68 cláusulas contratadas com os banqueiros. Temos de avançar bastante ainda. Depois de aprovada pela Conferência Nacional, a minuta foi analisada pelo departamento jurídico da Contraf-CUT e feitos os ajustes necessários. Foram refeitos os ajustes de numeração dos artigos e a linguagem. Ela foi submetida aos sindicatos, que efetuaram suas assembleias, segundo orientação jurídica da Contraf-CUT, para aprovação. Dia 11 de agosto será feita a entrega simbólica e será proposto à Fenaban uma negociação já a partir da próxima semana. Queremos ter o primeiro contato de negociação e estabelecer imediatamente um calendário de negociações.

P – Quais os pontos que a Conferência Nacional reafirmou?
Roberto – Ela reafirmou o espirito do que nós inventamos há 30 anos, em 1985, quando construímos o Departamento Nacional dos Bancários da CUT, e que hoje está ampliado para uma miríade de forças políticas. Reafirmou a unidade nacional. Nós aprovamos na conferência uma mídia com a cara da campanha nacional, palavras de ordem e peças que vão permitir uma grande unidade. A população, toda a sociedade, o banqueiro e todas as categorias vão enxergar como uma campanha única do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Do Amazonas até o litoral do Atlântico. Nós fazemos uma campanha só, com uma mesa única que negocia com a Fenaban, desdobrada em outras mesas concomitantes em bancos federais e que tem um calendário único no Brasil todo. Que tem uma cara única. Essa unidade nacional permitiu que a gente construísse uma mobilização nacional impressionante. A cada ano, o número de locais de trabalho que a gente paralisa amplifica. Para se ter uma ideia, em 2014, no último dia de paralisação, quando nós fizemos as assembleias que aceitaram as propostas feitas pelos banqueiros e o movimento sindical as considerou suficientes para a conjuntura, nós paralisamos 10.155 agências das 23.107 que existem hoje. É um número fabuloso, se consideramos que as que não paralisaram, na sua maioria, foram agências muito distantes dos grandes centros, as mais difíceis de aderir, de paralisar, de pequenas cidades. As grandes cidades tinham um número muito grande de paralisação.

P – Explique a importância da unidade na atual conjuntura?
Roberto – Sobre a questão de unidade nacional, eu quero lembrar que, hoje, o comando nacional representa a vontade política de cerca de 90% dos bancários do Brasil, organizados em várias forças políticas e ideológicas e em várias centrais sindicais. Essa capacidade de construir a unidade na diversidade tem sido uma demonstração de maturidade do movimento sindical. Nós temos diferenças na política, mas a nossa ação sindical possibilita uma negociação muito forte, uma mobilização mais forte ainda e um resultado vitorioso. Isso tem sido expresso nessa capacidade de a gente avançar dentro da diversidade política. Esta tolerância em relação às diferenças é que permite que os debates nas assembleias de cada sindicato, nas conferencias em sindicatos de base estadual e nas federações acumulem para o grande final – a Conferência Nacional. Cada uma delas tem a segurança de saber que o que foi discutido localmente, seja a conjuntura, a minuta, ou as reivindicações, terá seu espaço garantido no debate nacional. Não importa se é uma grande entidade ou uma entidade de menor porte, todas tem sua presença garantida.

P – O que a análise de conjuntura apontou?
Roberto – Apontou para uma pauta apropriada a uma situação de crise política que vivemos hoje. Com toda essa análise, chegamos à conclusão do nosso índice, nossa PLR e a estratégia a ser reivindicada. A análise de conjuntura apontou o seguinte: temos uma crise política instalada no Brasil provocada por setores inconformados com o resultado da eleição no ano passado, organizados pela grande mídia e por parte das elites. Esses segmentos vêm fazendo um grande esforço para desestabilizar o governo federal e criar uma situação de caos que conduza a uma crise econômica. Nós tememos que chegue à possibilidade de uma crise social. Esse é um cenário ruim. Significa que vamos ter de fazer novamente uma campanha nacional em duas frentes: vamos ter que enfrentar os banqueiros para manter o ciclo de ganho real e vamos ter que lutar contra os que querem golpear a democracia e retirar nossos direitos.

P – Qual a avaliação do quadro político no momento?
Roberto – A democracia no Brasil é muito frágil, está sob risco. São visíveis as tentativas de golpes midiáticos e político. Vamos enfrentar tudo com mobilização e criatividade. Por outro lado, constatamos, em meio a toda a crise que se diz instalada no Brasil – radicalizada pela mídia e muito acima da verdadeira crise econômica – que nossos patrões tiveram no primeiro semestre lucros fantásticos. E quando fechou o segundo trimestre, nós vimos que os lucros dos bancos são impressionantes. Eles estão acima da compreensão do bancário, acima da compreensão da sociedade. Para os banqueiros, é desviada uma parte impressionante dos recursos da sociedade, através de uma estratégia perversa de um ajuste fiscal. Elevar a Selic, que agora chega no patamar de 14,25%, torna os títulos e valores imobiliários, corrigidos pela taxa, extremamente apetitosos e atraentes para o rentismo, para aqueles que tem dinheiro e não querem investir na produção, não querem investir no desenvolvimento, não querem investir na geração de emprego e geração de renda. Essas pessoas transferem seu dinheiro para o rentismo e drenam parte dos recursos da sociedade sem produzir absolutamente nada. Nesse cenário, está o lucro dos bancos. Nós vimos o Bradesco fechando o semestre com 8 bilhões de reais de lucro. O banco teve um crescimento de 20,6%, em relação ao período do ano passado. O Itaú lucrou 11,9 bilhões. O Santander, 3,3 bilhões. E se olharmos nos últimos doze meses, o Bradesco diminuiu 5.125 mil postos de trabalho. O Itaú, 2.932 postos de trabalho. Então, estão na contramão do que deveria estar acontecendo. Os bancos estão ganhando muito dinheiro e estão empregando menos, distribuindo menos renda. E impedindo que a sociedade transponha esse momento de crise política, transformando-a em crise econômica. Os bancários, nessa campanha que vamos iniciar, disseram para nós, numa consulta que fizemos com 48 mil dos 511 mil bancários do Brasil – quase 10%, uma amostragem forte -, que nossa principal preocupação é o emprego.

P – E porque os bancários estão preocupados com o emprego?
Roberto – Porque nós temos um Congresso Nacional hoje financiado pelos empresários do Brasil. Ou seja, o capital sequestrou a democracia e a colocou a seu serviço. Nesse cenário, começa a ser aprovado uma pauta contra os trabalhadores. O projeto de terceirização que passou na Câmara e está no Senado agora é um projeto de lei que terceiriza atividades fins. Com isso, os bancos não precisam ter emprego direto. E nós sabemos o que isto significa: redução de salário, redução de direitos, redução de auxílios e benefícios. Tem ainda a questão de automação. Toda a sociedade assiste a uma progressão das facilidades tecnológicas, que retiram a necessidade de que o cliente vá até a agência. Claro que isso é desejável. Ninguém gosta de ir a uma agência que tem poucos empregados e que, por isso, atende mal. O bancário não consegue atender todo mundo. Porque isso tem filas, há superlotação. As pessoas preferem pegar seu celular e fazer ali as transações. Mas isso vem reduzindo o número de trabalho na sociedade. É um debate que estamos fazendo com os banqueiros, que tem assustado o trabalhador e a trabalhadora bancária. Por último, no nosso cenário, tem a aquisição do HSBC pelo Bradesco. Vinte e um mil trabalhadores estão intranquilos neste momento porque não sabem o que vai acontecer com seu emprego amanhã. Então, este é um cenário de tensão política, de insegurança em relação ao emprego da trabalhadora e do trabalhador. Mas os bancos vão bem, seus lucros são estratosféricos. Esse é o quadro no qual vamos disputar nossa Campanha Nacional. Temos certeza de que, com a nossa histórica unidade nacional, com a nossa combatividade, com a nossa forte capacidade de mobilização e, principalmente, com a colaboração de todos e todas as bancárias da nossa estrutura sindical democrática organizada pela base, vamos chegar ao término da Campanha Nacional de 2015 com uma grande vitória. Vamos produzir nosso ganho real e avançar no debate responsável e coerente com o patrão a respeito das questões de saúde, segurança e igualdade de oportunidades. Tenho certeza que vamos proteger o emprego dos trabalhadores e distribuir a renda do banqueiro para a sociedade através de uma ampliação do nosso salário e de ganho real. Quando você retira dinheiro dos lucros dos bancos e o coloca para os bancários, você está colocando dinheiro no comércio, na indústria, nos serviços, e estimulando essa correia de distribuição de emprego e renda. Quando os recursos ficam concentrado no banqueiro, na contramão, há o desemprego e o empobrecimento da sociedade. Nós queremos ajudar a retomada do desenvolvimento e o crescimento da economia brasileira.

Fonte: Contraf-CUT