O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cobrou dos bancos privados a redução das taxas de risco (spreads) cobradas nos empréstimos, que, segundo argumenta, se descolaram da trajetória dos juros futuros.

A cobrança, em tom amistoso, foi feita por Meirelles em resposta ao pedido do representante da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Marcio Cypriano, para que o governo antecipe a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), atendendo à expectativa do mercado de redução da taxa básica de juros Selic.

"Vamos falar seriamente, o problema não é a Selic, é o spread bancário", disse Meirelles, em resposta à demanda do presidente da Febraban, feita durante uma reunião com líderes empresariais e representantes do governo, convocada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os representantes das indústrias de máquinas e equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto e da construção (CBIC), Paulo Safady Simão garantem que Meirelles prometeu estudar a proposta de antecipação do Copom, que se reúne em 20 e 21 de janeiro. Essa foi uma das principais reivindicações ouvidas ontem na reunião de avaliação da crise econômica realizada no Ministério da Fazenda.

Aubert Neto chegou, durante a reunião, a perguntar a Meirelles por que as taxas de juros do Brasil são as mais altas do mundo. Mantega interveio, argumentando que o tema não seria discutido na reunião, mas Meirelles fez questão de responder à pergunta. Argumentou que o alto nível da demanda por mercadorias no Brasil e os índices de inflação próximos ao teto da meta fixada pelo Copom mostrariam que as taxas de juros não são excessivas, principalmente se levada em conta a expansão de 30% no crédito, no ano passado.

A pressão do setor privado pela redução dos juros e pela desoneração tributária integral dos investimentos marcou o evento, mas os empresários saíram sem uma resposta objetiva do governo. Essas reuniões de avaliação passarão a ser mensais. Aubert comentou que um pedido de representante dos bancos para baixar juros é, na sua opinião, "um milagre".

O vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, José José de Freitas Mascarenhas, comentou, à saída, que concordava com a avaliação de que o maior problema no Brasil, hoje, não é a Selic, mas os spreads bancários. Disse temer, porém, que as incertezas no mercado financeiro dificultem a queda nas taxas de risco.

Na reunião, Mantega afirmou aos empresários que o governo não vai se intimidar com alguma pequena queda na arrecadação e sabe que tem de desonerar. O IPI é um dos impostos que serão reduzidos, segundo disse.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, também participou da reunião e levou uma mensagem otimista. Os representantes das indústrias de alimentos, Edmundo Klotz, e do grupo Pão de Açúcar, Jorge Herzog, deram ao governo relatos "extremamente favoráveis" dos dois setores no fim do ano passado e no atual momento.

Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), destacou a importância do seu setor ao receber importantes investimentos do governo e, dessa maneira, realizar o papel do efeito anticíclico na crise. Isso significa aplicar mais recursos públicos no momento de forte recuo do investimento privado. Segundo o seu relato, os empresários defenderam mais segurança jurídica para que acordos setoriais com sindicatos de trabalhadores para evitar, den tro do possível, demissões.

Os empresários saíram da reunião dizendo que está praticamente pronto o pacote habitacional que pode ser anunciado ainda neste mês. O objetivo, segundo Simão, é facilitar o crédito para que uma pessoa de baixa renda compre sua casa própria. No âmbito dessas medidas, espera-se um ataque ao déficit habitacional, a ampliação das concessões de rodovias, um novo grupo de obras em estradas, portos e ferrovias, o trem bala Rio-São Paulo e um conjunto de mobilidade urbana (transportes) para as 12 cidades que vão receber jogos da Copa de 2014.

O principal ponto do pacote habitacional é o programa que vem sendo chamado de Habitação de Interesse Social (HIS). A idéia do governo é financiar, em 2009, 900 mil residências, o que significa aumento de 50% sobre esse segmento do crédito em 2008. No ano passado, o volume emprestado foi de cerca de R$ 30 bilhões.

Fonte: Valor Econômico / Arnaldo Galvão e Sergio Leo