Crédito: Jailton Garcia
Jailton Garcia
Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT, na abertura do 23º Congresso dos Funcionários do BB

Rede de Comunicação dos Bancários (*)

"Apesar da crise lá fora, no Brasil estamos vivendo um momento fértil para o movimento sindical avançar rumo a novas conquistas, porque o país está crescendo e gerando empregos, sendo já a sexta maior economia mundial, e os bancos continuam lucrando como nunca." A avaliação foi feita nesta sexta-feira (15) à noite pelo presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, na abertura do 23º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, que está sendo realizado em Guarulhos, na Grande São Paulo, com a participação de 301 delegados, eleitos em encontros estaduais ou assembleias, além de 12 observadores.

"Mas se o Brasil é a sexta maior economia, também é verdade que somos o décimo país com a pior distribuição de renda no mundo, o que nos coloca o desafio de reduzir essa concentração da riqueza com aumentos reais de salários e novas conquistas econômicas e sociais para os trabalhadores", acrescentou Carlos Cordeiro.
O presidente da Contraf-CUT informou ao plenário do funcionalismo do BB que o Comando Nacional dos Bancários está sugerindo quatro eixos para a campanha deste ano:

1. Emprego – "Precisamos acabar com a rotatividade no sistema financeiro, que é uma forma de reduzir salários e aumentar a concentração de renda, e exigir mais contratações".

2. Remuneração – "Queremos transformar o crescimento econômico do país em desenvolvimento, com valorização dos salários e desconcentração da renda".

3. Saúde, condições de trabalho e segurança bancária – "Os bancários estão sendo massacrados com as metas abusivas e o assédio moral. Precisamos acabar com isso, assim como com os assaltos na saidinha de banco, que causaram 49 mortes no ano passado".

4. Brasil precisa de outro sistema financeiro – "Apesar de, pela primeira vez, o governo federal está comprando a briga para os bancos baixarem os juros, os banqueiros resistem. Não reduzem os juros e ainda aumentam as tarifas. O governo precisa convocar uma Conferência Nacional do Sistema Financeiro, onde a sociedade possa discutir e decidir qual o banco que queremos".

‘Conquistas vêm com unidade’

Carlos Cordeiro também defendeu na abertura do 23º Congresso dos Funcionários do BB a união de todas as forças na campanha nacional deste ano. "Quanto maior for o nosso grau de unidade, maiores serão nossas conquistas", afirmou o presidente da Contraf-CUT, fazendo uma saudação especial ao representante da CSP- Conlutas na mesa, Dirceu Travasso (o Didi), e convidando a corrente a participar da 13ª Conferência Nacional dos Bancários, que será realizada em Curitiba de 20 a 22 de julho.

Em seu pronunciamento, Didi fez uma avaliação da crise econômica mundial ("é um erro achar que o Brasil está livre dessa crise") e disse que um dos elementos centrais do que está acontecendo nos países atingidos refere-se à democracia e à busca de novas formas de organização. "É preciso incentivar a participação das bases e respeitar as diferenças", defendeu.

Silmara Pereira, representante da Intersindical na mesa e da Fetec Santa Catarina na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, propôs a "busca do consenso fazendo debates" e disse acreditar que "existe política além das correntes, que é importante para conquistar avanços".

Unir as categorias

Representando a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jacy Afonso, atual secretário nacional de Organização da central, disse que é preciso uma ação conjunta de todas as categorias para avançar nos acordos coletivos de trabalho. "Os bancários, os petroleiros, os metalúrgicos e os servidores públicos precisam caminhar juntos".

Jacy citou dados de uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo a qual o número de greves durante os oito anos do governo Lula foi o dobro das paralisações ocorridas nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. "Conquistamos aumento real de salário nos dois mandatos do governo Lula, enquanto que FHC adotava a famigerada prática do abono salarial", lembrou.

BB Público de Verdade

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Juvandia Moreira, parabenizou o tema do 23º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (BB Público de Verdade), ressaltando o momento oportuno para questionar o papel do sistema financeiro.

"Temos atualmente nos bancos públicos a pressão, assédio moral e sobrecarga de trabalho semelhante ao que é presenciado nos bancos privados. É nosso dever também forçar os bancos privados a cumprirem seu papel e a prova de que estamos em sintonia com o momento atual em que a própria sociedade discute e questiona o papel do sistema financeiro é a escolha do tema do Congresso para fomentar os debates", afirmou Juvandia.

A presidenta ainda lembrou que os bancos aumentaram em 41% os juros entre maio de 2011 e maio de 2012 e ampliaram seus lucros em 16% em relação ao ano anterior.

"Para os trabalhadores só cresce a sobrecarga de trabalho. Os bancos aumentam seus provisionamentos para camuflar os lucros e reduzir a Participação nos Lucros e Resultados dos bancários. Neste Congresso temos a oportunidade de fazer o debate sobre o sistema financeiro que queremos e para isso precisamos continuar a luta e fortalecer a unidade para transformar nosso local de trabalho e a sociedade", concluiu Juvandia.

Enfrentamento e disputa

O presidente do Sindicato do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, representante da corrente Articulação Sindical, destacou que o atual momento é de enfrentamento e disputa. "Esse modelo que aprofunda as desigualdades precisa ser substituído por um que distribua renda".

Ao destacar a importância da unidade da categoria, Carlos Eduardo lembrou que os sindicatos estão realizando consultas para identificar as demandas do funcionalismo. "Essas informações apontarão a unidade bancária", acrescentou. Ele defendeu a redução do spread bancário e dos juros. Ao final, o dirigente sindical conclamou os trabalhadores a participarem ativamente da Campanha Nacional deste ano. "Vamos à luta".

Representante do Fórum do Interior e da Feeb RJ/ES na Comissão de Empresa, Sérgio Farias saudou todos os participantes do 23º Congresso e pediu que o debate de ideias seja feito de forma franca, honesta e livre. "Estamos todos aqui reunidos em nome da liberdade", afirmou.

Citando a atual crise financeira internacional e a reação hostil da Febraban para o pedido do governo federal de redução dos juros, José Souza de Jesus, representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), citou trecho da música Babylon, do cantor e compositor Zeca Baleiro: "Nada vem de graça. Nem o pão, nem a cachaça".

Discutir com a sociedade

Ronaldo Zeni, representante da Fetrafi-RS na Comissão de Empresa e da corrente CSD (CUT Socialista e Democrática) ressaltou que o debate estratégico que deve ser feito no Congresso deve levar em conta o modo como podemos influenciar a sociedade.

Segundo o sindicalista, apesar do enfrentamento do governo contra os bancos pela redução dos juros, o que se observa na prática é que não ocorre nenhuma queda dos juros. "Só vamos mudar o sistema financeiro quando tivermos um Banco do Brasil voltado para o desenvolvimento social e não para a venda de produtos e a exploração aos trabalhadores, como acontece atualmente", afirmou.

Para ele, o BB de verdade é aquele que põe fim ao assédio moral e traz desenvolvimento e lucro à sociedade. "Para que isso aconteça precisamos buscar a unidade para discutirmos todas as questões juntos e aglutinar os consensos entre os trabalhadores", conclui.

Para Jeferson Boava, presidente do Sindicato de Campinas, representante da Feeb São Paulo/Mato Grosso do Sul na Comissão de Empresa e da corrente Unidade Sindical, "é preciso focar e reunir as propostas que nos fortalecem na luta para que façamos a unidade dos funcionários do BB e transformemos as discussões numa grande campanha que nos tornem mais fortes e vitoriosos".

O diretor do Sindicato dos Bancários de Guarulhos, João Cardoso, anfitrião do Congresso do BB, saudou a todos os presentes "para que tenham um excelente evento na cidade" e ressaltou que está convicto da luta que deve ser realizada pelos funcionários do Banco do Brasil para levar as melhores propostas para a mesa de negociação com os banqueiros. "Precisamos da solidariedade para construir pautas positivas e para isso precisamos sair unidos para o enfrentamento ao capital e aos bancos", afirmou João Cardoso.

Estiveram ainda presentes à abertura do 23º Congresso dirigentes da Cassi (a diretora eleita de Planos de Saúde Mirian Fochi e o conselheiro deliberativo eleito Milton dos Santos Rezende), da Previ (o diretor de Seguridade eleito Marcel Barros e o conselheiro deliberativo eleito Rafael Zanon), da Anabb (o presidente do Conselho Deliberativo João Botelho e os vice-presidentes Fernando Amaral e Tereza Godoy), e da Apabb (Roberto Tiné e Silvani Pinheiro Varjão).

Análise de conjuntura e reuniões de grupos
O 23º Congresso prossegue neste sábado 16 com uma análise de conjuntura a ser feita pelo Dieese, na parte da manhã, e reuniões de grupos à tarde sobre os seguintes temas:

1 – Remuneração e condições de trabalho;
2 – Saúde e Previdência;
3 – Organização do movimento;
4 – Banco do Brasil e o SFN.

A Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, que assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco, sistematizou as propostas aprovadas nos eventos preparatórios, a fim de identificar e organizar os consensos e as polêmicas. Também foram analisadas as sete teses inscritas, verificando igualmente os pontos convergentes e os divergentes, a fim de facilitar os debates.

O Congresso termina no domingo com a plenária final.

(*) José Luiz Frare, Júnior Barreto e Rodrigo Couto