Crédito: Jailton Garcia
Jailton Garcia
Stephen Lerner falou no seminário que abriu 3º Congresso da Contraf-CUT

O Seminário Internacional "Regulação do Sisteme Financeiro" contou, na tarde desta sexta-feira (30), durante o 3º Congresso da Contraf-CUT em Guarulhos (SP), com a presença de Stephen Lerner, um dos líderes do movimento Occupy Wall Street, que questiona a desregulamentação do sistema financeiro e os benefícios concedidos pelo governo dos Estados Unidos para as grandes corporações. 

O ativista é dirigente da Service Employees International Union (Seiu), entidade norte-americana filiada à UNI Sindicato Global. Ele apresentou um panorama da atual situação do movimento nos EUA, que desenvolveu novas formas de confronto com os bancos e está reavivando a mobilização social no país. Lerner defendeu como fundamental a participação dos bancários nos próximos passos do processo para cobrar uma atuação ética dos bancos.

"Queremos que os bancários comecem a se organizar nos EUA e cobrar dos bancos melhores salários e condições de trabalho, mas também um sistema financeiro mais justo. Queremos que os bancários sejam líderes por mais ética no sistema financeiro", afirmou. A intenção, no entanto, esbarra na baixa organização dos funcionários de bancos nos Estados Unidos. As taxas de sindicalização no setor são baixíssimas, fruto das intensas práticas antissindicais utilizadas pelos bancos.

O movimento que começou em setembro de 2011 vem desafiando os influentes e poderosos do Wall Street e a estrutura de poder concentrada nas mãos de poucos. A concentração da riqueza e do poder vem sendo consolidada desde a década de 1970 no mundo e, neste período, os sindicatos foram destruídos nos Estados Unidos. "A organização sindical praticamente inexistente no país. Apenas 7% dos trabalhadores são sindicalizados", salientou Stephen.

Neste mesmo período, os trabalhadores foram se endividando para financiar especialmente suas casas. "Os indivíduos tiveram que emprestar cada vez mais, o que gerou o colapso financeiro em 2007. Hoje os indivíduos devem cerca de US$ 11 trilhões aos bancos. Enquanto isso, os bancos receberam do governo US$ 13 trilhões para financiar as dívidas", afirmou.

O colapso financeiro impactou diretamente as pessoas mais vulneráveis social e economicamente. "As pessoas viram 50% de suas riquezas desaparecerem do dia para a noite, a riqueza de uma vida. Vidas e famílias foram destruídas", destacou Stephen.

"Nós compramos o mito de que a culpa por perdemos nossos empregos é nossa e se somos pobres temos a responsabilidade por isso. Com este estigma, quando a crise chegou, as pessoas ficaram paralisadas", disse o ativista. "Aconteceu o pior: aqueles que quebraram a economia dos EUA e do mundo foram para o ataque e assumiram o discurso de que os culpados eram as organizações de trabalhadores, as pessoas pobres que estariam recebendo excessivos benefícios do governo, inclusive criticavam o governo por um teórico excesso de regulamentação".

Diante desta paralisia e da pouca efetividade dos sindicatos nos Estados Unidos surgiu o movimento Occupy. "Utilizamos a ideia de que somos 99% das pessoas e que o problema da crise estava no 1% restante. Isso tocou as pessoas no sentido de entenderem que a crise não era responsabilidade delas. As pessoas começaram então a aderir e isso inspirou nossas ações", explicou.

Stephen explica qual o significado do Occupy. "Este movimento não quer dizer que vamos ocupar o governo ou as instituições financeiras. Significa apenas que vamos até a barriga da besta, onde está a causa do problema. Vamos até onde estão os caras maus, as pessoas que estão pilhando o mundo e vamos lutar contra eles", disse.

Além disso, focou que a ação do movimento permanecerá o quanto for necessário. "No fim do ano passado a polícia entrou no acampamento de madrugada, espancou e intimidou as pessoas. O acampamento foi desmantelado. Mas a nossa luta já havia tocado as pessoas e a mobilização já tinha espalhado para todo o país. Algo aconteceu e a mobilização do Occupy se espalhou nas comunidades, em outras mobilizações e movimentos sociais. Nós estamos desafiando os poderosos e isso é novo na história da humanidade", avaliou.

Consequências da crise e resistência

Uma das consequências da crise é que as pessoas, por não conseguirem arcar com a dívida da compra da casa, estão sendo despejadas. O movimento tem agido em pelo menos três frentes de mobilização. Primeiro, no momento do despejo, o movimento se mobiliza e faz resistência ao despejo. "Estamos nos mobilizando para tentar impedir a polícia de tirar as pessoas de suas casas".

Além disso, o movimento tem reocupado as casas esvaziadas. "Casas e bairros inteiros estão de deteriorando por conta do abandono. Então estamos reocupando estes espaços, limpando a sujeira e levando para frente das instituições financeiras", contou. O Occupy tem levado móveis dos despejados para dentro dos bancos. "Queremos mostrar para eles o mal que estão fazendo às pessoas".

Não bastassem os despejos, o governo cortou também recursos para o sistema de ensino. "Os formandos saem endividados da universidade. Hoje o endividamento geral chega a US$ 1 trilhão", explicou. Stephen relata que os estudantes estão organizando uma espécie de greve e se recusam a pagar as dívidas aos bancos.

Desafio ao Poder

Stephen ressaltou que é necessário estabelecer o espírito de luta nos Estados Unidos e afirmou que o movimento Occupy vem estabelecendo novas formas de manifestação e novas maneiras de desafiar o poder. "Vamos confrontar fisicamente os ricos. Porque os trabalhadores não podem desafiar de outra forma. Não queremos ser seus escravos de dívida para a vida toda. Queremos nos levantar e ter uma vida digna".

O líder do movimento defendeu que é necessário estimular a imaginação das pessoas para que se tornem capazes de construir um mundo de oportunidades para os trabalhadores. "Precisamos reverter os últimos 30 anos de história mundial e o Occupy é o começo de uma marcha para um mundo de justiça", frisou.

Uma das novidades nas intervenções do Occupy é o uso do humor e da diversão. "Temos que tentar fazer coisas novas, usar as novas mídias sociais e a criatividades nestas ações, só assim poderemos vencer os poderosos", salientou Stephen.

Stephen contou ainda que na próxima semana o movimento deve mobilizar cerca de 100 mil pessoas para que passem por um treinamento para as próximas atividades de mobilização. "É um treinamento para executar ações não violentas, como ocupar ruas e lugares, como lidar com a ação violenta dos policiais, por exemplo. Precisamos nos engajar em atividades que desafiem os poderosos, temos que fazer parte, temos que ter voz", concluiu.

Fonte: Contraf-CUT

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