A eficácia do aperto monetário deflagrado pelo Banco Central (BC) em dezembro poderá ser melhor avaliada amanhã, quando o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, divulgar o Boletim Regional da instituição. A apresentação do documento, focado em dados e indicadores regionais, atualizará informações sobre operações de crédito a nível nacional. Novos dados sobre o crédito, possivelmente fechando o mês de janeiro, poderão quantificar os efeitos do aumento de requisição de capital imposto aos bancos para operações junto a pessoas físicas com prazo superior a 24 meses.
 

Essa medida foi anunciada no início de dezembro, quando o BC também elevou as alíquotas de recolhimento compulsório bancário que está chegando a um novo patamar. Falta pouco para que a soma dos recursos mantidos pelas instituições no BC alcance R$ 400 bilhões. Esse saldo é praticamente o dobro do total registrado no final de 2009. Dois meses antes, portanto, de o BC avançar na reversão das medidas adotadas após a crise financeira global de 2008 e que foram responsáveis pela liberação de aproximadamente R$ 100 bilhões que ajudaram a evitar o estrangulamento do crédito no país em reais. Uma ideia do efeito contracionista do compulsório ampliado é dada pela evolução dos depósitos, num ritmo bastante inferior ao do saldo dos compulsórios. De dezembro de 2009 a dezembro de 2010, os depósitos à vista nos bancos cresceram 9,4%; os depósitos a prazo, 14,3%; e os depósitos em poupança, 18,5%.

Há um ano, o BC iniciou o processo de recomposição das alíquotas dos compulsórios. Em junho passado, o BC compatibilizou o compulsório sobre depósitos à vista às regras de direcionamento do crédito rural. Ao estabelecer a redução gradual dos recursos direcionados ao crédito rural, o BC definiu um cronograma de elevação das alíquotas de recolhimento sobre depósitos à vista. A alíquota que passou de 42% para 43% em julho do ano passado, subirá a 44% em julho de 2012 e a 45% em julho de 2014. Essa programação foi definida há meses. Mas agora o mercado reflete sobre a possibilidade de o BC promover novos ajustes nos compulsórios, como uma forma de restringir ainda mais a disponibilidade de dinheiro em circulação e, por tabela, desaquecer o consumo. Tudo isso, mirando a convergência da inflação para o centro da meta. (Ler mais sobre expectativas na coluna Por Dentro do Mercado na página C2)

José Francisco de Lima Gonçalves, professor da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator , não vê, de pronto, novos ajustes nos compulsórios. "Em tese, o requerimento de capital [para o crédito de longo prazo para pessoas físicas] é mais eficaz porque mexe direto no capital do acionista. Isso significa, na veia, alteração na relação retorno sobre o patrimônio das instituições financeiras. Aquelas que não pretendem ampliar o capital tendem a reduzir os prazos das operações. Dessa forma esfriando o crédito que é o grande objetivo do BC, quando busca a convergência da inflação para a meta. É difícil quantificar o impacto do requerimento de capital, mas é possível afirmar que a combinação de maior compulsório com maior requerimento de capital leva à seguinte equação: mais dinheiro saiu do mercado de um lado e, de outro, mais dinheiro deixou de entrar no mercado, com os bancos diminuindo o poder multiplicador das operações", explica.

De novembro para dezembro do ano passado, o compulsório bancário total cresceu quase R$ 82 bilhões e atingiu R$ 395,28 bilhões. No final de janeiro, o saldo era bem semelhante, de R$ 395,37 bilhões. Mas durante o mês esse montante chegou a superar R$ 414 bilhões. Do final de novembro para cá, a taxa Selic subiu 0,50 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A intensidade da atuação do Comitê de Política Monetária (Copom) nas próximas reuniões – a partir de março, porque em fevereiro o comitê não se reúne – dependerá da combinação de recolhimento compulsório maior e requerimento também maior de capital para o crédito mais longo e, adicionalmente, do corte no Orçamento esperado pelo mercado para os próximos dias – expectativa que já está fazendo preço no mercado futuro de juros, incentivando uma redução de prêmios na BM&F.

Os dados parciais das operações de crédito dos primeiros 12 dias de janeiro, divulgados no final do mês passado pelo BC, já mostravam queda de 8% na média diária das concessões para a parcela do crédito livre usado como referencial para a taxa de juros. As liberações para o consumo recuaram 3,5%, enquanto para as empresas a retração atingiu 11,3%, sendo que, nesse caso, a queda típica de início de ano foi mais forte. Outra consequência direta das medidas do BC foi a elevação dos juros. A taxa total subiu 2,9 pontos percentuais. Para o consumo, houve avanço de 4,5 pontos percentuais e, para o crédito produtivo, 1,5 ponto no crédito livre.

Em pouco mais de um mês, desde o anúncio das medidas macroprudenciais pelo BC em dezembro até meados de janeiro, a indicação era de que a média das concessões de crédito para aquisição de veículos caiu pela metade, passando de R$ 600 milhões ao dia para R$ 300 milhões – excluindo operações contratadas pelos bancos das montadoras. No mesmo período, o juro para a aquisição de veículos aumentou consideravelmente, de 23% para 27% ao ano. Os prazos das transações encolheram sensivelmente. Mais de 15%, recuando de 1.300 dias, ou 3,6 anos, para 1.100 dias, ou cerca de 3 anos.

O custo de captação dos bancos também teve alta significativa do final de novembro até a segunda-feira desta semana. O juro pago no CDI over passou de 10,64% para 11,14%; o juro do CDB prefixado de 30 dias passou de 10,66% para 11,14% ao ano também; e do CDB pré de 60 dias, de 10,80% para 11,40% ao ano.

 
Fonte:  Valor Econômico / Angela Bittencourt

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