A história de luta dos bancários na greve se mistura com muitas outras histórias. É o caso de Sebastião. Nesta semana, o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ernesto Izumi, foi abordado por um rapaz que contou passar dificuldades e pediu para usar o seu celular para falar com o irmão, no Rio de Janeiro. Era Sebastião Abílio (foto), que virou reportagem no site do Sindicato e na Folha Bancária.

Ernesto ligou, mas ninguém atendeu. Mais tarde, Ernesto recebeu o retorno de Manoel, irmão mais velho do rapaz. Manoel mora com a esposa e três filhos no Rio e procurava o irmão há quatro anos.

A angústia acabou. Ao falar por telefone com Ernesto, Manoel conseguiu contato com o irmão mais novo, correu para a rodoviária do Rio e veio de ônibus até São Paulo.

“Quando falei com o Ernesto eu fiquei desesperado, comecei a chorar ao saber que ele estava praticamente morando na rua, dormindo em um albergue”, relata Manoel, por telefone. “Marquei de encontrar ele na Praça da Sé. Quando cheguei lá, umas oito da manhã, foi fácil reconhecer ele”, conta.

Coincidentemente, o reencontro dos irmãos foi na Praça onde está o marco zero da cidade de São Paulo e é palco de lutas históricas dos trabalhadores, em especial da categoria bancária. Sebastião estava apenas com a roupa do corpo e uma mochila na qual carregava sua escova de dente, o creme dental e um sabonete. “Eu levei um tênis e uma roupa limpa. Na rodoviária ele tomou banho e se trocou pra gente voltar para o Rio de Janeiro”, comemora o irmão.

História difícil com final feliz

Sebastião, assim como Manoel e mais seis irmãos, nasceu em Recife. Aos 21 anos foi para o Rio de Janeiro. O irmão mais velho já estava na cidade carioca, com a família, e um amigo arrumou trabalho para Sebastião.

“Ele é um pedreiro de mão cheia, muito trabalhador!”, se orgulha o irmão. Depois de trabalhar em uma obra em Copacabana, resolveu tentar a vida em São Paulo, já que tinha em vista um boa oportunidade de emprego numa obra.

O destino foi traiçoeiro. Ele perdeu os documentos, foi demitido e não tinha como voltar ao Rio de Janeiro. Sua certidão de nascimento estava no Recife com a família. O rapaz de 39 anos ficou pelas ruas de São Paulo, passou fome, se envolveu com drogas.

Em março, durante passeio pela Rua 25 de Março, um colega reconheceu Sebastião. “Eles se abraçaram, choraram, mas com a falta dos documentos ficou com medo de trazer meu irmão e deixou o telefone com ele.”

Há cerca de um mês, Manoel veio a São Paulo na esperança de achar Sebastião. “Sabia que ele poderia estar no Centro, andei pela Luz, pela 25 de Março, Sé, fiquei com pé inchado, quase fui assaltado, mas não encontrei.”

Foi o papel com o número do celular do irmão e a sensibilidade do dirigente sindical que emprestou seu aparelho de telefone que salvou a vida do rapaz. “Eu agradeço o Ernesto e todos do Sindicato eternamente. Não tenho palavras para agradecer”, diz Manoel, emocionado. Para embarcar para o Rio, foi necessário assinar um termo de responsabilidade por conta da falta dos documentos.

“Quando o encontrei ele estava sujo, muito triste. Agora, está sendo bem cuidado em uma clínica de recuperação aqui no Rio, comprei roupas pra ele, levei para cortar o cabelo”, relata o irmão, orgulhoso.

Manoel trabalha em um depósito de móveis, tem 44 anos, mora no Rio há 18 anos e agora está com a família completa. “Ele quer dar a volta por cima e estamos do lado dele. Nossa família é muito unida e ele vai conseguir. O que vocês fizeram não foi só por ele, mas foi por toda nossa família”, agradece.

O lema estampado no brasão da cidade de São Paulo é “non ducor duco”, que significa “não sou conduzido, conduzo”. Uma ótima inspiração para o reinício da trajetória de Sebastião, que conduzirá seu próprio caminho daqui pra frente com a ajuda da família.

Mascote da greve

E não foi só Sebastião que foi “salvo” pela greve. O cãozinho Zé, vira-lata que vivia na rua, ganhou amigos, um nome e uma família.

O cachorro se aproximou dos dirigentes sindicais durante atividade de greve no Call Center do Santander, no dia 25 de setembro. Eles o batizaram de Zé e iniciaram uma campanha de adoção pelo facebook. O sucesso veio rápido e, no dia seguinte, já tinha seus mais novos melhores amigos.

Fonte: Contraf-CUT com Seeb São Paulo