O Piquete dos Bancários está completando 12 anos de participação no Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre. A porteira do galpão foi aberta em 28 de agosto, dia do bancário, e por causa do feriadão de 20 de setembro será fechada somente no domingo, dia 22. Trata-se de uma iniciativa cultural do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e da Fetrafi-RS, com apoio da Contraf-CUT, Agabesp e Grupo Isdra.

O Acampamento é o maior espaço de preservação da cultura gaúcha, que acontece desde 1987 no Parque da Harmonia e que recebe anualmente mais de 1 milhão de visitantes. Este ano o tema é “cultura regional: eu curto, eu cuido”. Ao todo, são 390 galpões montados por Piquetes e Centros e Departamentos de Tradições Gaúchas (CTGs e DTGs).

O local vira uma autêntica cidade campeira e conta com infraestrutura da Prefeitura, incluindo praça de alimentação, lojas, feiras, artesanato, padaria, açougues e mercados, além de contar pela primeira vez com uma guarnição do Corpo de Bombeiros.

Cada vez mais participantes

A estimativa de participação no Piquete dos Bancários é de “cerca de duas mil pessoas, incluindo bancários, seus familiares e amigos”, projeta o diretor do Sindicato e “patrão” Edson Ramos da Rocha, que nos últimos dois anos até dorme no sótão do galpão para não perder nenhum momento e recepcionar cada vez melhor quem se aprochega para curtir a cultura gaúcha.

“A cada ano que passa, cresce o número de frequentadores. Vejo que quem já participou costuma voltar no ano seguinte, trazendo mais pessoas. Assim nós contribuímos para manter viva a cultura regional e o legado dos farroupilhas, estreitar os laços de amizade e confraternizar”, salienta Edson.

O presidente do Sindicato, Mauro Salles, destaca que o Piquete é também um espaço de aproximação da categoria. “Diz o ditado que é na hora do aperto e da peleia que nascem aqueles tri parceiros. Assim acontece na luta da categoria contra os banqueiros e se repete nas parcerias que vamos conquistando no terreno da política e também da cultura”, destacou na solenidade de abertura da porteira.

Lugar de confraternização

A fumaça, o cheiro do churrasco, o chimarrão que passa de mão em mão e a velha hospitalidade gaúcha são algumas das marcas do Piquete. Muitos frequentadores usam a pilcha, a indumentária gaúcha. Os peões (homens) colocam botas, bombacha (calça larga), lenço no pescoço, guaiaca (cinturão com lugar para guardar dinheiro), faca e chapéu; e as prendas (mulheres) usam saias ou vestidos largos e compridos.

O galpão possui um fogão campeiro, onde nunca falta água quente para uma mateada. É também especial para fazer boas comidas, como um arroz carreteiro, feijão e vaca atolada. Há mesas e cadeiras em estilo rústico e um bolicho, onde o bancário pode comprar refrigerante, cerveja e uma canha buena (“cachaça da boa”). A churrasqueira é bem grande, onde tem sempre carvão aceso, pois a gauchada não para de churrasquear.

O galpão é ainda apropriado para tomar chimarrão, contar “causos” (histórias incríveis, mas todas verdadeiras) e jogar truco.

Espaço de cultura

O Piquete possui uma variada programação cultural, como a exposição “Humor de Bombacha”, do funcionário e chargista do Sindicato, Augusto Bier, retratando o cotidiano do gaúcho em situações comuns e inusitadas.

Há também música gauchesca, como foi a apresentação do grupo “Nem se vimos”, integrado por empregados da Caixa Econômica Federal. Outra atração é a noite da poesia com declamações de poemas sobre a história e a vida do gaúcho.

Este ano acontecem também duas palestras que visam resgatar um pouco da história do Rio Grande do Sul. Uma foi sobre os 90 anos da Revolução de 1923, um movimento ocorrido durante 11 meses em que pelearam, de um lado, os partidários de Borges de Medeiros, os chamados ximangos, que penduravam no pescoço lenços brancos, e, de outro, os aliados de Assis Brasil, que eram conhecidos como maragatos e usavam lenços vermelhos.

Segundo o historiador gaúcho Antônio Augusto Fagundes, a Revolução de 1923 “foi a última guerra gaúcha ‘de feudos, do coronelismo gaúcho’, fechando a trindade que se iniciara em 1835 e continuara em 1893”.

A exposição fotográfica “Álbum dos Bandoleiros – uma visão maragata da Revolução de 1923”, em parceria com o Museu de Comunicação Hipólito da Costa, pode ser conferida nas paredes do galpão.
Outra palestra retrata a história dos “Sete Povos das Missões e a Guerra Guaranítica (1750-56)”. Foi um verdadeiro massacre dos índios guaranis pelas tropas espanholas e portuguesas no sul do Brasil após a assinatura do Tratado de Madri, em 1750.

A agenda cultural tem ainda o 6º Torneio de Truco, disputado por duplas e trios. Trata-se do jogo de cartas mais popular entre a gauchada.

Peleando por Dignidade

Fundado em 20 de agosto de 2002, na gestão do presidente do Sindicato, Devanir Camargo da Silva, o Piquete é hoje um espaço consolidado. “Aqui os bancários podem curtir as lindas tradições do nosso pago e renovam ano a ano o orgulho de serem gaúchos e brasileiros”, destaca.

“Não podemos abrir mão de preservar as nossas raízes em tempo de globalização e aprender com as lições de bravura e combatividade de nossos antepassados para construirmos um mundo mais justo, humano e solidário”, salienta o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, que igualmente ajudou a fundar o Piquete e criou em 2009 o slogan “Peleando por Dignidade”, que hoje está estampado na bandeira e banners, assim como em camisas e casacos que podem ser adquiridos pelos frequentadores.

“O Piquete é um lugar apropriado onde os bancários de todas as origens, da Capital ou do Interior, se encontram para prosear, confraternizar e resgatar os valores de liberdade, igualdade e humanidade, cravados na bandeira do Rio Grande do Sul”, enfatiza o diretor do Sindicato e da Contraf-CUT, Paulo Stekel.

Chama Crioula

Mais uma vez, o Piquete fará a guarda a Chama Crioula, durante uma hora, no Galpão Central do Acampamento. Trata-se de um símbolo idealizado, em 1947, por jovens estudantes vindos do campo para Porto Alegre, que procuravam um espaço onde pudessem cultivar os sentimentos regionalistas.

Naquele ano, antes da extinção do fogo simbólico da Semana da Pátria, no dia 7 de setembro, Paixão Cortes e dois amigos retiraram uma centelha da chama e a conduziram de a cavalo ao saguão do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, onde ardeu em um candeeiro até a meia-noite do dia 20 de setembro. Hoje, esse símbolo está presente em todos os acampamentos, iluminando a cultura gaúcha para o Brasil e o mundo.

Desfile da Semana Farroupilha

O tema deste ano será “O Rio Grande do Sul no imaginário social”, contando lendas, contos, mitos, crendices e superstições do povo gaúcho. O desfile será apresentado em nove carros que passarão pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) no dia 19, às 21 horas.

A ideia é analisar a origem do gaúcho por outra ótica, diferente das já retratadas em anos anteriores. Segundo o professor Rogério Bastos, “pela mitologia regional gaúcha podemos ver a origem e ainda ‘viajar’ pelas batalhas e guerras que construíram esse ser, que hoje definimos por gaúcho”.

Fonte: Contraf-CUT com Seeb Porto Alegre e Fetrafi-RS

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